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domingo, 16 de fevereiro de 2014

BOBAGENS LINGUÍSTICAS 21

Voltando ao "Dicionário Etimológico Termos Médicos", de 
Simões, Lima e Baracat, continuamos aprendendo com 
algumas etimologias. 

NÁDEGA 
– do latim Nates, nádegas. 
O nome nates, sempre no plural, foi ,antigamente, dado aos 
colículos superiores do mesencéfalo. 
Nádegas localizadas no cérebro? Ah! Tá explicado porque 
tem gente que não tira bundas da cabeça! 

NEGRA 
– do latim Nigra, feminino de Nigrum, negro. 
Os romanos tinham o provérbio popular “Nigro notanda 
lapillo” significando que os dias de má sorte (infelizes) 
deveriam ser marcados, no calendário, por uma pedrinha 
negra. O contrário (dias de sorte, felizes) eram considerados 
“Albo notanda lapillo”. A cor negra era tida como de mau 
agouro, funesta. Os mortos ilustres eram parcialmente 
cobertos por lenços negros, em alusão ao “dia infeliz”. 
Embora a cor não fosse usada oficialmente como sinal de 
luto, pode ter surgido daí o hábito de vestir-se de negro nas 
datas funestas. 
Nada de racismo nisso, a escuridão e a negrura se 
confundem mesmo. "De noite, todo gato parece pardo", 
já nos lembra o ditado. 

NUCA 
– do árabe Nugraf, parte posterior da cabeça.
Só como curiosidade: Nem toda a nomenclatura do corpo 
humano provém do grego ou do latim. 

OBESIDADE 
- Do latim Obesus, gordo. Provém de Obedere, comer em 
excesso. 
Aí está um nome diretamente relacionado à causa. A 
obesidade não precisa de outra explicação, provém de 
comer em excesso. Necessita-se somente um compemento, 
a relativa ociosidade é que leva a transformar o excesso 
de energia ingerida, em gordura. 

PAVILHÃO 
– do Frances Pavillon, tenda e Papilionem, borboletas. 
Em francês, borboleta é Papillon e o termo Pavillon é 
obviamente uma forma variante. Talvez a palavra tenha 
surgido da semelhança encontrada entre os panos 
esvoaçantes das tendas de campanha com as asas das 
borboletas. Porém, é mais difícil entendermos a analogia 
entre a tenda (ou borboleta) e a forma do pavilhão da 
orelha externa. 
Não vejo a dificuldade de entender a analogia de borboleta 
com orelhas. Embora nunca tenha pensado nisso, orelhas 
me lembram asas de borboleta. 

PEITO 
– do latim Pectus, peito, a parte anterior do tórax. 
Em latim, a palavra Pectus significava apenas a parte externa 
(ósteo-muscular) do tórax, não compreendendo a cavidade e 
nem a mama. Em poesia, entretanto, tinha o sentido de alma, 
coração e, por extensão, sede de bons sentimentos, de 
fidelidade (daí a expressão - amigo do peito). Outros autores 
acham que derivaria do grego Pectis, gaiola, armadilha para 
pássaros, ou de Pectós, objeto feito de peças ajuntadas, pela 
semelhança da caixa torácica com estes objetos. 
Nunca vi a utilização do termo 'peito' que não incluísse a 
parte interna. Essa significação deve ter-se perdido entre 
os gregos mesmo. De qualquer maneira, nunca se atacou 
o peito 'pelas costas', né? 

PÊLO 
– do latim Pilus ou Pellis, pêlo de animal. 
Há um famoso provérbio latino: “Lupus pilum mutat, non 
mentem”, isto é, o lobo muda de pêlo mas não a mente. 
Difícil é ver a conexão entre a etimoogia em questão e o 
provérbio, mas que é um provérbio válido, não resta dúvida. 
E se for aplicado na política... Vixe! 

PELVE 
- Do latim Pelvis, bacia, caldeirão. 
Na Roma antiga, Pélvis era o nome de um grande vaso fundo 
com uma borda retorcida (como um caldeirão). A tradução 
fancesa da palavra Pélvis foi “Bassin” e, no final do século 
passado, por ser o francês a língua cientifica oficial 
(principalmente nos tratados de obstetrícia), traduziu-se para 
o portugues, literalmente como bacia e o termo ficou 
consagrado no uso médico. Portanto, a palavra bacia, 
embora de tradução literal correta, é um galicismo. Temos 
em português, a palavra “Pelve”, transcrição direta do latim. 
Realdo Colombo, em 1559, na sua obra “De re anatômica” 
popularizou o termo. 
Eis um erro que, no final, não é errado, pois a própria 
significação do termo original é a mesma do 'erro'. 
Parece mesmo é que somos uma coleção de analogias, 
com a 'batata' da perna oposta à 'canela', com uma 'bacia' 
bem ali, no 'pé' da barriga, e 'asas de borboleta' na cabeça. 
"E o palhaço, o que é?". 

PÊNIS 
- Do latim Penis, que significa originalmente Cauda. 
O órgão masculino, quando pendente, teria semelhança com 
uma cauda. Entre os romanos, assim como em portugues, 
havia inúmeras expressões populares para designar o pênis 
(clava, vômer, radix, ramus, gladius). Desta última (que 
significa espada) derivou, por extensão, o nome “vagina” 
(bainha). 
Interessante esta: Temos uma cauda na frente! 
Também vale notar a lógica da coisa: Existe local mais 
apropriado para guardar a 'espada', que não seja a 'bainha'?  

PERÍNEO 
– do grego Peri, ao redor de e Naion, ânus. 
Hipócrates usava as formas Períneon e Perínaion e Galeno 
restringiu o termo à área entre o ânus e o escroto, no homem, 
e entre o ânus e a vulva, na mulher. 
Um nome tão bonito para um local tão 'escroto'! 
Pense, você não nomearia seu filho de Períneo? 
Entre nomes esquisitos como Telésforo, Temístocles, 
Perivaldo, Arivélton, até que Períneo soa bem singelo. 

PERISTALSE 
- Do grego Peri, em redor e Stellein, mudar. 
A peristalse de fato movimenta o conteúdo intestinal em redor 
e para diante. 
Se eu fosse de jurar, jurava: Nunca tinha lido peristalse até o 
ano passado! E conheço 'peristáltico' desde a adolescência. 
Acontece, né?  

PESCOÇO 
– origem incerta. Não há concordância entre os 
etimologistas quanto à origem desta palavra e as hipóteses 
são quase todas de difícil acompanhamento etimológico 
e/ou semântico. 
Talvez seja derivada do latim Post (após, depois de) e Cocceus 
(relativo à concha) ou de Post, após depois de e do grego 
Kókos, esfera, ou ainda do latim Post, após, depois de e do 
latim Coccum, vermelho escarlate. A palavra anatômica 
correspondente à pescoço mais utilizada é “colo”. 
Sabia que 'carne de pescoço' é algo difícil, pesado, gente 
teimosa, mas que sua etimoogia também o é, eu nem 
desconfiava. 

PILORO 
- Do grego Pylorus, guarda do portão, derivado de Pyle, 
portão ou porta e Ouros, guardião. 
O piloro guarda a saida do estômago. Galeno usava o termo 
Grego Stenótis (estreito) para o canal pilórico do estômago e 
apenas comparava este canal com um Pylouros (guarda de 
portal de templos), mas em latim, o termo Pylorus indicava 
apenas o orifício distal do estômago. 
Mais tarde, o termo de comparação prevaleceu e esta escolha 
parece ter sido devida a Celso e adotada por Rufo de Éfeso e 
Júlio Pollux. Gustava Retzius dividiu a parte pilórica do 
estômago em canal e antro. 
Curioso como uma figura comparativa prevaleceu sobre 
alguma afirmação objetiva. É como se um 'chefão' dissesse, 
sobre um 'capanga': 
- Esse é o Justino, um verdadeiro cão de guarda. 
E o seu nome passasse a ser Cão de Guarda. 

PIORREIA 
- Do grego Pyos, pus e Rhoia, fluxo. 
Outra que eu juraria, se fosse de jurar. Um fluxo de pus, mas 
eu apostava que era infestação de piolho (pediculose).

Já basta, por hoje. 

Vou selecionar mais bobagens pra gente se divertir.

Abraço do tesco. 

5 comentários:

Milton Kennedy disse...

Saudações Robertos Dantas, obrigado por sua passagem lá no blog. Por enquanto minhas postagens serão bem raras... mas não dá pra ficar longe do blog muito tempo, rsrsrs.
Curiosas e engraçadas algumas destas definições.
Grande abraço, saúde, trabalho e paz.

Anônimo disse...


Adorei isso!
Nem sabia que meu corpo tinha nomes tão estranhos, mas sabia que bunda é so coisa do Brasil mesmo, os outros nádegas!
É muito legal isso, a origem das coisas...principalmente do corpo.
hiscla

Denise Carreiro disse...

Adoro esse teu trabalho com os termos da nossa língua. E os seus comentários são muito divertidos. Muita paz!

cynthia disse...

adorei !!
mas, com relação à obesidade, não tem gente que mesmo não comendo muito é obesa, por algum distúrbio hormonal?
e a das nádegas.... ah, acrescento que deve ser por isso que tem gente com m... na cabeça....
beijos!

tesco disse...

Tem isso sim, Cynthia, mas creio que essa patologia não chega a 10% dos casos. Não conheço as estatísticas sobre isso, mas acho que a maior parte da obesidade se deve a comer em excesso mesmo.
Os gordos daqui de casa, por exemplo (eu no meio), comem que nem uns desesperados! Risos.
Beijos.