Faz tempo que preparava dados pra falar sobre a concepção
de heroi do Roberto Gomez Bolaños, porém, devido ao troca-
troca de computadores, perdi os dados. Refeitas as pesquisas,
passo a tratar do tema, embora, nesse intervalo, Bolaños
tenha desencarnado.
Em 1970, Roberto Bolaños criou o personagem Chapolín
Colorado, para satirizar os heróis retratados nas histórias
em quadrinhos e nos filmes de Hollywood. O personagem é
apresentado como um herói "mais ágil que uma tartaruga,
mais forte que um rato e mais inteligente que um asno".
Numa entrevista ao canal SBT, em 1988, Bolaños afirmou:
"Chapolin é uma sátira de Batman e Superman. Quando m
me perguntavam que se a ideia era criar um anti-herói,
eu dizía que não, que tinha criado um herói; anti-heróis
são Superman e todos os demais.
Por exemplo: se Superman é capaz de deter, voando no
espaço, um asteróide que vai se chocar com a Terra, não
é um herói. É que quem pode fazer isso, pode fazer o que
quer, pode enfrentar o problema físico que quiser. Esse não
é um herói. É uma caricatura de um ser inexistente e
impossível. E o Chapolin, ao contrário, é um ser humano
que enfrenta todas as crises, incluindo o mais humano de
todos os problemas: o medo.
Chapolin sente um temor enorme, pavor a mil, mas o vence.
Derrota o seu medo e aí se converte em herói! Não é herói
aquele que carece de medo. O herói é quem sente medo,
enfrenta-o e o supera. O Chapolin não enfrenta a alguém
que quer destruir o mundo, mas sim ajuda a dona de casa,
que não tem quem a auxilie, a tirar a sujeira, a limpar a casa.
Há ocasiões em que tem que enfrentar poderes muito grandes
e o faz, mas nem sempre ganha, porque os seres humanos às
vezes ganham e às vezes perdem."
"Cervantes escreveu Don Quixote como uma crítica aos
romances de cavalaria e, guardando as devidas proporções,
criei Chapolin como o anti-herói latino-americano, uma
resposta aos Batmans e Super-Homens que nos invadem
vindos do Norte".
Aí está uma concepção válida e coerente. Neste mundo em
que a mídia nos impõe centenas de herois imaginários, caem
em segundo plano os milhares de herois cotidianos, que
superam as dificuldades apesar de todo o medo que guardam.
E, na imensa maioria das vezes, de modo lícito, o que é mais
difícil ainda.
Se isso não é, infelizmente, uma noção ensinada nas escolas,
é inculcada nas mentes pela exibição na TV, dos episódios de
Chapolin, que conta com milhões de admiradores.
Afora isto, pesquisando sobre o Chapolin, descobri este fato
emocionante, vivido pelo Bolaños, que eu, até agora,
desconhecia, e que está descrito em Vila do Chaves:
"Chespirito conta que em uma viagem a Colômbia com todo
o elenco do programa estavam visitando centros turísticos.
Eles viajavam de ônibus e em um ponto subiu um menino
pobre vendendo doces e outras guloseimas, e quando
chegou ao assento onde estava Chespirito, ficou hipnotizado
e em uma fração de segundos este menino tirou todo o
dinheiro que tinha em seu bolso e disse:
“Chaves, toma para que compre seu sanduíche de presunto”.
Roberto ficou perplexo perante o que este menino pobre
acabara de fazer e ele como um cavalheiro que é, aceitou
o dinheiro, pois não quis desfazer a ilusão do menino."
A força da televisão não é nada desprezível!
Que a obra de Bolaños perdure ainda por muito tempo.
Abraço do tesco.
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4 comentários:
Gostei!
ele é muito humano, muito próximo a nós.... adorei sua transcrição da entrevista!
beijos!
E que lhe sigam os bons! :-)
(Volto mais tarde pra desejar Boas Festas :-)
P,S.: "Prove que você não é um robô"? Poxa, Blogger, o ônus da prova é do acusador... Prove que eu sou!
Pois é, Edu, é uma grande safadeza que o Blogger está fazendo
com pobres blogueiros. Já desativei essa verificação
- que nunca esteve ativada - mas o Blogger insiste nisso,
e implica até comigo!
Sacanagem das boas, quer dizer, das más.
Abraço.
Adorei a "homenagem"!
muito merecida...algo que perpassou gerações.
Valeu, tesco, muito bem escrito.
hiscla
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