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segunda-feira, 7 de julho de 2014

O CANHÃO DO MEIO-DIA

Lendo essa historinha, chamada de 'lenda', vi-me compelido 
a meditar sobre seu real significado. A história não é tão 
velha, tem que ser posterior à descoberta da pólvora pelo 
Ocidente, e ao desenvolvimento do relógio mecânico, o 
que a restringe a menos de setecentos anos. 

Também não é verossímil: Que aldeia à beira-mar seria tão 
rica, a ponto de desperdiçar pólvora assim, diariamente, 
apenas para marcar o tempo?  
Mas, leiamo-la: 

"O CANHÃO DO MEIO-DIA

Durante séculos, uma remota aldeia à beira-mar, numa 
costa distante, mantinha-se a par do tempo por meio do 
canhão que uma base militar local disparava exatamente 
ao meio-dia de sua posição no alto de um morro próximo. 

Isso foi muito antes do celular, da internet, da televisão e 
do rádio, e na aldeia o som do canhão do meio-dia era um 
fenômeno tão natural quanto o nascer e o pôr do sol, uma 
regularidade que celebrava o dia e separava a manhã da 
tarde. Ele moldava a estabilidade e o ritmo da vida dos 
aldeões, e era usado para planejar tudo, desde encontros 
comerciais até casos amorosos clandestinos. 

Segundo essa velha lenda, um adolescente perguntava-se 
como o canhão sabia que devia disparar exatamente ao 
meio-dia. Certa vez, subiu o morro e indagou ao artilheiro 
responsável como ele disparava o canhão. O soldado sorriu 
para o rapaz. Ele o fazia por ordem do oficial de comando, 
cujos deveres incluíam encontrar o relógio mais acurado 
possível e mantê-lo cuidadosamente sincronizado. 

O jovem então abordou o oficial de comando, que com 
orgulho lhe mostrou o preciso e finamente construído 
medidor de tempo. 

E como ele era acertado? Em sua caminhada semanal até 
a cidade, disse o comandante, sempre fazia o mesmo 
trajeto, que o levava a passar pela loja do relojoeiro local, 
onde parava e sincronizava seu relógio com o grande e 
venerável relógio da vitrine, aquele que várias pessoas na 
cidade também usavam para acertar a hora. 

No dia seguinte, o jovem visitou o relojoeiro e lhe 
perguntou como ele acertava o grande relógio na vitrine. 
"Pelo único meio confiável que qualquer pessoa daqui já 
tenha tido'', replicou o homem. "Acerto pelo canhão do 
meio-dia!" 

   *   *   *   

Provavelmente não há fato histórico fundamentando tal 
lenda, mas fica claramente explicitada nela uma genuína 
característica humana: Basear-se em aparências! 
Se alguma coisa aparenta ser firme, o ser humano tende 
a apoiar-se nela sem análise mais profunda, não ousando 
exercer o seu poder de raciocínio. 

Para isso influem, consideravelmente, os 'espertos'  que 
conseguem vislumbrar uma oportunidade de se sobrepor 
aos demais, auferindo vantagens indevidas, não somente 
impondo um ponto de vista restrito, como também, no mais 
das vezes, proibindo que se procure outro ponto de vista, 
outra explicação para determinado assunto. 

Assim a Terra ficou imóvel e chata por mais de mil anos, 
não se precisava lavar as mãos nem para trabalho de parto, 
o 'flogisto', partícula causadora do fogo, sobreviveu muito 
tempo, o tabaco era remédio pra asma, as doenças eram 
tratadas de acordo com as posições dos planetas nos 
signos do zodíáco, e por aí vai. 

Porém, não se pode exigir muito dos humanos, afinal ainda 
são seres em plena infância, o raciocínio é uma faculdade 
recente, podendo ter por volta de um milhão de anos. 
Eles ainda não se acostumaram a ver além das aparências. 

O futuro alterará isso, aprenderemos a ver a essência das 
coisas ultrapassando a barreira das aparências. 
Um dia cresceremos. 

Abraço do tesco. 

4 comentários:

Shirley Brunelli disse...

Sim, tesco, um dia cresceremos. O ser humano ainda engatinha, mas, está destinado a ser um anjo. Até esse dia chegar, quantos milênios passarão?
(Lindo lá...É tudo o que eu queria rs).
Querido amigo, um beijo!

Anônimo disse...

Tesco, acredito que emocionalmente ainda estamos nas cavernas. Avançamos muito na ciência e na tecnologia, mas ainda vai ser necessário um tempo para melhorarmos. E por conta disso, é mais do compreensível o fato de nós ainda darmos importância às aparências.
Beijotescas
Yvonne

Anônimo disse...


Tesco, achei muito legal: "não se pode exigir demais dos humanos"
Graças a Deus!Isso é uma benção mesmo.
Quanto a historinha faz a gente pensar no que seja a "VERDADE", assim como já verdade a terra ser chata, não é?
hiscla

Denise Carreiro disse...

Ainda somos seres ignorantes, muito próximos à animalidade, daí nos deixamos levar por tudo. Por isso essa mídia frenética, aproveita a fraqueza humana para nos levar a consumir mais e mais. Um dia cresceremos, sim.