GUARDA COME DONDOLO
Só como curiosidade exponho esse mal-entendido, que é
perfeitamente plausível. A música é de 1962, do Edoardo
Vianello, mas só tive percepção dela em 1965, já aos 11 anos
de idade.
Entendia então que o título da música se referia a uma coisa
corriqueira, da qual muito já tinha ouvido falar: O guarda
come 'bola': Aceita propina e faz 'vista grossa' pra alguma
infração. Há muito que a corrupção corria solta por Pindorama.
Bem depois, ao aprender alguns rudimentos de italiano, é
que entendi que não era nada disso, o título dizia apenas
"Olha como balanço",e o 'dondôlo', na verdade, se pronuncia
'dôndolo'.
Não vejo graça nela, mas o que tem isso a ver com o momento
atual? É que me assombra a quantidade de gente (fora os mal
intencionados) que pensa que foi o PT quem 'inventou' a
corrupção! Parece que eles nunca ouviram a música do Vianello.
Rerrerré!
SERTÃO
Estava pesquisando sobre a música "Luar do sertão", que tem
uma polêmica sobre sua autoria, e acabei caindo no site da
Rádio Rancho da Traíra, que afirma que a primeira música
sertaneja gravada no Brasil foi justamete "O luar do sertão",
em 1914, quando ainda tinha o artigo definido no título.
Esse não era meu objetivo, mas, logo à frente, a conversa me
interessou. Fala-se dos termos 'sertão' e 'sertanejo':
"A denominação "Sertanejo" sempre se referiu ao indivíduo
que vive no Sertão, especificamente, uma das quatro sub-
regiões do Nordeste do Brasil (Meio Norte, Sertão, Agreste
e Zona da Mata), com clima semi-árido e ambiente hostil.
A origem dessa expressão vem da época da colonização
do Brasil, pelos portugueses que, ao encontrarem uma região
com características típicas dos desertos, referiram-se à ela
como um "desertão". Aos poucos, a denominação sofreu
variações linguísticas regionais passando a ser usada a
expressão "De Sertão" e , com o tempo, apenas "Sertão"."
Essa etimologia para sertão, eu não conhecia, mas é a que
consta do Dicionário Etimológico de Antenor Nascentes, e,
mesmo duvidosa, é bem melhor do que a oferecida pelo
dicionário online da Editora Porto, que faz o termo derivar
"Do latim sertānu-, «do bosque», de sertu-, «bosque»".
Ora, desde quando se confunde sertão com bosque?
CHULO
Para esse tópico, transcrevo parte do que diz Ubirajara Passos
em seu blog "Bira e as safadezas".
"Proveniente do castelhano seiscentista chulo, o sujeito
simultaneamente desafiador e gracioso, “insolente”. O
adjetivo que tomou em português a conotação de
“obsceno” ou “sexualmente imoral” era o termo pelo qual
a aristocracia espanhola do século XVI designava,
portanto, os membros da ralé (servos e homens livres do
povo, trabalhadores) que tinham a coragem de portar-se
como gente, exercendo sua própria individualidade, sem
submeter-se aos desmandos e caprichos dos donos da
sociedade, os nobres, que (como toda classe dominante
que existiu desde a Pré-História Humana) se julgavam os
únicos dignos de viver segundo seus desejos e
necessidades, de prazer e liberdade.
O chulo era o rebelde popular e “coincidentemente”
passou para a nossa língua com o significado de
grosseiro, agressivo, contrário ao “pudor”, “palavrão”. O
detalhe é que sua rebeldia não se exercia de qualquer jeito
(que provavelmente incluía a manifestação “inculta” de
alguns xingamentos típicos, como corno, puta, etc.), mas
pela suprema transgressão de vestir-se com elegância ou
afetação própria da nobreza, audácia imperdoável para um
reles membro do povão, considerado simples coisa ou
gente de categoria subalterna a que não se dava outra
prerrogativa que servir de tapete para os dominadores. O
chulo, não se deixando pisar, e comportando-se “como
senhor” ele próprio, era um perigosíssimo gaiato, capaz de
falar de igual para igual com um aristocrata e se dar ao
prazer público sem subterfúgios."
É aqui que se pode dizer "Se non è vero è ben' trovato"!
Suas considerações sociológicas são muito acertadas.
SÓ GAIATO
Aparentemente teria relação com o tópico anterior, pois foi
encontrado num "Álbum chulo-gaiato", datado de 1862, e de
autoria anônima. Mas, tendo em vista a etimologia mostrada
pelo Bira, aí em cima, a quadrinha a seguir mostra-se chula
apenas no conceito atual, sendo muito gaiata, realmente.
"NOZ E A MULHER
Como a noz foi a mulher
Neste mundo fabricada,
Não se conhece que é podre
Senão depois de rachada."
Veja-se a incoerência: O homem tem a mesma 'virtude', não
se conhece verdadeiramente um homem pela aparência
externa, ou seja, "Quem vê cara não vê coração". O 'rapazinho'
aí quis ser muito engraçado (talvez o fosse, nesta época) mas
conseguiu apenas ser parcial.
"Por hoje é só, pessoal!" (Será que já ouviram isso antes?).
Abraço do tesco.
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3 comentários:
É interessante o quanto as palavras se alteram com o tempo. E até caem no desuso. Esse seu trabalho em trazer essa linguagem é muito instrutivo. Muita paz!
Tesco, adoro esses saberes seus.
Sempre estou aprendendo com voce!
Da musica não conheço, mas é interessante!
Chulo..adorei!
srsrs
beijos
hiscla
tesco, você é um homem muito diversificado, culturalmente, e não só, presumo. As coisas que eu leio em seu blog, têm muito interesse e humor, também. Você é um historiador, em pleno.
Chulo, em Portugal, significa homem que vive á custa de uma mulher.
Agradeço suas visitas e excelentes versos que deixa em meu blog, em forma de comentário (aqueles lábios de calêndula, não "lembra" a ninguém, só mesmo a você).
Abraço.
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