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sábado, 3 de novembro de 2018

A DECISÃO SÁBIA

"A DECISÃO SÁBIA 

Em tempos recuados, existiu um rei poderoso e bom, 
que se fizera notado pela sabedoria. 

Convidado a verificar, solenemente, a invenção de um 
súdito, cuja cabeça era um prodígio na matemática, 
compareceu em trajes de honra à festa em que o novo 
aparelho seria apresentado. 

O calculista, orgulhoso, mostrou a obra que havia 
criado pacientemente.  

Tratava-se de largo tabuleiro forrado de veludo negro, 
cercado de pequenas cavidades, sustentando regular 
coleção de bolas de madeira colorida. 

Acionadas por longos tacos de marfim, essas bolas 
rolavam na direção das cavidades naturais, dando ensejo 
a um jogo de grande interesse pela expectação que 
provocava. 

Revestiu-se a festa de brilho indisfarçável. 

Contendores variados disputaram partidas de vulto. 

Dia inteiro, grande massa popular rodeou o invento, 
comendo e bebericando. 

O próprio monarca seguiu a alegria geral, dando mostras 
de evidente satisfação. Serviu-se, ao almoço, junto às 
grandes bandejas de carne, pão e frutos, em companhia 
dos amigos, e aplaudia, contente, quando esse ou aquele 
participante do novo e inocente jogo conseguia posição 
invejável perante os companheiros. 

À tardinha, encerrada a curiosidade geral, o inventor 
aguardou o parecer do soberano, com inexcedível orgulho. 

Aglomerou-se o povo, igualmente, a fim de ouvi-lo. 

Não se cansava o público de admirar o jogo efetuado, 
através de cálculos divertidos. 

Despedindo-se, o rei levantou-se, fêz-se visto de todos 
e falou ao vassalo inteligente: 

— Genial matemático: a autoridade de minha coroa 
determina que sua obra de raciocínio seja premiada com 
cem peças de ouro que os cofres reais levarão ao seu 
crédito, ainda hoje, em homenagem à sua paciência e 
habilidade. Essa remuneração, todavia, não lhe visa 
sômente o valor pessoal, mas também certos benefícios 
que a sua máquina vem trazer a muitos homens e mulheres 
de meu reino, menos afeitos às virtudes construtivas que 
todos devemos respeitar neste mundo. Enquanto jogarem 
suas bolas de madeira, possivelmente muitos indivíduos, 
cujos instintos criminosos ainda se acham adormecidos, 
se desviarão do delito provável e muitos caçadores 
ociosos deixarão em paz os animais amigos de nossas 
florestas. 

O monarca fêz comprida pausa e a multidão prorrompeu 
em aplausos delirantes. 

Via-se o inventor cercado de abraços, quando o soberano 
recomeçou: 

- Devo acrescentar, porém, que a sabedoria de meu cetro 
ordena que o senhor seja punido com cinquenta dias de 
prisão forçada, a fim de que aprenda a utilizar sua 
capacidade intelectual em benefício de todos. 

A inteligência humana é uma luz cuja claridade deve ser 
consagrada à cooperação com o Supremo Senhor, na 
Terra. Sua invenção não melhora o campo, nem 
cria trabalho sério; não ajuda as sementes, nem ampara os 
animais; não protege fontes, nem conserva estradas; não 
colabora com a educação, nem serve aos ideais do bem. 

Além disto, arrasta centenas de pessoas, qual se verificou 
neste dia, conosco, a perderem valioso tempo na 
expectativa inútil. Volte aos seus abençoados afazeres 
mentais, mesmo no cárcere, e dedique sua inteligência 
a criação de serviço e utilidades em proveito de todos, 
porque, se o meu poder o recompensa, a minha 
experiência o corrige. 

Quando o rei concluiu e desceu da tribuna, o inventor se 
fizera muito pálido, o povo não bateu palmas; entretanto, 
toda gente aprendeu, na decisão sábia do grande 
soberano, que ninguém deve menosprezar os tesouros 
da inteligência e do tempo sobre a Terra." 
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Neio Lúcio 
(“Alvorada Cristã”, psicografia Chico Xavier)