Para atender a uma solicitação da Cynthia, fui
‘catar’ no Livro dos Bichos, um poema sobre gatos.
Com grande surpresa (já tinha lido o livro, mas não
atentei pra esse detalhe), só há um poema com esse
tema!
Isso é surpreendente porque no livro constam cinco
poemas sobre boi, quatro sobre cão, três sobre leão,
dois sobre morcego e ainda tem um sobre javali!
Bem, surpresas à parte, vejamos único e solitário
poemas sobre gato. Não é gracioso, mas é bem
interessante.
À UMA GATA
João de Deus
* 1830 em São Bartolomeu de Messines,
no Algarve (sul de Portugal)
+ 1896 em Lisboa.
Tu só, pobre animal, beijas o triste!
Tu que os ratos devoras e que os dentes
tens afiados para quanto existe!
Caprichosa exceção! Dize: Que sentes?
Amas, pobre animal! e tens pena,
sim, e pode na tua alma entrar piedade?
Se pode entrar eu sei! Negar quem há-de
amor ao tigre, coração à hiena!
Tudo no mundo sente: O ódio é prêmio
dos condenados só que esconde o inferno.
Tudo no mundo sente: A mão do Eterno
a tudo deu irmão, deu par, deu gêmeo.
A mim deu-me esta gata, a mim deu-me isto...
Esta fera, que as unhas encolhendo
Pelos ombros me trepa e vem, correndo
beijar-me... Só não vivo! Amado, existo!
Aqui é enfocada a dedicação animal ao ser
humano, objeto de tantas histórias
enternecedoras e que, realmente, muitas vezes
nos deixam abismados.
O animal não impõe condições para “amar” um ser
humano, nem mesmo os maus tratos são motivos
para desprezar o dono.
Por isso, o sonho para um ‘patrão’ é o empregado
robótico que, idealisticamente, é eficiente,
obediente e tem a fidelidade de um animal.
Abraço do tesco!