Lendo essa historinha, chamada de 'lenda', vi-me compelido
a meditar sobre seu real significado. A história não é tão
velha, tem que ser posterior à descoberta da pólvora pelo
Ocidente, e ao desenvolvimento do relógio mecânico, o
que a restringe a menos de setecentos anos.
Também não é verossímil: Que aldeia à beira-mar seria tão
rica, a ponto de desperdiçar pólvora assim, diariamente,
apenas para marcar o tempo?
Mas, leiamo-la:
"O CANHÃO DO MEIO-DIA
Durante séculos, uma remota aldeia à beira-mar, numa
costa distante, mantinha-se a par do tempo por meio do
canhão que uma base militar local disparava exatamente
ao meio-dia de sua posição no alto de um morro próximo.
Isso foi muito antes do celular, da internet, da televisão e
do rádio, e na aldeia o som do canhão do meio-dia era um
fenômeno tão natural quanto o nascer e o pôr do sol, uma
regularidade que celebrava o dia e separava a manhã da
tarde. Ele moldava a estabilidade e o ritmo da vida dos
aldeões, e era usado para planejar tudo, desde encontros
comerciais até casos amorosos clandestinos.
Segundo essa velha lenda, um adolescente perguntava-se
como o canhão sabia que devia disparar exatamente ao
meio-dia. Certa vez, subiu o morro e indagou ao artilheiro
responsável como ele disparava o canhão. O soldado sorriu
para o rapaz. Ele o fazia por ordem do oficial de comando,
cujos deveres incluíam encontrar o relógio mais acurado
possível e mantê-lo cuidadosamente sincronizado.
O jovem então abordou o oficial de comando, que com
orgulho lhe mostrou o preciso e finamente construído
medidor de tempo.
E como ele era acertado? Em sua caminhada semanal até
a cidade, disse o comandante, sempre fazia o mesmo
trajeto, que o levava a passar pela loja do relojoeiro local,
onde parava e sincronizava seu relógio com o grande e
venerável relógio da vitrine, aquele que várias pessoas na
cidade também usavam para acertar a hora.
No dia seguinte, o jovem visitou o relojoeiro e lhe
perguntou como ele acertava o grande relógio na vitrine.
"Pelo único meio confiável que qualquer pessoa daqui já
tenha tido'', replicou o homem. "Acerto pelo canhão do
meio-dia!"
* * *
Provavelmente não há fato histórico fundamentando tal
lenda, mas fica claramente explicitada nela uma genuína
característica humana: Basear-se em aparências!
Se alguma coisa aparenta ser firme, o ser humano tende
a apoiar-se nela sem análise mais profunda, não ousando
exercer o seu poder de raciocínio.
Para isso influem, consideravelmente, os 'espertos' que
conseguem vislumbrar uma oportunidade de se sobrepor
aos demais, auferindo vantagens indevidas, não somente
impondo um ponto de vista restrito, como também, no mais
das vezes, proibindo que se procure outro ponto de vista,
outra explicação para determinado assunto.
Assim a Terra ficou imóvel e chata por mais de mil anos,
não se precisava lavar as mãos nem para trabalho de parto,
o 'flogisto', partícula causadora do fogo, sobreviveu muito
tempo, o tabaco era remédio pra asma, as doenças eram
tratadas de acordo com as posições dos planetas nos
signos do zodíáco, e por aí vai.
Porém, não se pode exigir muito dos humanos, afinal ainda
são seres em plena infância, o raciocínio é uma faculdade
recente, podendo ter por volta de um milhão de anos.
Eles ainda não se acostumaram a ver além das aparências.
O futuro alterará isso, aprenderemos a ver a essência das
coisas ultrapassando a barreira das aparências.
Um dia cresceremos.
Abraço do tesco.
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4 comentários:
Sim, tesco, um dia cresceremos. O ser humano ainda engatinha, mas, está destinado a ser um anjo. Até esse dia chegar, quantos milênios passarão?
(Lindo lá...É tudo o que eu queria rs).
Querido amigo, um beijo!
Tesco, acredito que emocionalmente ainda estamos nas cavernas. Avançamos muito na ciência e na tecnologia, mas ainda vai ser necessário um tempo para melhorarmos. E por conta disso, é mais do compreensível o fato de nós ainda darmos importância às aparências.
Beijotescas
Yvonne
Tesco, achei muito legal: "não se pode exigir demais dos humanos"
Graças a Deus!Isso é uma benção mesmo.
Quanto a historinha faz a gente pensar no que seja a "VERDADE", assim como já verdade a terra ser chata, não é?
hiscla
Ainda somos seres ignorantes, muito próximos à animalidade, daí nos deixamos levar por tudo. Por isso essa mídia frenética, aproveita a fraqueza humana para nos levar a consumir mais e mais. Um dia cresceremos, sim.
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