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quinta-feira, 18 de dezembro de 2014

CONTRACANTO: HIPOCONDRIA E COTOVIA

Depois dos (in)sucessos de ontem (post anterior), seria natural 
que nem me lembrasse de Contracanto nessa quinta. Porém 
aconteceu uma coisa boa, pelo menos pra mim, durante os 
momentos de espera. Dediquei-me a me divertir em atividade 
mental, que não é impedida pela inatividade física forçada. 

Desse modo, tentei compor sonetos, que é algo que muito me 
distrai. Nessa primeira etapa, amarrado ao tubo de soro, 
pus-me a lembrar de quem parece agradar-se de uma situação 
destas. Assim, formei este soneto, que, se não é bonito, é 
engraçado. 

HIPOCONDRÍACO
tesco
(2014.12.17)

Com o auxilio de um poste, 
Soro pinga em minha veia. 
A coisa parece feia.  
Incrivel, mas ha quem goste. 

Militando nessa hoste, 
Com cara de lua cheia, 
Tem muita gente que anseia, 
Que o sofrimento lhe arroste. 

Nao quero ser maldizente, 
Mas o dia chegara, 
Para gente que com pompa, 

Tem prazer em ser doente. 
Cara a paca pagará, 
Quem a paca cara compra. 

   *   *   *   

Aí está, saiu direitinho e fechei com um famoso 'trava-línguas', 
que, me parece, casa bem com o conceito de hipocondríaco. 
Eu só vou a hospital carregado (literalmente), mas tem quem 
vá lá, mesmo sem precisar. 

   ~   ~   ~   

Não totalmente apartado do assunto hospital, mas com um
 enfoque bastante diverso, lembrei-me de um amigo que 
rememora sua amada, "expatriada" há seis anos, e tentei 
construir um soneto para o caso. Aqui fantasiei um bocado, 
tanto na lamentação, quanto na consolação, uma vez que, 
infelizmente, nosso amigo não é espiritualista. Mas creio 
que vale a homenagem. 

COTOVIA
tesco
(2014.12.17) 

Tinha eu um passarinho 
Que a noite arrebatou 
Felicidade voou 
Me encontro agora sozinho 

Assim me esvazia o ninho 
Ventura me abandonou 
O sonho o fado levou 
Do inferno estou vizinho 

Mas quero por registrado 
Que a esperança não se foi 
De ainda tê-la ao meu lado 

Mesmo que seja depois 
De tudo ter se encerrado 
E estarmos juntos nós dois. 

   *   *   *   

Nesta existência, não conheço a sensação de uma separação 
definitiva, causada pela morte, para quem não comunga com 
os ideais espiritualistas (nem precisa ser espírita). Mas, sem 
dúvida, deve acarretar uma tristeza bem maior. 

   ~   ~   ~   

Com esses trabalhos, creio demonstrar que se pode aproveitar 
um intervalo de tempo, normalmente considerado perdido, 
fazendo-se coisa agradável, mesmo que no plano mental. 

Abraço do tesco. 

3 comentários:

Shirley Brunelli disse...

Nossa!!! Eu não sabia(meu computador está uma droga).
Mas, lanchinho às três da madrugada?...
Você está bem agora? Tudo tem um lado bom, rendeu dois sonetos rs.
Então, não pise mais no xixi, tesco, beijos!

Anônimo disse...

Três coisas.
Você viu que recentemente um homem há quarenta e seis anos no leito de um hospital fez um jogo para computador?
O sofrimento de Manuel Bandeira nos rendeu belos poemas e até belas traduções de poemas de amigos poetas que encontrou no sanatório. Ainda bem que é tarde para você seguir o caminho de seu conterrâneo.
E se lhe dissessem que a cotovia também não acreditava em vida após a morte e conversou com duas amigas antes de falecer e lhes disse que não lamentassem sua morte (segundo ela, sob protestos das amigas, não tardaria a morrer), pois ela mesma não lamentava a vida que teve, viveu-a intensamente e sua maior preocupação era com o viúvo, homem da vida dela; imaginava que ele se abateria profundamente e o desejo dela era que ele fosse muito feliz. A cotovia deixou parte de si naqueles que a amam.
Veja isto: http://www.youtube.com/watch?v=DkFszDCPnMs
Manoel Carlos

Anônimo disse...


Tesco, diria que isso é saber fazer do limão uma limonada, não é?
rsrs
hiscla