Qual o sentido do poema?
Não pergunto sobre o sentido da poesia, isso todo mundo sabe,
embora muitos não concordem: Poesia, de 'poiesis', é criação,
contrapondo-se ao mundo 'real', que na verdade, é "mimesis",
ou seja, imitação. Portanto, é poesia que move o mundo!
Minha pergunta é a que muitos fazem, quando leem algum
poema:
- Que quer dizer?, - Que significa?, - Qual a intenção?
O cerne da questão são as palavras!
Por paradoxal que pareça, as palavras, que constroem o
'exoesqueleto do poema, são também as responsáveis pelo
encobrimento daquilo que se quer dizer.
Digo isso porque, um soneto que construí em 1990, sinto
dificuldade em interpretar.
- O quê?! Escreveu e não sabe ler? É pior que analfabeto!
Zomba! Teu dia chegará! Mas, é mais ou menos isso mesmo.
A gente escreve em parte guiado por forças estranhas a nossa
vontade e, muitas vezes, o resultado não é exatamente tudo
que foi planejado, alguma coisa escapa do controle.
Leiamos então o soneto:
DESPERTAR DE VÊNUS
tesco
(1990.06.10)
Que subas para o céu por meio de magia,
Ó musa encantadora, charme e sedução,
É arte própria tua, redoma de atração.
Eu seguirei as rotas puras da poesia.
Ao véu da sensação alçaste enfim a mão,
Enquanto a fina arte que em ti eu via
- Encanto de tua parte sã - se desfazia,
Na máquina cruel de tua sedição.
A brisa matutina que soprava fria,
Arrepiando as palmas do oásis meu,
Inebriava as colchas no teu himeneu.
Entanto a tua fulgurante estria,
Dourava no meu vale, extasiado ateu,
Deixando na surdina incendiário eu.
* * *
Eu vejo aí um idealista que havia se enamorado de uma moça
que aparentemente era uma artista, com talentos reais - não
sei dizer em que arte - mas que se revelou uma 'arrivista', não
importava por quais meios, o que ela queria era se 'arranjar'.
Adepto da "arte pela arte", ele não concorda com os recursos
de que ela se vale, principalmente, parece, a atração sexual.
Eis que ela consegue seu espaço, mas ele vê esse brilho, não
como um fogo-fátuo, mas como um meteorito (estrela cadente),
que brilha enquanto queima no atrito com a atmosfera.
Resta então um 'ateu' não mais crente na 'deusa', na verdade
um 'deus ex-machina', que sobe aos píncaros, mas somente
por meios artificiais.
Creio que, 'grossu modu', era isso que eu pretendia transmitir.
Não é, porém, verdade absoluta, artigo de fé, dogma, o que
o leitor extrair disso e achar que é o real sentido da coisa,
pode ser uma conclusão mais acurada.
Os autores procuram realizar o que lhes vêm à mente, mas
não são juízes brasileiros, isto é, infalíveis.
Abraço do tesco.
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3 comentários:
Tesco..acho que não ando bem...rsrs pois vejo erotismo no poema!
Só eu vejo isso?
alguém concorda comigo?
hiscla
Olá, tesco!
Acontece, frequentemente, comigo, o k com aconteceu com você. Por vezes, escrevo "coisas", que passados uns dias, já não fazem sentido para mim, e nem sequer já as entendo.
No soneto k você escreveu há uns anos, eu "vejo" o desejo de conseguir o amor, não esquecendo o físico, obviamente, de sua deusa, e apenas, isso. Até acho um soneto meio brando, pra te falar, com sinceridade.
Claro, você é falível, eu sou falível, nós somos falíveis, mas juiz, seja de que país for, NUNCA é "falível". Amei essa!
Abraço da Céu.
O que pude captar deste soneto? Ficou claro, para mim, a expectativa dos primeiros encontros, a descoberta do outro e um tanto de erotismo, sim.
Bonito, tesco, gostei!
Kisojn!
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