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segunda-feira, 30 de junho de 2014

BÍBLIA E MITOLOGIA

No post "Os degredados", de 4 de maio último, um dos 
comentários foi de que: 
"toda a Bíblia é um livro de Mitologia"..
Discordei, mas deixei a contestação para um post, pois 
ficaria longo para um comentário. 

A Biblia não é TOTALMENTE um livro de mitologia, nem 
mesmo, SOMENTE um livro de mitologia. Sobre a parte 
introdutória, sim, pode-se dizer que o livro do Genesis é, 
na maior parte pelo menos, cópia de tradições dos mitos 
da Mesopotâmia, e não poderia ser de outra forma, uma 
vez que a própria Bíblia informa que o patriarca fundador 
da etnia judaica, o "Pai Abraão", foi um caldeu, originário 
de Ur. 

Não existe a informação de que o livro de Genesis tenha 
sido revelação a um patriarca ou a um profeta, portanto, é 
lógico inferir que se trata de adaptações das tradições da 
Mesopotâmia, transmitidos oralmente pois não se havia 
adquirido o costumje de transmitir a tradição por escrito, 
mesmo porque, pouquíssimos dominavam alguma arte de 
escrever. 

Ciro Flamarion Cardoso em "antiguidade oriental - Política 
e religião" (em sorteio, aí embaixo), no capítulo 4 (Das 
tribos de Yahveh ao Reino de Israel), nos diz que: 

"Deus garante a fertilidade e a abundâbcia, mas não é 
um deus da fertilidade, comanda os astros e cavalga 
a tempestade, sem poder ser, em si, na sua natureza, 
associado a qualquer destas coisas. Uma religião desse 
tipo, necessariamente, coíbe o pensamento mítico." 

Daqui se pode deduzir que a mitologia tem relação com 
fenômenos da Natureza, se é unicamente isso, eu não sei, 
mas essa relação, efetivamente, não é enfatizada na Bíblia. 
Yahveh não é o deus dos raios, ou deus da colheita, ou 
deus da guerra, ou deus da vingança, é o Senhor de tudo, 
tem jurisdição sobre tudo, pois a tudo criou. 

O professor Ciro prossegue em sua explanação: 

"O texto bíblico abunda em mitos. Ao contrário do que 
ocorria no Egito, na Mesopotâmia, ou entre os hititas, 
porém, a natureza não é  no pensamento bíblico, animada 
e personificada, e portanto também não pode ser explicada 
por relatos nos quais intervenham deuses que encarnam 
forças cósmicas, num ongínquo passado mítico fundador 
(o que abriria o caminho para que se pudesse obrigar o 
universo a se comportar de certos modos desejados, já 
que o mito informa um conjunto de gestos e palavras - o 
ritual - bem como determinadas operações mágicas)." 

O velho mestre, normalmente tão elucidativo, aqui me põe 
no mato sem cachorro: Sua explicação da relação do mito 
com o ritual não me esclareceu nada. De qualquer modo, 
fica dito que, apesar da abundância de mitos na Bíblia, não 
é essa sua ênfase, não é a explicação dos fenômenos da 
Natureza que é buscada pela intervenção de Yahveh. 
Isso fica bem explícito no parágrafo seguinte: 

"O Deus de Israel não se associa aos acontecimentos 
repetitivos e até certo ponto previsíveis da natureza, mas 
à história, que ele comanda numa forma em geral 
inescrutável." 

Um episódio que serve como referência para essa última 
assertiva, é a destruição deSodoma e Gomorra. O que 
quer que tenha acontecido então, não é um fato rotineiro, 
nada de repetitivo. Outras cidades serão destruídas, mas 
não pelo mesmo método. Yahveh tem um bom repertório 
de causas destrutivas. 

Contudo, corroborando a afirmação de que "o texto bíblico 
abunda em mitos", pode-se citar as alegorias do paraíso 
terrestre, a expulsão do casal original do paraíso, a 
tentativa de construção da torre de Babel, também o dilúvio 
universal entra nessa lista. 

Porém, os fatos históricos não são omitidos ou obliterados 
na Bíblia, são sim, 'ligeiramente' alterados pela teologia 
dominante naquela cultura. A interpretação de intervenções 
divinas são uma constante na descrição dos fatos. E um 
"pequeno" exagero, típico das culturas orientais, aparecem 
para temperar as narrativas. 

Como exemplo típico, cito o número de israelitas saídos do 
Egito no êxodo. Tomo as palavras de Bruce Feiler em 
"Pelos caminhos da Bíblia" (edição 2002, pp 241-242). 
Esclareço que Feiler não é nenhum detrator da Bíblia, pelo 
contrário, se declara judeu e fez esta pergrinação pela 
Palestina, descrita no livro, para se identificar melhor com 
o ambiente bíblico. Diz ele:  

"ÈXODO

Mais do que descobrir por onde seguiram os israelitas, saber 
quantos israelitas participaram do Êxodo, tem sido uma fonte 
de curiosidade constante. O texto diz claramente que eram 
600 mil homens a pé, além de mulheres e crianças." 

Ele fala que dois censos foram realizados, um deles após 
o primeiro ano e o outro 40 anos mais tarde, e ambos 
encontraram mais de 600 mil homens. Diz, então, o seguinte: 

"É claro que estes números não são citados por acaso. 
Mas serão verdadeiros?" 

E continua: 
"...mais perturbador é especular como essa população 
masculina de 600 mil homens, que, com mulheres e crianças 
chegaria facilmente a dois milhõesde pessoas, pode ter 
existido no Egito. Com base no cãlculo dos historiadores,
dois milhões de pessoas represenrariam pelo menos 20% 
da população do Egito, o que tornaria iimaginável a tentativa 
de escravizá-los e o fato de terem escapado sem que haja 
qualquer referência a isto em nenhum documento odicial." 

Como se vê, informação confusa não falta na Bíblia. 
Feiler cita uma alternativa que torna a história plausível: 

"Uma outra explicação mais comum é que o número 600 
mil representa a população da monarquia unida de Israel 
depois que esta chegou a Canaã, em meados do primeiro 
milênio a.C,, na época aproximada em que a história bíblica 
foi escrita. Isto tornaria os números coerentes com o fim do 
Êxodo, não com o início. Seja como for, é lícito presumir 
que 600 mil não é um número historicamente preciso." 

Portanto, temos que ver a Bíblia com muito cuidado, nem 
tomando suas afirmações como absolutas, nem fazendo 
o contrário, desprezar suas informações como balelas ou 
coisa de gente ignorante. 

Além disso, a Bíblia para o mundo ocidental, enclui o dito 
"Novo Testamento", que nos oferece os Evangelhos, que, 
mesmo também eivados de mitologia, são a melhor fonte 
de elevação moral para nós, os "degredados". 

Então, não generalizemos os conceitos absolutos, 
estudemos atentamente e será o melhor que podemos 
fazer. 

Abraço do tesco. 

5 comentários:

Anônimo disse...


Tesco, meu querido
Observo uma coisa: a concepção pejorativa do mito. Não você, mas todos fazem isso. É em razão da ciência? pois eu não vajo nada de errado com os mitos. são explicativas de mundo que fogem á nossa razão, como se a nossa razão fosse garantia factual. E não é né?
Além da ciência, há a imaginação humana..
Mas tenho uma curiosidade: Você sabe como se contava o anos/tempo? porque a idade desse povo (da bíblia factual) é muito!
hiscla

Anônimo disse...

Tesco, eu continuo achando que é mitologia, mas já pedi para o Antonio comprar não só a Bíblia, como também o Alcorão (a Bíblia já li anteriormente) para reforçar ou mudar a minha opinião.

Eu acho tudo ali um grande absurdo. Bom, não vou comentar mais, porque não se deve mexer com esse assunto sem causar mágoas.

Beijotescas

tesco disse...

Acredito, hiscla, que, originalmente, os 'anos' bíblicos se referiam a ciclos lunares, tanto que, se dividimos as idades "estupidamente geladas" da Bíblia por 13 (são quase 13 ciclos por ano), obtemos idades compatíveis com o esperado.
Como exemplo, Matusalém, de idade bíblica 969 anos, teria vivido cerca de 75 anos reais (969/13), idade avançadíssima para os padrões da época.
Beijos.

Anônimo disse...


Muito legal saber disso, eu nem imaginava como contavam esses anos. e vc, sempre me acudindo com seus saberes!
hiscla

Shirley Brunelli disse...

Lendo o seu texto,tesco, aprendi mais, porém, confesso, não sou leitora da Bíblia. Aliás, todos sabem o que disse Leonardo da Vinci, que a Bíblia não chegou por fax, do céu e que passou por inúmeras traduções etc. Prefiro o Evangelho de Jesus.
Beijo!