No sábado passado, Shirley fez uma romântica proposta
- não a mim, claro - a um amante que está, talvez, distanciado
fisicamente, mas,com certeza, distanciado emocionalmente:
Por razões desconhecidas resolveu desatar o vínculo que o
ligava à doce amada.
Loucura? Ambição? Inconsciência momentânea? Muitas são
as explicações possíveis, e os casos são bem numerosos.
As reações, no entanto, são de duas ordens:
Uma é a de alívio: - Até que enfim, aquele traste foi embora!
A outra é a sensação de perda: - Meu Deus! Que será de mim?
Esta última pode ser causada por verdadeira afeição. E é este
o caso enfocado no poema da Shirley, ela se sente ninguém
com a ausência e não há barreira que possa impedi-la de
recuperar o amor perdido, a não ser a recusa dele.
Veja se não é isso que ela nos mostra:
PROPOSTA
Shirley
(2015.06.27)
"Sou barco perdido
nas águas da noite
partículas de poeira
a flutuar diante das estrelas.
Sou ninguém
sem o seu cheiro e o seu amor
e se ainda me quer
me chame que eu vou...
Porque
não há porta ou janela
muro ou cerca elétrica
que me impeça
de correr até você."
* * *
Vimos então que ela demonstra dúvida sobre os sentimentos
dele, que pode querer retornar ao antigo estado ou não.
Fatores diversos podem influir nesta decisão enão fazemos
a menor ideia de qual ela seja.
Para dar continuidade a este romance, porém, assumimos que
o sujeito quer refazer toda a situação anterior e, na sua pseudo
resposta, faz algumas analogias para seus sofrimentos e ainda
reafirma sua intenção de "recadastrar-se" na rede dela.
DUVIDA?
tesco
(2015.06.30)
"E se ainda me quer..."
O que significa isto
Pois, se eu ainda existo?
Quando olho as estrelas
Não almejo ir pra elas
Só para ti me projeto
Tenho a vida de um inseto
Sem ter uma fruta em vista
A jornada de alpinista
Sem uma montanha à frente
Levo vida descontente
Sem ter uma meta certa
E a saudade sempre aperta
Quando te lembro a figura
Minha santa criatura
Tu não conheces tormento
Quebro a cara, me arrebento
Mas para ti voltarei
Terei a sorte de um rei
Quando estiver ao teu lado
Reviverei o passado
Recuperando a mulher.
"E se ainda me quer...!"
* * *
A intenção do 'nosso herói' parece ser firme e decidida, se ela
duvida, ele não.
Um poema, porém, não apresenta somente uma interpretação,
como se fosse versão cinematográfica de um livro. Além desse
fato, o poema em questão mostra facetas variadas para uma
abordagem diversificada.
O que me atraiu a atenção foram os dois versos iniciais, que
estão formatados numa mesma métrica - redondilha menor,
como são chamados os versos de cinco sílabas - sugerindo-me
imeditamente novo poema com a nova métrica.
Mantendo a mesma temática e a mesma intenção, pus-me a
caminho e, utilizando outras palavras, tal foi o resultado:
ME CHAMA QUE VOU
tesco
(2015.06.30)
"Sou barco perdido
nas águas da noite
embora me afoite
em terra ignota
meu senso se embota
não há quem me acoite
me sinto fugido
e desiludido.
Sem porta ou janela
pra me dar escape
eu temo tacape
de bruto demente
que meta o dente
e me esfarrape
meu crânio destape
e deixe sequela.
Entanto, teu sou,
talvez nada valha
rasteira gentalha
de pó sou partíc'la
que nada recicla
e o sangue se coalha
mas se me agasalhas
me chama que vou."
* * *
Duas advertencias me parecem necessárias.
Primeiro que a metáfora predomina. Portanto, o denominado
"bruto demente" não é um selvagem primitivo ou um louco
furioso, mas a própria mente do indivíduo, se desgovernando
e pondo-o "esfarrapado".
Segundo, já é praxe que eu aproveite o embalo ao formar um
poema e me ponha a elaborar outro, muitas vezes com a
reciclagem de elementos desprezados no poema anterior.
Então, não se trata de um vão exibicionismo, mas de exemplo
de 'economia sustentável'.
Esclarecido isto, convém ressaltar que 'Proposta' da Shirley
foi devidamente aceita. Pois não?
Abraço do tesco.
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9 comentários:
Tesco,
Eu só tenho uma coisa a dizer: Você é o cara!
Eu tinha 15 anos quando andei por três anos de maria-fumaça para outra cidade para fazer o Normal.
Sinto saudades dos amores que morreram no ar, sinto saudades das flores, das campinas e choro a cidade muda circundada de canaviais, sinto saudade da beleza que ficou para trás, não que eu me ache feia.kkk
Adoro a Shirley
Eu tenho mas atrás pequenos contos recheados de metáforas, parece que os dois gostam demais. Eu também gosto.
Beijos no coração
Agora vou dormir....
Como eu já disse, você vê detalhes que eu mesma não percebo em algumas poesias.
Parabéns, pela inspiração em dose dupla rs. Muito bons!
Boa noite, tesco, beijos!
Tesco, você anda mesmo inspirado e creio ser essa uma excelente parceria (com Shirley).
contudo...o tempo ensina que os amores partem mesmo, para que outros novos venham...
A destruição, as partidas fazem parte...isso para que o novo possa vir.
hiscla
É verdade, Shirley, que vejo detalhes que voce não percebe,
mas isto não é peculiaridade minha.
É que vejo a obra como leitor e você a vê como autora.
Como consequência natural você não pode abranger todo o
universo que o poema descortina, tem que se ocupar com
o conteúdo, a coerência, a estrutura, a beleza e a grafia
dele. A visão fica restringida, queiramos ou não.
Embora a maioria das pessoas não perceba, já se dirigem
a qualquer peça com a intenção de um sentido único de
interpretação, e as coisas da vida, e da arte, não são
assim, exclusivistas.
Kisojn.
Sim, hiscla, a vida é isso, uma eterna reciclagem.
Há momentos de destruição e momentos de renascimento.
Mas em termos de amores, o ser humano é mais apegado,
e crê que o passado é que é o tempo bom, quando o
melhor tempo, na verdade, é o futuro!
Kisojn.
Que belo poema está embutido no seu comentário, Lua!
Creio que o deve burilar para publicá-lo.
Kisojn.
Uma parceria perfeita!
Sinto no primeiro poema, que o rapaz se foi, mas deixou um pé virado pra trás, digamos que deu um beijo e deixou um cheiro. Não foi um adeus, mas um "se quiser eu volto".
E foi o que fez. Talvez foi embora só pra provocar o coração da coitada, que nem entendeu o porquê da partida. Então o trouxe, em pensamento, e ele lá do outro lado, leu o pensamento e sentiu vontade de voltar....
Que lindo!
Beijos nos dois!
Tive a mesma sensação, Clara, o adeus definitivo
não deixa endereço. Ela sabe onde ele se encontra
e pode se comunicar.
Não sei até que ponto nossa poesia se casa, pois
a minha já é concebida "noiva", comprometida. rerré!
Beijos.
Oi tesco,
Nunca é tarde para ser feliz!
Hoje sou feliz
Beijos no coração
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