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segunda-feira, 7 de abril de 2014

ANALISANDO LETRAS-11

AS BONECAS

Agora vou mirar três composições que têm um tema em
comum, e não é a boneca da infância das meninas, mas o
termo eufemístico, utilizado nos anos 50, para designar as
"meninas", jovens que 'caíam na vida', fazendo comércio do
próprio corpo. Pelo menos as três músicas nos deixam essa
impressão. 

A primeira delas, cronologicamente, é "Boneca de pano",
composta por Assis Valente e gravada, em 1950, pelo grupo
Quatro Ases e um Coringa, posteriormente, também por
Demônios da Garoa.

Verso curioso é o que diz:
"E ela, sendo mulher, acreditou".
Será que quer dizer que ser mulher é ser, necessariamente,
crédula? Não em todos os campos, mas particularmente
nesse, a vaidade feminina fala mais alto. A mulher parece
não acreditar em decadência do corpo e em velhice, quer
dizer, do SEU corpo e em SUA velhice.
Portanto, ela acredita em tudo que vai ao encontro de suas
ambições e de seus sonhos, mesmo os mais espatafúrdios.

Ouça a música clicando no título, aí embaixo:

BONECA DE PANO
Assis Valente

Boneca de pano
Gingando num cabaré
Poderia ser bonequinha de louça
Tão moça mas não é
Poderia ser bonequinha de louça
Tão moça mas não é

Um dia alguém a chamou de boneca
E ela sendo mulher, acreditou
O tempo foi se passando
E ela se desmanchando
E hoje quem olha pra ela não diz quem é
Em vez de boneca de louça
Hoje é boneca de pano
De um sombrio cabaré.
   *   *   *  


Pois é, "hoje quem olha pra ela...", não percebe os sonhos
que lhe guiaram os passos, apenas vê as consequências.
E estas chegam, quer queiramos, quer não...
 

   -   -   -  

A segunda composição é de Adelino Moreira, gravada por
Nélson Gonçalves em 1955, "Meu vício é você", conhecida
popularmente como "Boneca de trapo"

Adelino entrevia nessas peças humanas o cerne individual
que um dia fez suas escolhas, conscientemente ou não, e que
agora arrastam seu fardo, muitas vezes de modo automático.

Em muitos casos, entidades invisíveis agem, ofuscando-lhe a
visão com fantasias irrealizáveis, mas, a responsabilidade
maior é sempre do indivíduo, que pode ceder ou não às
influências. Quando o coração manda, não há satanás que
impeça!

Clique no título abaixo, e empolgue-se com a interpretação
do Nélson:

MEU VÍCIO É VOCÊ
Adelino Moreira

Boneca de trapo, pedaço da vida
Que vive perdida no mundo a rolar.
Farrapo de gente, que inconsciente
Peca só por prazer; vive para pecar.

Boneca, eu te quero com todo o pecado,
Com todos vicios; com tudo afinal.
Eu quero esse corpo que a plebe deseja,
Embora ele seja prenúncio do mal.

Boneca noturna que gosta da lua,
Que é fã das estrelas, que adora o luar,
Que sai pela noite, amanhece na rua
E há muito não sabe o que é luz solar.

Boneca vadia, de manha e artificios,
Eu quero pra mim seu amor só porque
Aceito seus erros, pecados e vicios.
Hoje na minha vida meu vicio é você
   *   *   *  


Quantas marionetes voluntárias rolam pelo mundo e
"pecam só por prazer, vivem para pecar"!
Muitos argumentarão; - E daí? O problema é só dela!
Se fosse somente isso, menos mal. A questão se agrava
quando o "objeto" é, na verdade, um chamariz, uma isca, o
"prenúncio do mal". Deus nos livre de servirmos de pedra
de tropeço para algum irmão. Sejamos sempre o protótipo
daquilo que desejamos ver no mundo.

   -   -   -  

A terceira é uma composição de Euclides Rangel (Bolinha) e
Sebastião Alves da Cunha (Biá), "Boneca cobiçada", gravada
em 1956 pela duola sertaneja Palmeira e Biá, e depois por
Carlos Galhardo  e outros.

Esta música inaugura o que seria conhecido como 'bolero
sertanejo', pois Bolinha, tendo escrito a letra, apresentou-a a
Biá, para que a musicasse, esperando que resultasse alguma
guarânia. Porém Biá, percebendo que o bolero estava no
auge da moda, conferiu-lhe este ritmo.

A letra fala em uma "viciada no destempero" (ou, para
muitos, 'no tempero'), que, mesmo conseguindo encontrar
um companheiro que lhe dá segurança e carinho, prefere
retornar à vida mundana, onde tem muitos "donos".

Isso poderia servir de base para quem defende a filosofia do
"o pau que nasce torto, morre torto", mas essa é uma teoria
ilusória. Viemos à essa existência para mudarmos a nós
mesmos, e sempre estamos mudando. Até as pedras perdem
as arestas. Nada é imutável.

Eu mesmo testemunhei o caso de uma ex-prostituta unindo-
se a um respeitável cidadão evangélico (naqueles tempos,
apenas "crente"), e assumindo a vida doméstica de uma
comum dona de casa. Essa compartimentação das atitudes
humanas só existe nas mentes preconceituosas.

Clique no título e ouça a música com Palmeira e Biá:

BONECA COBIÇADA
(Bolinha e Biá)

Quando eu te conheci
Do amor desiludida
Fiz tudo e consegui
Dar vida a tua vida
Dois meses de ventura
O nosso amor viveu
Dois meses com ternura
Beijei os lábios teus.

Porém eu já sabia
Que perto estava o fim
Pois tu não conseguias
Viver só para mim
Eu poderei morrer
Mas os meus versos não
Minha voz hás de ouvir
Ferindo o coração.

Boneca cobiçada
Das noites de sereno
Teu corpo não tem dono
Teus lábios tem veneno
Se queres que eu sofra
É grande o teu engano
Pois olha nos meus olhos
Vê que não estou chorando.
   *   *   *  


Note que esses cantores cantam o quinto verso como deve
ser cantado: "dois meses de ventura...", e não "de aventura",
(como canta Carlos Galhardo),  que não faz sentido, a nao
ser que a 'boneca' seja a mesma da música anterior. Rerré!

Pois bem, como já notaram, aprecio as letras de músicas
mais antigas, mas não é um saudosismo à toa, é que elas
contam uma história (qualquer que seja), não simplesmente
dizem "Urrú, mamãe, olha eu aqui!", como é mais comum
hoje.

Abraço do tesco.

6 comentários:

Anônimo disse...

Dantinhas, concordo com vc. A crítica construtiva que vc. faz é muito consistente e agrdável para mim. Dantinhas seria um escritor notável, assim eu acredito, Chico

Anônimo disse...


Bom dia, Tesco!
Muito legal o que você escreveu. E apesar de tratar a mulher como objeto tem poesia, tem letra e ritmo agradável. Mas a essência não muda muito: a visão da mulher a serviço dos desejos masculinos.
hiscla

Anônimo disse...

Tesco, você sempre nos surpreendendo. Eu me lembrei de uma amiga da minha mãe do tempo de mocinha, amizade essa que terminou, visto que o sonho dessa moça era ser prostituta no Rio. Tanto fez que foi para lá. Família importante, rica e de sobrenome famoso. Nunca consegui entender isso.
Beijotescas

Denise Carreiro disse...

Acho interessante esses comentários que vc faz sobre músicas. Algumas conheço, outras venho a conhecer através de suas observações. Concordo com vc, as músicas que falam sobre a vida, são muito melhores e mais agradáveis de ser ouvidas. Muita paz!

FOXX disse...

Em que momento "boneca" se transforma em sinônimo para travesti? Muito interessante sua postagem.

Shirley Brunelli disse...

Meu pai até que tocava bem violão e cantava as músicas do Nelson Gonçalves...Agora, ao ouvir "Meu Vício é Você", meu coração se encheu de lembranças e de nostalgia.
Beijo, tesco!