Mudando a programação, pois postei sobre o BookCrossing
(ainda está valendo, hein? Vai até quarta, 23) na quinta-feira,
dia reservado para a temática poética, aborrecerei vocês,
excepcionalmente (quem ler pensará que o excepcional é o
aborrecimento, rerrerré!), com 'mais uma de amor' (epa, isso
é Blitz!), digo, mais uma resposta poética.
Shirley postou, no sábado, reflexão sobre uma "sombra".
Sabe-se lá o que representa essa sombra. Eu, como sempre,
interpreto como o amante ideal - 'ideal' de ideia, o imaginário
poético - neste caso porém, não tão ideal, já aqui, ideal como
'adequado', 'conveniente', 'do jeito certo', 'talhado para a
função'.
E por que não é ideal? Porque a poeta o apresenta como uma
figura indolente, preguiçosa, malemolente, dir-se-ia até, quem
sabe, a imagem de um alcoólatra. Sabe-se que existem muitos
casos de viciados (álcool é droga), muito amados por suas mães
e/ou esposas, que são um grande estorvo em suas vidas, e não
deixam de ser amados mesmo assim.
Não vamos entrar nessas considerações, mas a autora, mais
adiante, se queixa das limitações dele e imagina-o com outras
características.
Leiam o poema e tirem suas próprias conclusões. Se forem
diferentes das minhas, não tem problema, sempre estamos em
diferentes pontos, por que não teríamos diferentes pontos de
vista?
JÁ NÃO SOMOS PARALELAS
Shirley
(2015.04.18)
"Procuro-te
com a visão interior
e vejo-te sombra
imagem fluida
lânguido
preguiça no tapete.
Vendo-te frágil
cubro-te com a energia
dos átomos e moléculas
e querendo-te perfeito
imagino-te
místico
consciente
inquiridor.
Porém
confesso
não gosto de tuas limitações
dos teus dialetos
-- sei como abarcar todos os idiomas --
busco novas dimensões
quero outra amplitude.
Mesmo assim
não há mal algum
que de vez em quando
eu te procure sombra
no tapete de minha memória."
*** *** ***
Aí está e, como sempre, as variadas nuances que a Shirley
interpõe em suas composições, a estrutura diáfana com que
encobre suas visões, a textura cósmica que ela empresta às
palavras, tudo isso se perde quando começo a interpretar.
Só me surgem imagens concretas, associadas com a realidade
crua, coisa corriqueira e cotidiana. Aqui "lasciate ogni fantasia
voi ch'entrate", diria Dante, "tesco stà interpretando. Eita hômi
sem maginação, sô!". (Dante botou pra quebrar, agora).
Vejam o rebuliço:
CONVERGENTE
tesco
(2015.04.18)
"Enquanto me procurares
Inda nada está perdido
Mesmo qu'eu tenha mentido
Permaneces em meus mares
Se tomando outros ares
Buscas novas dimensões
As minhas limitações
Não impedem de gostares
De tudo que te atrai
De minhas falas confusas
Minhas ações obtusas
De minha voz que se trai
Sei, sou sombra do que fui
Mas não me deixes deitado
Vivendo só no passado
Tudo na vida evolui
Preciso dessa energia
Que de todo teu ser flui
Meu corpo reconstitui
E só me traz alegria
Não pode ser diferente
Afirmaste, minha bela
Já não somos paralelas
Tudo em nós é convergente!"
* * *
Aqui está um indivíduo semi-arrependido. Sim, só metade,
porque ele não faz nenhuma promessa de se emendar, nada
afirmou que o amarre a compromissos. Talvez que daí se erga
uma nova pessoa, com ânimo renovado, pronta a encarar os
obstáculos da vida.
Mas isso não está implícito em sua contestação. Ele apenas
diz que reconhece seus problemas e que necessita da ajuda
de sua contraparte, toda ajuda possível.
Que se levante um novo homem, é o que desejamos, e nossa
tarefa na Terra é mesmo essa, a de ajudar os mais debilitados
e menos afortunados
Abraço do tesco.
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6 comentários:
Você enxerga as coisas por ângulos inimagináveis, hein, tesco? E fica muito bom.
Eu diria que você consegue encontrar chifres em cabeça de cavalo rs.
Mas, unir o que já estava separado, sei não, acho que não vai dar certo rs!
Kisojn ( E viva "la lingvo esperanto!)
A culpa não é minha,
se os cavalos, na verdade,
são unicórnios.
Kisojn.
Vocês dois são fantásticos mesmo. Tesco, de onde vem tanta imaginação?
Beijotescas
Interpretações fantásticas, criativas.
Ao ler o poema, cá dentro de mim, não vejo "o outro" ou uma "lembrança" ou mesmo "passado" como sombra...
Vejo como sombra próprio reflexo negado. A imagem de mim que não aceito.
hiscla
Bom dia, tesco!
A sua programação é sempre variada, agradável, e sobretudo, repleta, abarrotando de inteligência, de bom humor e de "devoradora" imaginação.
Li os poemas, o da Shirley e o de você, e ai, Jesus, que coisa linda e que tão bem se completa, mesmo que, de forma antagónica e um "pouquinho" provocatória.
Agradeço sua visita e preciosíssimo comentário.
Aquele abração!
Oi tesco,
Adoro a Shirley nas suas brincadeiras comigo e como excelente poetisa.
Você é um grande poeta parecido um pouco com meu amigo Ângelo que não entendo nada que escreve, pois apesar de ler muito não fiz nenhuma faculdade, ainda bem que tenho um filho adotivo que adora estudar: tem 2 faculdades, uma Estadual(economia), outra particular(contabilidade) e vários cursos. Ele vai estudar a vida inteira.
O meu forte é exatas.
O que eu quis dizer na minha postagem é a passagem para a morte.
Vou lendo suas postagem uma de cada vez, pois não posso ficar muito tempo sentada.
Beijos no coração.
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