Voltando ao "Dicionário Etimológico Termos Médicos", de
Simões, Lima e Baracat, continuamos aprendendo com
algumas etimologias.
NÁDEGA
– do latim Nates, nádegas.
O nome nates, sempre no plural, foi ,antigamente, dado aos
colículos superiores do mesencéfalo.
Nádegas localizadas no cérebro? Ah! Tá explicado porque
tem gente que não tira bundas da cabeça!
NEGRA
– do latim Nigra, feminino de Nigrum, negro.
Os romanos tinham o provérbio popular “Nigro notanda
lapillo” significando que os dias de má sorte (infelizes)
deveriam ser marcados, no calendário, por uma pedrinha
negra. O contrário (dias de sorte, felizes) eram considerados
“Albo notanda lapillo”. A cor negra era tida como de mau
agouro, funesta. Os mortos ilustres eram parcialmente
cobertos por lenços negros, em alusão ao “dia infeliz”.
Embora a cor não fosse usada oficialmente como sinal de
luto, pode ter surgido daí o hábito de vestir-se de negro nas
datas funestas.
Nada de racismo nisso, a escuridão e a negrura se
confundem mesmo. "De noite, todo gato parece pardo",
já nos lembra o ditado.
NUCA
– do árabe Nugraf, parte posterior da cabeça.
Só como curiosidade: Nem toda a nomenclatura do corpo
humano provém do grego ou do latim.
OBESIDADE
- Do latim Obesus, gordo. Provém de Obedere, comer em
excesso.
Aí está um nome diretamente relacionado à causa. A
obesidade não precisa de outra explicação, provém de
comer em excesso. Necessita-se somente um compemento,
a relativa ociosidade é que leva a transformar o excesso
de energia ingerida, em gordura.
PAVILHÃO
– do Frances Pavillon, tenda e Papilionem, borboletas.
Em francês, borboleta é Papillon e o termo Pavillon é
obviamente uma forma variante. Talvez a palavra tenha
surgido da semelhança encontrada entre os panos
esvoaçantes das tendas de campanha com as asas das
borboletas. Porém, é mais difícil entendermos a analogia
entre a tenda (ou borboleta) e a forma do pavilhão da
orelha externa.
Não vejo a dificuldade de entender a analogia de borboleta
com orelhas. Embora nunca tenha pensado nisso, orelhas
me lembram asas de borboleta.
PEITO
– do latim Pectus, peito, a parte anterior do tórax.
Em latim, a palavra Pectus significava apenas a parte externa
(ósteo-muscular) do tórax, não compreendendo a cavidade e
nem a mama. Em poesia, entretanto, tinha o sentido de alma,
coração e, por extensão, sede de bons sentimentos, de
fidelidade (daí a expressão - amigo do peito). Outros autores
acham que derivaria do grego Pectis, gaiola, armadilha para
pássaros, ou de Pectós, objeto feito de peças ajuntadas, pela
semelhança da caixa torácica com estes objetos.
Nunca vi a utilização do termo 'peito' que não incluísse a
parte interna. Essa significação deve ter-se perdido entre
os gregos mesmo. De qualquer maneira, nunca se atacou
o peito 'pelas costas', né?
PÊLO
– do latim Pilus ou Pellis, pêlo de animal.
Há um famoso provérbio latino: “Lupus pilum mutat, non
mentem”, isto é, o lobo muda de pêlo mas não a mente.
Difícil é ver a conexão entre a etimoogia em questão e o
provérbio, mas que é um provérbio válido, não resta dúvida.
E se for aplicado na política... Vixe!
PELVE
- Do latim Pelvis, bacia, caldeirão.
Na Roma antiga, Pélvis era o nome de um grande vaso fundo
com uma borda retorcida (como um caldeirão). A tradução
fancesa da palavra Pélvis foi “Bassin” e, no final do século
passado, por ser o francês a língua cientifica oficial
(principalmente nos tratados de obstetrícia), traduziu-se para
o portugues, literalmente como bacia e o termo ficou
consagrado no uso médico. Portanto, a palavra bacia,
embora de tradução literal correta, é um galicismo. Temos
em português, a palavra “Pelve”, transcrição direta do latim.
Realdo Colombo, em 1559, na sua obra “De re anatômica”
popularizou o termo.
Eis um erro que, no final, não é errado, pois a própria
significação do termo original é a mesma do 'erro'.
Parece mesmo é que somos uma coleção de analogias,
com a 'batata' da perna oposta à 'canela', com uma 'bacia'
bem ali, no 'pé' da barriga, e 'asas de borboleta' na cabeça.
"E o palhaço, o que é?".
PÊNIS
- Do latim Penis, que significa originalmente Cauda.
O órgão masculino, quando pendente, teria semelhança com
uma cauda. Entre os romanos, assim como em portugues,
havia inúmeras expressões populares para designar o pênis
(clava, vômer, radix, ramus, gladius). Desta última (que
significa espada) derivou, por extensão, o nome “vagina”
(bainha).
Interessante esta: Temos uma cauda na frente!
Também vale notar a lógica da coisa: Existe local mais
apropriado para guardar a 'espada', que não seja a 'bainha'?
PERÍNEO
– do grego Peri, ao redor de e Naion, ânus.
Hipócrates usava as formas Períneon e Perínaion e Galeno
restringiu o termo à área entre o ânus e o escroto, no homem,
e entre o ânus e a vulva, na mulher.
Um nome tão bonito para um local tão 'escroto'!
Pense, você não nomearia seu filho de Períneo?
Entre nomes esquisitos como Telésforo, Temístocles,
Perivaldo, Arivélton, até que Períneo soa bem singelo.
PERISTALSE
- Do grego Peri, em redor e Stellein, mudar.
A peristalse de fato movimenta o conteúdo intestinal em redor
e para diante.
Se eu fosse de jurar, jurava: Nunca tinha lido peristalse até o
ano passado! E conheço 'peristáltico' desde a adolescência.
Acontece, né?
PESCOÇO
– origem incerta. Não há concordância entre os
etimologistas quanto à origem desta palavra e as hipóteses
são quase todas de difícil acompanhamento etimológico
e/ou semântico.
Talvez seja derivada do latim Post (após, depois de) e Cocceus
(relativo à concha) ou de Post, após depois de e do grego
Kókos, esfera, ou ainda do latim Post, após, depois de e do
latim Coccum, vermelho escarlate. A palavra anatômica
correspondente à pescoço mais utilizada é “colo”.
Sabia que 'carne de pescoço' é algo difícil, pesado, gente
teimosa, mas que sua etimoogia também o é, eu nem
desconfiava.
PILORO
- Do grego Pylorus, guarda do portão, derivado de Pyle,
portão ou porta e Ouros, guardião.
O piloro guarda a saida do estômago. Galeno usava o termo
Grego Stenótis (estreito) para o canal pilórico do estômago e
apenas comparava este canal com um Pylouros (guarda de
portal de templos), mas em latim, o termo Pylorus indicava
apenas o orifício distal do estômago.
Mais tarde, o termo de comparação prevaleceu e esta escolha
parece ter sido devida a Celso e adotada por Rufo de Éfeso e
Júlio Pollux. Gustava Retzius dividiu a parte pilórica do
estômago em canal e antro.
Curioso como uma figura comparativa prevaleceu sobre
alguma afirmação objetiva. É como se um 'chefão' dissesse,
sobre um 'capanga':
- Esse é o Justino, um verdadeiro cão de guarda.
E o seu nome passasse a ser Cão de Guarda.
PIORREIA
- Do grego Pyos, pus e Rhoia, fluxo.
Outra que eu juraria, se fosse de jurar. Um fluxo de pus, mas
eu apostava que era infestação de piolho (pediculose).
Já basta, por hoje.
Vou selecionar mais bobagens pra gente se divertir.
Abraço do tesco.
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5 comentários:
Saudações Robertos Dantas, obrigado por sua passagem lá no blog. Por enquanto minhas postagens serão bem raras... mas não dá pra ficar longe do blog muito tempo, rsrsrs.
Curiosas e engraçadas algumas destas definições.
Grande abraço, saúde, trabalho e paz.
Adorei isso!
Nem sabia que meu corpo tinha nomes tão estranhos, mas sabia que bunda é so coisa do Brasil mesmo, os outros nádegas!
É muito legal isso, a origem das coisas...principalmente do corpo.
hiscla
Adoro esse teu trabalho com os termos da nossa língua. E os seus comentários são muito divertidos. Muita paz!
adorei !!
mas, com relação à obesidade, não tem gente que mesmo não comendo muito é obesa, por algum distúrbio hormonal?
e a das nádegas.... ah, acrescento que deve ser por isso que tem gente com m... na cabeça....
beijos!
Tem isso sim, Cynthia, mas creio que essa patologia não chega a 10% dos casos. Não conheço as estatísticas sobre isso, mas acho que a maior parte da obesidade se deve a comer em excesso mesmo.
Os gordos daqui de casa, por exemplo (eu no meio), comem que nem uns desesperados! Risos.
Beijos.
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