Em "As portas do tempo", livro de crônicas de Rodolfo
Konder, publicado em 1996, consta a crônica "A mãe judia
e um país de mugs", em que a primeira parte, sobre os
sacrifícios que uma mãe enfrenta em favor dos filhos, não
tem muito a ver com este episódio da história do Brasil,
que compõe a parte final, e que transcrevo a seguir.
Versa sobre fato acontecido há quase 50 anos, mas que
guardarelação direta com eventos de hoje, quando gente
jovem, por vontade própria ou não, conserva-se inteiramente
ignorante do que foi a ditadura militar 1964-1985 no Brasil,
e solicitam uma intervenção militar na política, totalmente
despropositada.
PAÍS DE 'MUGS'
Rodolfo Konder
"Tempos atrás, aí por volta de 1966, meu amigo Aristélio Andrade
caminhava por uma rua do centro do Rio de Janeiro. Ele fora
dirigente sindical na Petrobrás, durante o governo joão Goulart,
tendo sido sumaraiamente demitido, junto com outros milhares
de tra balhadores em 1964.
Conseguira reconstruir sua vida, aderindo ao jornalismo; muitos
outros petroleiros, no entanto, jamais se recuperaram do golpe
sofrido; alguns resvalaram inclusive para a miséria.
Pois bem, voltando à rua do centro, ia o Aristélio caminhando,
quando ouviu chamar seu nome. Parou, olhou em volta. Nada.
Caminhou novamente. "Aristélio", ouviu chamar de novo uma
voz sumida. Parou. Voltou-se. Nada. Deu mais alguns passos.
"Aristélio, sou eu, o 'mug'", insistiu a voz. O jornalista viu então
um enorme boneco de pano, balançando o corpanzil diante
de uma loja, num esforço desesperado para atrair fregueses.
(Nessa época, estava na moda, no Rio, um tipo engraçado de
boneco de pano, que o pessoal chamava de 'mug' - e que
diziam dar sorte).
Aristélio aproximou-se do boneco. A voz saiu novamente de
dentro dele, através de uma tela escura:
"Sou eu", Aristélio, o Deodato, lá da Petrobrás. Você se lembra
de mim?".
O jornalista, comovido, não sabia o que dizer.
"Claro, Deodato, claro que me lembo de você.", balbuciou.
Embaraçado o jornalista segurou um dos bracinos de pano que
pendiam dos lados do 'mug', apertando sem graça a mãozinha
vazia. "Como vai você, Deodato?"
A voz ressurgiu, num lamento:
"Não vou nada bem, Aristélio. Estou numa miséria de fazer
gosto...".
Até hoje, Aristélio se comove, relembrando essa história terrível.
E eu fico pensando se logo não estaremos transformados num
imenso, sinistro e lastimável país de 'mugs'.
(Publiicado em Shalom, dez. 1980/jan. 1981)"
* * *
O fato pode parecer banal, sem importância alguma entre o
drama de milhões de pessoas, mas reparem qual foi a origem:
Um golpe político-ideológico, determinando a derrocada sócio-
econômica de milhares de pessoas sem nenhum motivo
concreto!
Não posso (e nem quero) abrir a cabeça de ninguém pra
colocar minhas interpretações lá dentro, quero apenas que,
jovem ou não,as pessoas atentem um pouquinho para a
realidade.
Abraço do tesco.
4 comentários:
Oi tesco,
A vida não é fácil, eu passei pela ditadura, era muito jovem e nada aconteceu.
Agora os que deram a cara se ferraram.
O brasileiros são muito passivos.
Beijos
Dorli Ramos
Quem viveu essa época pode dizer o quanto era terrível. Não tínhamos liberdade para dizer o que pensávamos. Por nada poderíamos ser presos e torturados.
Quem acha que a ditadura é o caminho, é muito mal informado.
O caminho é a liberdade com responsabilidade, a educação do povo, que todos tenham seus direitos básicos garantidos. Muita paz!
Bom tesco...
Tenho que concordar com você!
Nada justifica aquilo! nem desenvolvimento econômico, nem sede de poder ou de hegemonia!
Porém, qual a semelhança com país atualmente?
hiscla
Eu gostaria de ter dito o que a Denise disse...rs.
Kisojn, frato!
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