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quinta-feira, 13 de agosto de 2015

CONTRACANTO: AIS DA TARDE

Sábado passado Shirley invectivou contra a tarde: A tarde 
estava demorando muito a passar. Tudo bem, às vezes ocorre 
isso mesmo, alguma coisa que ansiamos não chega e o tempo 
se arrasta. 

Não chovia, não fazia frio nem calor excessivos, não havia um 
ruído irritante. Não, Shirley não se queixou de nada disso. 
Apenas o tempo demorava a passar. O que há por trás disso? 
A espera.  

Não foi especificado o objeto da espera, mas a espera de 
algum evento que mude nosso destino é sempre exasperante. 
E quando tudo depende de alguém que tarda, a aflição toma 
conta. 

Pode ser um juiz, um advogado, uma testemunha, o diretor 
da empresa, um professor... Não importa quem, há sempre 
um reboliço em nossas emoções. 

Mas quando se trata do ser amado... Ah! 
Aí é quando qualquer formiga se transmuta em um dragão! 
Contamos os nós num pingo d'água, vamos até onde o vento 
faz a curva e voltamos num segundo, o mundo se acaba 
várias vezes... E ele/ela não aparece! 

Nesses momentos não é aconselhável passar perto da Shirley, 
ela pode errar o alvo. Leia o poema: 

TARDE
Shirley
(2015.08.08)

"Estaciono o carro 

no meio-fio do silêncio 
e o vento audacioso de agosto 
desafia um gato que passa 
se esgueirando pelo muro rebocado 
pintado de cores sujas. 
Nada é definitivo 
nem essa espera 
nem essas horas de asas trincadas. 
Eu só preciso 
de um nutriente essencial 
para dar um ponta-pé 
nessa tarde que custa a passar..." 

   ***   ***   ***   

Ocupado em exames médicos, somente ontem pude atentar 
ao poema, e minha focalização caiu exatamente nessa espera 
do ser amado. Incorporei imediatamente o personagem que o 
poema da Shirley sugere, e eis-me esperando Godot não, digo 
melhor, Godeia. 

Nessa situação, os macaquinhos brincam livremente no sótão, 
e fantasmas e sombras diversas se aproveitam pra soprar suas 
infaustas e nefastas sugestões. As perspectivas para o futuro 
se enegrecem rapidamente e 
"nada é divino, nada é maravilhoso". 
Vejam a confusão instalada: 

AIS
tesco
(2015.08.12)

Nada é definitivo 

Nem mesmo essa longa espera 
Se fosse amena, quem dera! 
Porém tudo é aflitivo 
Quando eu voltava ela ia 
E não a encontro jamais 

A sanha de saber tudo 

Que duramente me assanha 
Faz renascer velha manha 
Que vai me deixando mudo 
Em meio a formas sombrias 
E proezas fantasmais 

Ando todo estonteado 

Não acho uma rota certa 
Ao destino de poeta 
Já me vejo condenado 
Sem topar com alegrias 
Mas recheado de ais 

E em meio ao vento forte 

Onde o sol jamais me brilha 
A devassar uma trilha 
Não encontro sul nem norte 
Somente pausa queria 
Nessas penas colossais." 

   ***   ***   ***   

O consolo é justamente a realidade do primeiro verso: 
Nada é definitivo! 
Pois sabemos que "não há mal que sempre dure, 
nem bem que nunca se acabe". 

Abraço do tesco. 

2 comentários:

Shirley Brunelli disse...

Estou aqui rindo, tesco... Eu não estava à espera de um importante evento, nem do ser amado. Fiz esse poema, dentro do carro estacionado, enquanto esperava uma pessoinha sair da aula de inglês rsrs...
Sua resposta está muito bonita.
Cuide da saúde!
Beijos!

Clara Lúcia disse...

Uma demora inquietante e um homem se colocando no meio disso tudo. Poderia ser a espera de um amor que nunca chega, e poderia ser um amor que nunca encontra seu repouso seguro... Quem sabe?

Boa semana pra vcs!