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domingo, 5 de abril de 2015

MUNDO ATUAL E PLUTARCO

- Que tem o mundo atual a ver com Plutarco, tesco? 
Você não está indo longe demais, com essa mania de ler 
coisas antigas? 

Mas eu nem li Plutarco, é que Montaigne... 

- Ih! Lá vem ele de novo com esse tal de Montaigne! 

Pois é. Quando li o capítulo 32 do 2º vollume dos "Ensaios",
arquivei esse 
trecho que achei interessante. O capítulo se
chama "Defesa 
de Sêneca e de Plutarco". 

- Defesa, é? E quem acusou? Se eles são do PT, estão... 

Nada de política! Sobre Sêneca eu nem me lembro, anotei 
somente sobre Plutarco, que foi acusado por Jean Bodin 
(1530-1595), um magistrado e filósofo contempotâneo de 
Montaigne, autor do livro “Método para fácil aprendizagem 
de História", de ignorância. 

- Vige! Então esse Bodin queria ser o cão chupando manga! 
Porque de Plutarco já ouvi falar, mas desse tal de "Bodan", 
nem o cheiro! 

Pois é, veja o que Montaigne escreveu: 

"Acho-o um pouco ousado nesse trecho de seu Méthode 
de l’histoire em que acusa Plutarco não só de ignorância 
mas também por esse autor descrever muitas vezes coisas 
inacreditáveis e inteiramente fabulosas (são suas palavras). 
Se ele tivesse dito simplesmente “as coisas diferentes do 
que são”, não haveria uma grande crítica, pois temos de 
tirar das mãos de um outro e de sua boa-fé aquilo que não 
vimos". 

Até aí, tudo certo, temos que concordar com Montaigne, pois 
a maior parte do que sabemos provém de outrem, não vimos 
nem ouvimos da fonte original. Mesmo com a transmissão 
instantânea, via eletrônica, pode-se ainda desconfiar de 
manipulações, interpretações e falta de contexto. 

- Eita! Tudo isso? 

Bem, o que não falta é teoria conspiratória. Mas continuemos 
a ler Montaigne: 

"Mas acusá-lo de ter tomado como favas contadas coisas 
inacreditáveis e impossíveis é acusar de falta de 
discernimento o autor mais judicioso do mundo. E eis o 
exemplo dele: “Como”, diz, “quando relata que um garoto 
da Lacedemônia se deixou dilacerar todo o ventre por uma 
raposinha que ele furtara e mantinha escondida sob a túnica, 
preferindo até morrer a revelar seu furto”. 

À primeira vista, é difícil acreditar nisso. Mas os costumes 
mudam, isso é notório. Não só de época como de lugar. 
Roubar o dinheiro público é algo muito feio... na Suécia! 
Mas vejamos as explicações de nosso nobre cronista: 

"Nos costumes dos lacedemônios não havia nada de 
que mais dependesse sua reputação, nem com que 
sofressem mais reprovação e vergonha do que ser 
flagrado num furto. Estou tão imbuído da grandeza 
daqueles homens que não só não me parece, ao 
contrário de Bodin, que essa história seja inacreditável, 
mas nem sequer a acho estranha e rara." 

Bem, tá explicado e faz sentido, se excetuarmos o Brasil. 
Era uma grande vergonha ser flagrado num ato ilícito, e 
aqui no Brasil também já foi assim. Tanto que, qualquer 
coisa ilegal era envolvida em sete (ou mais) capas. O mais 
importante era manter a aparência de honesto, de decente. 

Tanto que corria um 'ditado' lá em Recife, nos anos 70, 
pelo menos (hoje eu não sei se corre, nem mesmo se anda): 
"Vergonha é roubar e não poder carregar". 
Hoje há uma maior 'flexibilidade' e todos sabem que 
"Vergonha não mata ninguém!". 

Mas reparem nesse último parágrafo citando Montaigne. 
Ele explicita que "Estou tão imbuído da grandeza daqueles 
homens...", ou seja, o conceito de Montaigne sobre a 
'grandeza' (moral, evidentemente), era aparentar virtude 
e não tê-la de fato. 

- Quer dizer, a grandeza moral de antigamente também era 
uma mera ficção. 

Isso! Você foi brilhante agora, essa foi também a conclusão 
a que cheguei. Quem fica louvando o passado em questões 
de honestidade e decência, está apostando na "zebra". 

Temos que tratar de melhorar a essência, mesmo que a 
aparência deixe a desejar. "Quem vive de passado é museu".

- Epa! E o historiador? E o arqueólogo? E o geólogo? E... 

Tá certo, tá certo, foi mal! Errei, errei! 
Esqueçamos este final, temos que manter a aparência de... 
Epa, Falei demais! 

Abraço do tesco. 

2 comentários:

Shirley Brunelli disse...

Já estudei Plutarco, mas, não lembro nadinha. Não fosse você, ele estaria para sempre, deitado em berço esplêndido, bem no fundo do meu esquecimento.
Eu ia dizer que o garoto de Lancedemônia, era muito macho, mas, parece que não era bem assim...
Enfim, cada vez mais, constato que vivemos em um mundo de aparências.
Kisojn, mia amiko!

Denise Carreiro disse...

Penso que os desvios de conduta começam no passado. Quando estudamos história, compreendemos todos esses vícios atuais. Portanto, os homens do passado não eram "santos". E como bem diz vc, encobriam os maus feitos em 7 capas. Muita paz!