CORONÉ PEDRO DO NORTE
Em 1971, Luiz Gonzaga gravou esta composição de Nélson
Valença, que traça o perfil do "homem forte" do Nordeste,
àquela época. Saliento que é daquela época, não porque
os 'homens fortes' tenham deixado de existir, mas porque
mudaram em algumas características.
O perfil retratado é de um homem de opiniões definidas,
de palavra confiável, amigo fiel, o que é muito positivo.
No entanto, é também pessoa extremamente conservadora,
inflexível em seus preconceitos e que não hesita em usar os
poderes que tem à mão - e muitas vezes, abusar deles - para
conseguir seus objetivos. Usa não só a amizade, mas também
a influência. Gente assim, invariavelmente, angaria inimigos
a granel, e "inimigo é inimigo".
O enfocado nutre um preconceito enorme pois erige em lei,
um conceito que era comum no seu tempo e na sua região:
Homem não usava cabelo comprido! E os que usavam eram,
invariavelmente, associados ao estereótipo de desordeiro,
marginal, fora-da-lei, ou seja, um "transviado", como ainda
se dizia nesse período.
Note-se dois padrões de comportamento desse tipo de gente:
Arbitrariedade e impunidade (para si). Basta ver o que diz:
"Meto bala, mato tudo, e acabou-se a questão", e o que faz:
"Mandou buscar um delegado pra perseguir cabeludo
transviado". Isto é, 'a lei sou eu!'.
Infelizmente para este Coroné, o destino não colaborou, veja
a letra. E acompanhe a bela interpretação de Gozagão,
clicando no título da música, que manteve a grafia oficial.
CORONEL PEDRO DO NORTE
Coroné Pedro do Norte
É homem forte,
Coroné do bigodão
Amigo do amigo
Inimigo é inimigo
Dizendo sim é sim
Dizendo não é não
Coroné tava danado
Aperreado com a nova geração
Dizia ele,
Meto bala, mato tudo
Num deixo um cabeludo
E acabou-se a questão
Mandou buscar
Um delegado
Pra perseguir cabeludo transviado
Eu vou limpar
Minha cidade
Depois dormir
Na maior tranqüilidade
A minha menina que estuda
Muito breve vai chegar
Não é para ela
Nem de longe
Um cabeludo avistar
Coroné Pedro do Norte
Um homem forte
Estava ali com a multidão
Prefeito, delegado
A família de um lado
Um padre de batina
Beata e sacristão
Coroné impaciente
Viu finalmente
O trem chegar na estação
E a mocinha graciosa
Foi saltando
Desceu do trem puxando
Um cabeludo pela mão.
* * *
Sim, os tempos mudam e com estes, os costumes. O que
era exceção voltou a ser normal, e não se pode mais
'perseguir cabeludos' apenas por essa feição. .
As características do "homem forte" também mudaram, e
com consequências ruins para nós. A inflexibilidade foi
alterada e esses poderosos estão muito mais maleáveis,
mostram-se cordatos e ordeiros, mas, 'por baixo do pano'
são outra coisa. Não têm mais a 'palavra confiável' e até
costumam aliar-se a antigos inimigos, desde que, com isso
cheguem aonde queiram. Ah, velhos bons temos! O vilão
era vilão e o mocinho era o mocinho. Ninguém se enganava.
A melodia é classificada como xote, a versão brasileira do
"Schottisch" germânco, ritmo muito apreciado no Nordeste,
e, sem dúvida, repleto de bons representantes, como este.
Abraço do tesco.
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4 comentários:
Oi, tesco, quando você disse "...homem de opiniões definidas, de palavra confiável", pensei: Esse é do tempo em que um fio de bigode valia mais que mil assinaturas (acho que é isso).
Mas, amigo, tenha uma noite de sono tranquilo e reparador. Beijos!
Tesco, vc descobre joias raras. Não conhecia essa canção, interessante e bem humorada. E por falar em coronel, concordo com sua observação, quantos não agem como coronéis, sem transparecer. Tb fiquei pensando que no norte e nordeste essa figura ainda existe, comandando tudo e mandando matar aquele que não se rende às suas ordens. Muita paz!
Tesco, não conhecia essa canção. Valeu.
Beijotescas
Shirley, o Coroné parece ser desse tempo, mas em 1971, os valores já estavam alterados, graças aos protestos e mudanças ocorridos nos anos 60. A invasão de 'cabeludos', por exemplo. Beijos.
Denise, tem razão. Essas figuras, infelizmente, só irão desaparecer quando a humanidade avançar mais uns passos na direção do Cristo. Beijos.
Yvonne, assim como Denise, você não conhecia essa música porque os "deslumbrados" que conduzem nossa mídia preferem escavar a história da música norte-americana a a abrir as ostras que temos por aqui, que nos revelariam muitas pérolas. Beijos.
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