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domingo, 12 de abril de 2015

BOBAGENS LINGUÍSTICAS-29

GUARDA COME DONDOLO

Só como curiosidade exponho esse mal-entendido, que é 
perfeitamente plausível. A música é de 1962, do Edoardo 
Vianello, mas só tive percepção dela em 1965, já aos 11 anos 
de idade. 

Entendia então que o título da música se referia a uma coisa 
corriqueira, da qual muito já tinha ouvido falar: O guarda 
come 'bola': Aceita propina e faz 'vista grossa' pra alguma 
infração. Há muito que a corrupção corria solta por Pindorama. 

Bem depois, ao aprender alguns rudimentos de italiano, é 
que entendi que não era nada disso, o título dizia apenas 
"Olha como balanço",e o 'dondôlo', na verdade, se pronuncia 
'dôndolo'. 

Não vejo graça nela, mas o que tem isso a ver com o momento 
atual? É que me assombra a quantidade de gente (fora os mal 
intencionados) que pensa que foi o PT quem 'inventou' a 
corrupção! Parece que eles nunca ouviram a música do Vianello.
Rerrerré! 


SERTÃO

Estava pesquisando sobre a música "Luar do sertão", que tem 
uma polêmica sobre sua autoria, e acabei caindo no site da 
Rádio Rancho da Traíra, que afirma que a primeira música 
sertaneja gravada no Brasil foi justamete "O luar do sertão", 
em 1914, quando ainda tinha o artigo definido no título. 

Esse não era meu objetivo, mas, logo à frente, a conversa me 
interessou. Fala-se dos termos 'sertão' e 'sertanejo': 

"A denominação "Sertanejo" sempre se referiu ao indivíduo 
que vive no Sertão, especificamente, uma das quatro sub-
regiões do Nordeste do Brasil (Meio Norte, Sertão, Agreste 
e Zona da Mata), com clima semi-árido e ambiente hostil. 

A origem dessa expressão vem da época da colonização 
do Brasil, pelos portugueses que, ao encontrarem uma região 
com características típicas dos desertos, referiram-se à ela 
como um "desertão". Aos poucos, a denominação sofreu 
variações linguísticas regionais passando a ser usada a 
expressão "De Sertão" e , com o tempo, apenas "Sertão"." 

Essa etimologia para sertão, eu não conhecia, mas é a que 
consta do Dicionário Etimológico de Antenor Nascentes, e, 
mesmo duvidosa, é bem melhor do que a oferecida pelo 
dicionário online da Editora Porto, que faz o termo derivar 
"Do latim sertānu-, «do bosque», de sertu-, «bosque»".
Ora, 
desde quando se confunde sertão com bosque? 

CHULO 

Para esse tópico, transcrevo parte do que diz Ubirajara Passos 
em seu blog "Bira e as safadezas". 

"Proveniente do castelhano seiscentista chulo, o sujeito 
simultaneamente desafiador e gracioso, “insolente”. O 
adjetivo que tomou em português a conotação de 
“obsceno” ou “sexualmente imoral” era o termo pelo qual 
a aristocracia espanhola do século XVI designava, 
portanto, os membros da ralé (servos e homens livres do 
povo, trabalhadores) que tinham a coragem de portar-se 
como gente, exercendo sua própria individualidade, sem 
submeter-se aos desmandos e caprichos dos donos da 
sociedade, os nobres, que (como toda classe dominante 
que existiu desde a Pré-História Humana) se julgavam os 
únicos dignos de viver segundo seus desejos e 
necessidades, de prazer e liberdade. 

O chulo era o rebelde popular e “coincidentemente” 
passou para a nossa língua com o significado de 
grosseiro, agressivo, contrário ao “pudor”, “palavrão”. O 
detalhe é que sua rebeldia não se exercia de qualquer jeito 
(que provavelmente incluía a manifestação “inculta” de 
alguns xingamentos típicos, como corno, puta, etc.), mas 
pela suprema transgressão de vestir-se com elegância ou 
afetação própria da nobreza, audácia imperdoável para um 
reles membro do povão, considerado simples coisa ou 
gente de categoria subalterna a que não se dava outra 
prerrogativa que servir de tapete para os dominadores. O 
chulo, não se deixando pisar, e comportando-se “como 
senhor” ele próprio, era um perigosíssimo gaiato, capaz de 
falar de igual para igual com um aristocrata e se dar ao 
prazer público sem subterfúgios.

É aqui que se pode dizer "Se non è vero è ben' trovato"! 
Suas considerações sociológicas são muito acertadas. 

SÓ GAIATO

Aparentemente teria relação com o tópico anterior, pois foi 
encontrado num "Álbum chulo-gaiato", datado de 1862, e de 
autoria anônima. Mas, tendo em vista a etimologia mostrada 
pelo Bira, aí em cima, a quadrinha a seguir mostra-se chula 
apenas no conceito atual, sendo muito gaiata, realmente. 

"NOZ E A MULHER

      Como a noz foi a mulher 
      Neste mundo fabricada, 
      Não se conhece que é podre 
      Senão depois de rachada." 

Veja-se a incoerência: O homem tem a mesma 'virtude', não 
se conhece verdadeiramente um homem pela aparência 
externa, ou seja, "Quem vê cara não vê coração". O 'rapazinho' 
aí quis ser muito engraçado (talvez o fosse, nesta época) mas 
conseguiu apenas ser parcial. 

"Por hoje é só, pessoal!" (Será que já ouviram isso antes?). 

Abraço do tesco. 

3 comentários:

Denise Carreiro disse...

É interessante o quanto as palavras se alteram com o tempo. E até caem no desuso. Esse seu trabalho em trazer essa linguagem é muito instrutivo. Muita paz!

Unknown disse...



Tesco, adoro esses saberes seus.
Sempre estou aprendendo com voce!
Da musica não conheço, mas é interessante!
Chulo..adorei!
srsrs
beijos
hiscla

CÉU disse...

tesco, você é um homem muito diversificado, culturalmente, e não só, presumo. As coisas que eu leio em seu blog, têm muito interesse e humor, também. Você é um historiador, em pleno.
Chulo, em Portugal, significa homem que vive á custa de uma mulher.

Agradeço suas visitas e excelentes versos que deixa em meu blog, em forma de comentário (aqueles lábios de calêndula, não "lembra" a ninguém, só mesmo a você).

Abraço.