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quinta-feira, 28 de maio de 2015

CONTRACANTO: EXPLÍCITOS

Um casal segue num carro - pode ser numa tarde ensolarada 
de domingo - talvez sejam amigos de infância, talvez tenham 
se conhecido há pouco, a timidez, no entanto, tolhe-os na sua 
mais íntima expressão. 

Querem se entregar um ao outro, desesperadamente, "como 
se não existisse amanhã", mas a educação recebida dificulta 
o entendimento verbal, e "não querem espantar o pássaro"! 

Parece filme dos anos 50? Hoje, quando as pessoas fazem 
misérias e só depois se perguntam os nomes? Pode ser. 
Mas ainda rola esse clima em muitos lugares e com muitas 
pessoas. O mundo não é só cinismo. 

Essa é a visão que aparece no sábado passado, na postagem 
da Shirley. É uma 'fantasia', como já diz o título do poema, 
mas tem aquele sabor romântico que muitos (eu, pelo menos) 
apreciam. 

Nesse mundo do romantismo, a balinha ainda tem invólucro, 
as frutas têm casca, o licor ainda reside no cerne do bombom, 
não é a realidade hodierna em que se faz questão de exibir 
as cirurgias plásticas ao primeiro contato. 

Nesse mundo ideal, as pessoas ainda têm tempo de conhecer 
a fundo o pensamento do outro, de trocar opiniões, de juntar 
os sentimentos antes de juntar os corpos, em suma, de afinar 
o instrumento antes da apresentação da orquestra. 

Claro que não faltam ocasiões de espontaneidade, e a paixão 
tem seus momentos. O rompante, o imprevisto e o improviso 
têm sua vez. 
Veja o que vislumbra a imaginação da nossa poeta: 

FANTASIA EXPLÍCITA
Shirley
(2015.05.23)

Você dirige o carro devagar 
e timidamente 
procura a palavra certa 
para afugentar o silêncio. 
Também eu 
perplexa e desajeitada 
busco em vão  
uma sequência rápida de ideias 
tentando afogar no âmago 
expectativa perturbadora. 
Cada vez mais 
percebo-me vazia 
flutuando no abismo 
de contemplação existencial. 
De repente 
precipitada  
imprevisível 
quase num enlevo 
digo o que não posso 
e no semblante 
mostro o que não devo... 

   *   *   *   

Agora o lado pragmático, não da sociedade, mas da poesia. 
Tem muita rima e muita métrica por aí, encobrindo... Prosa! 
Diria que é o caso aqui. Um certo tesco, muito amarrado em 
formas tradicionais, não conseguindo transmitir poesia, vai, 
muito disfarçadamente, camuflando seu prosaico comentário 
em poesia. 

O comentário à poesia da Shirley é uma prosa, bem objetiva, 
sob forma de quadrinhas chinfrins, embora bem medidas e 
rimadas, de modo a parecer poesia! 
O tesco engana a muita gente, só não engana ao próprio tesco. 
Pode observar: 

MILAGRE EXPLÍCITO
tesco 
(2015.05.27)

Dirijo devagar sim
Procuro a palavra certa 
Pra dizer que estou a fim 
Da emoção que liberta 

Eu não sei como falar 
Como dizer o que sinto 
Tenho muito a comentar 
Mas me desdigo/desminto 

É uma coisa assumida 
Não consigo esquecer: 
"Meu cumpadi, se decida 
Ou senão vai me perder!" 

Percebo-a perturbada 
Nos queremos namorar 
Bem-te-vis na madrugada 
Ansiosos pra piar 

Tá na beira do vazio 
Querendo cair em si 
Meu pensamento sombrio: 
"Se cair, caia em mim!" 

Aí milagre ocorreu: 
Que ventura nós vivemos! 
Qual santo que socorreu? 
Ela diz o que queremos! 

   *   *   *   

De qualquer maneira, a obrigação é comentar, e não, fazer 
poesia. Se ela aparece às vezes, é bônus! 

Abraço do tesco. 

8 comentários:

Clara Lúcia disse...

Parece um repente "gourmet". Amei! Perfeito! Que dupla!
Tbm sou daqueles bons tempos em que primeiro se olhava nos olhos, de longe, pra só depois, talvez até na outra semana, se achegar e começar um papo. O resto então, demoraaaava.

Como está Tesco, tudo bem?

Hecta disse...


Tesco, tá muito romantico.
uai...nem me lembro mais como são essas coisas, nem sei...
nem me imagino nesse afã mais..
concordo com Clara lucia, vocês fazem uma bela dupla mesmo.
Hiscla

Shirley Brunelli disse...

Oi, tesco, usando, novamente, o seu famoso bisturi? Na encarnação passada foi foi um médico cirurgiaõ, com certeza rs.Você é danado, tem olho clínico...
Pois é, o meu poema está fora de época mesmo, pois, hoje tudo acontece no primeiro encontro, dizem por aí.
Quanto ao seu, caiu como uma luva, está ótimo.
Parabéns, amei!
Kisojn!!!

ॐ Mara Bombo ॐ disse...

Que linda parceria Roberto e Shirley minha prima favorita!!!! adorei seu Blog Tesco, lindas poesias.... eu poderia roubar algumas e publicar na página do Centro Literario de Piracicaba (CLIP) no facebook ????? um abraço . Mara Bombo

tesco disse...

Bem vinda, Mara! Fique à vontade para copiar o que quiser.
Como o negão do livro de Orlando Tejo "Zé Limeira, o poeta
do absurdo", também digo: "Comigo não tem 'perhaps!'.
Tudo aqui é copiável.
Beijos.

Shirley Brunelli disse...

..."saiam"...rs. Conhece a frase "A pressa é inimiga da perfeição"?
Pois é...rs

tesco disse...

Ligue não, "l'important c'est la rose"
(Gilbert Becaud).
Kisojn.

Lua Singular disse...

Oi tesco,

E sou o oposto da jovem(Procuro o seu olhar) que leu no meu blog: eu mesma afogaria o danando.kkk
Depois volto, vou fazer almoço, já que é a única coisa que faço. pois as 11h meu filho sai para o almoço e chega às 11h 3', o trabalho dele fica a 1 quarteirão de casa, vem esbaforido morrendo de fome.
Beijos

E por falar em Shirley, sou seguidora dela, adoro suas metáforas.
Se você quer começar seu dia alegre, leia uma singela postagem: Procura no Google: vazio-Lua Singular.