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quarta-feira, 29 de abril de 2015

CONTRACANTO: DESPERTAR DE VÊNUS

Qual  o sentido do poema? 
Não pergunto sobre o sentido da poesia, isso todo mundo sabe, 
embora muitos não concordem: Poesia, de 'poiesis', é criação, 
contrapondo-se ao mundo 'real', que na verdade, é "mimesis", 
ou seja, imitação. Portanto, é poesia que move o mundo! 

Minha pergunta é a que muitos fazem, quando leem algum 
poema: 
- Que quer dizer?, - Que significa?, - Qual a intenção? 
O cerne da questão são as palavras! 
Por paradoxal que pareça, as palavras, que constroem o 
'exoesqueleto do poema, são também as responsáveis pelo 
encobrimento daquilo que se quer dizer. 

Digo isso porque, um soneto que construí em 1990, sinto 
dificuldade em interpretar. 

- O quê?! Escreveu e não sabe ler? É pior que analfabeto! 

Zomba! Teu dia chegará! Mas, é mais ou menos isso mesmo. 
A gente escreve em parte guiado por forças estranhas a nossa 
vontade e, muitas vezes, o resultado não é exatamente tudo 
que foi planejado, alguma coisa escapa do controle. 

Leiamos então o soneto: 

DESPERTAR DE VÊNUS  
tesco
(1990.06.10)

Que subas para o céu por meio de magia,  
Ó musa encantadora, charme e sedução,  
É arte própria tua, redoma de atração. 
Eu seguirei as rotas puras da poesia.  

Ao véu da sensação alçaste enfim a mão, 
Enquanto a fina arte que em ti eu via 
- Encanto de tua parte sã - se desfazia, 
Na máquina cruel de tua sedição.  

A brisa matutina que soprava fria,  
Arrepiando as palmas do oásis meu,  
Inebriava as colchas no teu himeneu.  

Entanto a tua fulgurante estria, 
Dourava no meu vale, extasiado ateu, 
Deixando na surdina incendiário eu.  

   *   *   *   

Eu vejo aí um idealista que havia se enamorado de uma moça 
que aparentemente era uma artista, com talentos reais - não 
sei dizer em que arte - mas que se revelou uma 'arrivista', não 
importava por quais meios, o que ela queria era se 'arranjar'. 

Adepto da "arte pela arte", ele não concorda com os recursos 
de que ela se vale, principalmente, parece, a atração sexual. 
Eis que ela consegue seu espaço, mas ele vê esse brilho, não 
como um fogo-fátuo, mas como um meteorito (estrela cadente), 
que brilha enquanto queima no atrito com a atmosfera. 

Resta então um 'ateu' não mais crente na 'deusa', na verdade 
um 'deus ex-machina', que sobe aos píncaros, mas somente 
por meios artificiais. 

Creio que, 'grossu modu', era isso que eu pretendia transmitir. 
Não é, porém, verdade absoluta, artigo de fé, dogma, o que 
o leitor extrair disso e achar que é o real sentido da coisa, 
pode ser uma conclusão mais acurada. 

Os autores procuram realizar o que lhes vêm à mente, mas 
não são juízes brasileiros, isto é, infalíveis.  

Abraço do tesco. 

3 comentários:

Unknown disse...


Tesco..acho que não ando bem...rsrs pois vejo erotismo no poema!
Só eu vejo isso?
alguém concorda comigo?
hiscla

CÉU disse...

Olá, tesco!

Acontece, frequentemente, comigo, o k com aconteceu com você. Por vezes, escrevo "coisas", que passados uns dias, já não fazem sentido para mim, e nem sequer já as entendo.

No soneto k você escreveu há uns anos, eu "vejo" o desejo de conseguir o amor, não esquecendo o físico, obviamente, de sua deusa, e apenas, isso. Até acho um soneto meio brando, pra te falar, com sinceridade.

Claro, você é falível, eu sou falível, nós somos falíveis, mas juiz, seja de que país for, NUNCA é "falível". Amei essa!

Abraço da Céu.

Shirley Brunelli disse...

O que pude captar deste soneto? Ficou claro, para mim, a expectativa dos primeiros encontros, a descoberta do outro e um tanto de erotismo, sim.
Bonito, tesco, gostei!
Kisojn!