A beleza de um poema não reside na seleção das
palavras; nem na adequação delas ao contexto; estas
são regras para prosa. A poesia cede liberdade ao autor
para elaborar as mais inusitadas combinações de termos,
e isso confere aos poemas, as estruturas leves e soltas
que lhe são peculiares.
Poesia é a área ideal para quem tem a sensibilidade
flutuando ao sabor do vento como demonstra ser a alma
da Shirley, que, mais uma vez, nos encanta com suas
metáforas e nos alegra com o dinamismo da sua expressão.
Esta semana ela deplora a solidão de um ser cujo amado
não se apresenta - coisa muito frequente - mas se utiliza
de figuras semânticas invulgares. Pode dizer que estou
falando complicado, mas é isso mesmo que estou tentando
transmitir: A poesia de Shirley é complexa. Não é algo
como "Me dá aí dois quilos de arroz, que eu te dou dez
mirréis".
Veja o poema e entenda o que eu disse:
CORAGEM
Shirley
(2014.12.06)
"Eu quero
um corte na pele da palavra
um soco no estômago do vento
uma navalha na jugular do tempo
para assustar e dar um basta
na solidão que me devora.
Eu quero um padre
ou um analgésico
para me livrar da ansiedade
que embota a luz dos meus olhos.
A taciturna taça da noite
transborda míseras gotas de esperança
e para comprar um sorriso dos seus lábios
eu não tenho um vintém
mas você
não sabe
não liga
não vem!"
* * *
Bem, resumo tudo o que disse numa frase mais simples:
O poema é belo!
Agora é que vem o busílis! Frente a isso, o que poetar?
Meu método não é complicado, procuro captar um dos
aspectos do poema, e a partir daí, elaboro uma réplica.
Um dos aspectos não é a ausência? "você... não vem"?
A resposta nos dá o Chapolin Colorado: "Sim... Eu vou..."
Daí se origina este:
VOU SIM!
tesco
(2014.12.11)
"Nas dobras dos panos da imaginação
Cavalgo a minha águia favorita
(O tapete mágico jaz na oficina)
Para ir já ao teu encontro, minha bela!
E não preciso desfilar em passarela
Toda esta saudade que me alucina,
Quero de vez eliminar minha desdita
E ministrar um calmante ao coração.
De certo solidão é um bicho voraz,
Mas se alimentando do meu sofrimento,
Também aos poucos devorando meu sossego
Ela ainda vai morrer de indigestão.
Cedo ou tarde esta vã degradação
Sucumbirá ao meu devotado apego
Que em ti culmina com o meu sentimento
A saudade carrega meu amor atrás."
* * *
Aí o bicho pega!
Como tenho atração pela bela forma do soneto, procuro
fugir desse magnetismo, pra não ficar repetitivo. Então
largo um verso grande, pra não cair no ritmo dos poemas
que costumo construir. Mas eis que me surge... Quem?
Um alexandrino, verso de doze sílabas. Minha tendência
para a métrica se assanha, e procuro manter a medida.
Continuo com terminações diferentes, pra não cair na
arapuca dos verso rimados. Mas me cai na tela uma
terminação igual à anterior! Então não resisto mais.
Vou de alexandrinos rimados.
Mas, pelo menos, não é um formato padrão.
E a poesia?
Essa é mais difícil de capturar.
Espero que venha à reboque.
Abraço do tesco.
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4 comentários:
Querido amigo tesco, serei mesmo digna de suas considerações?...
Não posso negar que, como geólogo, você sabe muito bem analisar o solo onde pisa o poeta.
Beijos!
Meu Deus!!! Que troca de poesias lindas. Valeu Tesco e Shirley.
Beijotescas
Quando eu crescer farei sonetos dodecassílabos.
Manoel Carlos
Essa troca é perfeita!
Sintonia, mesmo que não sendo intencional....
Belíssimos poemas, os 2.
Tesco, um Feliz Natal e ótimo Ano Novo!
Beijos
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