Discorrendo sobre as civilizações grega e romana, em seu
livro “A cidade antiga”, o historiador francês Fustel de
Coulanges (1830-1889), no livro primeiro, capítulo 1 –
“Crenças a respeito da alma e da morte”, escreveu:
“As mais antigas gerações acreditaram em uma segunda
existência depois da atual. Encararam a morte não como
dissolução do ser, mas como simples mudança de vida.
Mas em que lugar e de que maneira se desenrolava essa
existência?
De acordo com as mais antigas crenças dos itálicos e dos
gregos, a alma não passava sua segunda existência em
um mundo diferente do em que vivemos; continuava junto
dos homens, vivendo sobre a terra.
Acreditou-se por muito tempo que, durante essa segunda
existência a alma continuava unida ao corpo.”.
Creio que nenhuma religião intitulada de cristã, dissemine
tal doutrna.
Coulanges prossegue:
“Acreditava-se tão firmemente que ali vivia um homem, que
nunca deixavam de enterrar junto com o corpo objetos que
supunham ser-lhe necessários, como vestidos, vasos e
armas. Derramava-se vinho sobre o túmulo, para matar-lhe
a sede; levavam-lhe alimentos, para saciar-lhe a fome”.
E, mais na frente, diz:
"A primeira opinião dessas gerações antigas foi que a criatura
humana vivia na sepultura, que a alma não se separava do
corpo, e que permanecia unida à parte do solo onde os ossos
estavam enterrados.".
Conta-nos a continuidade desse pensamento, para mostrar
porque as pessoas se esforçavam em não deixar que faltasse
comida aos mortos:
"A criatura que vivia debaixo da terra não estava tão livre
de sua condição humana para não ter necessidade de
alimentos. Assim, em determinados dias do ano, levava-se
uma refeição a cada túmulo.".
Cita o depoimento de Luciano quanto a esse aspecto:
“Os mortos alimentam-se dos manjares que colocamos sobre
seus túmulos, e bebem o vinho que neles derramamos; desse
modo, o morto que nada recebe, é condenado à fome
perpétua.”
Ao encerrar o capítulo, ele diz:
"Eis aí crenças antigas, e que nos parecem realmente falsas
e ridículas.".
Essa consideração, já em meados do século 19, não é
incoerente, e nós, atualmente, sabemos, ou pensamos que
sabemos, que a teoria dos antigos é inteiramente falsa.
Mas, como tudo é relativo, a ideia não é inteiramente falsa,
sob determinadas circunstâncias. A de que a pessoa creia
nisso, por exemplo.
Lemos em livros de André Luiz, obras psicografadas por
Chico Xavier, citações de espíritos que permanecem junto a
seus cadáveres, por crerem que assim deva ser, sejam eles
materialistas, Testemunhas de Jeová, ou que esposem uma
doutrina que ensine semelhante comportamento. No caso
de materialistas, nada há pra se observar depois da morte
do corpo físico. No caso de Testemunhas de Jeová, a alma
deve se extinguir com o corpo físico, sendo posteriormente
resuscitada por Deus.
Nessas situações não há comunicações dos próprios
espíritos a narrar tais acontecimentos, pois eles estão, como
deveriam estar segundo seu pensamento, inconscientes.
Mas, nada impede que, espíritos semi-conscientes, possam
manifestar-se, expressando os horrores de se estar preso ao
seu próprio cadáver, o que resume "a morte" para eles.
E não descarto que isso (essa manifestação) tenha ocorrido
na Antiguidade, levando os 'ouvintes' a formularem teorias
tão estapafúrdias.
Muito há ainda, principalmente para nós, diletantes do
conhecimento, a ser pesquisado nos textos escritos, mesmo
sem experiências práticas. O bom senso ajuda nas pesquisas.
Voltaremos a Coulanges numa próxima oportunidade, pois
ele nos fornece informações interessantes.
Abraço do tesco.
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3 comentários:
Tesco, realmente, as pessoas antigas misturavam fatos de suas experiências, as vezes, de mediunidade, com crenças e superstições, gerando teorias estranhas, mas com um fundo de verdade. Ainda bem que surgiu Kardec para estudar seriamente e nos deixar tantos ensinamentos e esclarecimentos. Muita paz!
Penso que esse assunto é mesmo um mistério. Não sei mesmo como é estar "de lá", mas é verdade que muitos povos creem nisso de maneira diferente, nem que seja um mármore rodeado de virgens.
De todo jeito, é muito bom acreditar que não nos acabamos com a morte e que não vamos reencarnar num animal qualquer.
hiscla
Seria injusto se os políticos corruptos, e outros tantos malvados, ficassem confortavelmente inconscientes para todo o sempre.
Abraços, tesco!
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