Dema amava Tássia.
Amava e ama, nada indica que esse amor findou.
Visitava-a sempre, mais de duas vezes na semana, e sempre
lembrava-se de lhe levar algum mimo: Flores, bombons, livros,
CD's, bijuterias... Um namorado verdadeiramente dedicado.
Só havia um problema: Não era o namorado!
Isso mesmo, não era. Porque, por mais que se esforçasse em
tentar convencer Tássia a favorecê-lo, ela não o fazia, pois já
havia outro horizonte para o aeroplano de Tássia. Ela estava,
segundo dizia, 'perdidamente apaixonada' por Fúlvio.
Ela o conhecera na Universidade, justamente numa das vezes
em que ia até a sala do Dema, que era seu vizinho de bairro,
e que já fora seu colega no mesmo cursinho pre-vestibular.
Amor à primeira vista! Pelo menos no lado 'Tassiano". Fúlvio
foi envolvido pelo charme jogado pela Tássia e acabou
'aceitando' o namoro, devido à intimidade com que Tássia o
tratava.
Fúlvio não era um namorado ardente, nem muito frequente,
aparecia ou nos ´sabados ou nos domingos, alegando sempre
estar 'fraco' em determinada matéria, e ter que estuda-la,
tendo em vista a próxima prova. Algumas vezes, Dema se
dirigia à casa do Fúlvio para estudar também, e Tássia o fazia
de "corta-jaca", um mensageiro levando lembretes melosos:
"Dê uma passadinha aqui, no sábado. Fiz um docinho
delicioso!".
Esse papel era aceito por Dema, com resignação e alegria.
Alegria porque sempre tinha um pretexto para ir até a casa
de 'Tassinha', como ela chamava: A semelhança fônica com
'tacinha' lhe agradava, pois ele a via tão frágil quanto uma
taça de cristal.
A resignação era fruto de um sentimento de provisoriedade
que Dema sustentava em relação àquele namoro: Apesar do
entusiasmo de Tássia, ele não acreditava que aquilo tivesse
futuro. Personalidades muito diferentes. Tássia era alegre,
expansiva, irrequieta, curiosa; Fúlvio retraído, tímido, calado.
Embora sempre elegante e com porte de lorde, ou talvez por
isso mesmo, Dema o classificava como 'meninão da mamãe'.
Não! Mais cedo ou mais tarde aquilo se acabava. E Dema
estaria por perto para aproveitar o "bota-fora"!
Chega o final do semestre, ambos aprovados, Fúlvio sempre
com notas um pouco melhores que Dema - ele era mesmo
dedicado ao estudo - e, uma tarde, em casa de Fúlvio, Dema
lembra de lhe falar:
- E aí, cara, agora você pode ser mais assíduo com a Tassinha.
Ela está sempre cobrando.
Com um olhar pesaroso e voz morosa, Fúlvio respondeu com
uma pergunta:
- Você a ama, não é?
(Ele nunca falava "né". Será que achava que isso é coisa da
plebe?)
Surpreendido, Dema tornou-se sério sem o notar, e assumiu:
- Sim! Ela é mais que uma irmã pra mim.
E acrescentou, depois de alguns segundos de hesitação:
- É por isso que você não é tão dedicado a ela?
Me vê como um rival?
Mais retraído de que o costume, Fúlvio respirou fundo, como
se arregimentasse forças, e disse:
- Não! Você não é um rival, ela é a rival. Eu amo você!
Abraço do tesco.
Assinar:
Postar comentários (Atom)
5 comentários:
Uau! Esse final não estava nos meus planos rs. Mas, parece que isso anda acontecendo com frequência. Enfim, quando a pessoa nasce homossexual, não tem solução e devemos ser indulgentes para com ela. Nada acontece por acaso.
Beijos, tesco!
Também me surpreendi. Fiquei mais assustada que o objeto amado. Interessante como nunca sabemos o que vai dentro do outro!
hiscla
KKKKKKKKKK, também não estava nos meus planos. Tesco, escreva mais querido.
Beijotescas
Hummm...A emenda está ficando melhor que o soneto...E agora , o que é que eu faço rs?
Que final é esse? Simplesmente surpreendente, tal como vc. Gosto muito de ler o que vc escreve. Muita paz!
Postar um comentário