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quinta-feira, 31 de julho de 2014

CONTRACANTO: NATIMORTO

É um dos meus poemas pioneiros, quando a produção deles 
era bem esparsa, devido à preocupação com o curso de 
Geologia e, no período de construção deste (1977), com as 
tarefas do emprego no INSS (então INPS). 

Ele foi produzido para publicação num jornalzinho cultural 
que editávamos no setor de pessoal.  Cultural pensava eu, 
o editor-chefe, digamos assim, tinha objetivos políticos, no 
clube dos previdenciários, e necessitava de artigos variados 
e poesias, para dar um toque mais diversificado ao jonaleco. 

Indiferente a essas maquinações, vendi meu peixe, que não 
tinha nada a ver com o peixe deles. Enveredei numa temática 
nada ortodoxa aos "partidos" querelantes. Notem a rusticidade
da construção: 

"NATIMORTO  

Vida que não acontece 
É sonho que foi sonhado 
É lenho que foi queimado 
É o dia que anoitece.  

É o sol quando fenece 
É navio naufragado 
É vaso que foi quebrado 
É um crime que aparece.  

É uma sombre que parece 
Sempre fica a meditar 
Sem falar do que carece.  

É tufão que varre o mar 
É um mundo que perece 
É uma flor a murchar." 

   *   *   *   

O detalhe é que eu pensava unicamente nos bebês nascidos 
mortos por causas naturais, ou que morrem logo após o 
nascimento, e não estendia, de modo algum, ao resultado de 
abortos planejados. O verso "É um crime que aparece" se 
refere, ou pretendia se referir, ao impacto que se sofre (ou se 
sofria, a vulgarização pela mídia nos torna qmase insensíveis), 
ao tomar conhecimento de um crime. 

O soneto, no entanto, foi entendido como um protesto contra 
o aborto planejado, realmente, um crime moral, mesmo que 
seja praticado sem a consciência de estar cometendo crime. 

De qualquer maneira, nada se altera no modo de expressão 
do soneto, ambas as situações são dolorosas, tanto para os 
pais, quanto para o espírito reencarnante. Afinal, neste mundo, 
as provações são, quase sempre, incontornáveis. 

Abraço do tesco. 

6 comentários:

Shirley Brunelli disse...

Realmente, tesco, a palavra "crime" , deu essa conotação de aborto. Mas, com ou sem aborto, ficou ótimo, profundo, perfeito...
Gostei muito.
Beijos!

Anônimo disse...


Penso que você queria mesmo falar do aborto criminoso.
Ficou um bom protesto.
E também que assusto com a forma que vamos naturalizando as tragédias e nos tornando insensíveis a ela.
Essa insensibilidade é uma indiferença ou é uma certeza que todos nos pereceremos, com ou sem tragédia?
Eu não sei a resposta, acho que ninguém sabe..
É muito legal encontrar seus poemas por aqui.
hiscla

Eduardo de Souza Caxa disse...

Discordo dos comentários acima. Pelos demais versos, fica "claro" (tão claro quanto qualquer poema, que pra mim é sempre complicado de interpretar) de que você relacionava o natimorto a "cenas" variadas, não uma acusação. Digo, seria um verso que destoaria do sentido dos demais, portanto acho que a interpretação deveria ter sido fácil, seguindo a lógica do poema todo. Ou seja, procuraram pelo em ovo.

Denise Carreiro disse...

Quando não conhecemos a justiça divina, é intrigante esses acontecimentos, além das crianças em tenra idade, que possuem doenças gravíssimas. Tenho certeza que hoje essa preocupação não ocupa mais lugar em sua mente. Muita paz!

Clara Lúcia disse...

Poxa vida... olha, sou meio crua pra entender um poema como o autor deseja ser entendido, mas seu comentário pós poema me fez pensar em tantos e tantos abortos provocados sem o menos escrúpulo, como se a mãe fosse dona absoluta de seu feto, se esquecendo da lei suprema que é Deus e que não estamos ou viemos aqui por acaso.

Um bom fim de semana, beijos!

Anônimo disse...


Eduardo, creio que referiu aos meus comentários.
Acho mesmo que Tesco critica o aborto, espontâneo ou não. E que o poema é mesmo um protesto ao aborto criminoso.
Talvez isso se de em razão da minha própria colocação em relação ao tema~: discordo do aborto criminoso.
hiscla