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quinta-feira, 10 de outubro de 2013

PARA LER VERÍSSIMO

Estava eu lendo o livro "Técnica de redação - O que é preciso 
saber para bem escrever ", de Lucília Helena do Carmo Garcez 
- é, aposentado tem dessas regalias, lê livro didático sem 
nenhuma obrigação - e no capítulo 3 - "A qualidade da leitura", 
logo no sub ítem 1 'o que é leitura', após alguma conversa 
sobre leitura, naturalmente sobre as vantagens de ler, a autora 
apresenta uma crônica de Luís Fernando Veríssimo. 

É uma crônica intitulada "O Presidente tem razão", datada 
de dezembro de 1998, em que Veríssimo ironizava a afirmação 
do Presidente da República, na época, Fernando Cardoso, 
que disse que "...a vida de rico, em geral, é muito chata”. 

Transcrevo-a aqui, porque não é longa e porque
"vale a pena 
LER de novo": 

"O PRESIDENTE TEM RAZÃO 
Luís Fernando Veríssimo 

Mais uma vez os adversários pinçam, maliciosamente, uma
frase 
do presidente para criticar. No caso, a sua observação
de que é 
chato ser rico. 

Pois eu entendi a intenção do presidente. Ele estava falando
para 
pobres e preocupado em prepará-los para o fato de que
não vão 
ficar menos pobres e podem até ficar mais, no seu
governo, e que 
isso não é tão ruim assim. E eu concordo
com o presidente. 


Ser pobre é muito mais divertido do que ser rico. 
Pobre vive amontoado em favelas, quase em estado natural,
numa 
alegre promiscuidade que rico só pode invejar. Muitas 
vezes o pobre constrói sua própria casa, com papelão e
caixotes.

Quando é que um rico terá a mesma oportunidade de mexer 
assim com o barro da vida, exercer sua criatividade e morar
num 
lugar que pode chamar de realmente seu, da sua autoria,
pelo 
menos até ser despejado? 

Que filho de rico verá um dia sua casa ser arrasada por um
trator? 
Um maravilhoso trator de verdade, não de brinquedo,
ali, no seu 
quintal! Todas as emoções que um filho de rico
só tem em video 
game o filho de pobre tem ao vivo, olhando
pela janela, só 
precisando cuidar para não levar bala. 

Mais de um rico obrigado a esperar dez minutos para ser 
atendido por um especialista, aqui ou no exterior,folheando
uma 
National Geographic de 1950, deve ter suspirado e
pensado que, 
se fosse pobre, aquilo não estaria acontecendo
com ele. 


Ele estaria numa fila de hospital público desde a madrugada, 
conversando animadamente com todos à sua volta, lutando
para 
manter seu lugar, xingando o funcionário que vem avisar
que as 
senhas acabaram e que é preciso voltar amanhã, e
ainda 
podendo assistir a uma visita teatral do Ministro da
Saúde ao 
hospital, o que é sempre divertido em vez de se
chateando 
daquela maneira. 

E pior. Com toda as suas privações, rico ainda sabe que vai
viver 
muito mais do que pobre, ainda mais neste modelo, e
que seu tédio 
não terá fim. Efe Agá tem razão, é um inferno." 

Correio Braziliense. Brasília, 2 dez. 1998. 

Como se vê, qualquer adulto pode entender a ironia do
Veríssimo, 
não tem nada de esotérico. 

Mas, a professora Lucília não pensa assim. Para ela, ler
Veríssimo 
é uma tarefa complexa, que exige diversas
aptidões e, por isso, faz 
essa explanação: 

"Como a leitura faz inúmeras solicitações símuitâneas ao
cérebro, 
é necessário desenvolver consolidar e automatizar
habilidades 
muito sofisticadas para pertencer ao mundo dos
que lêem com 
naturalidade e rapidez Trata-se de um longo e
acidentado 
percurso para a compreensão efetiva e
responsiva que envolve: 


• decodificação de signos; 
• interpretação de itens lexicais e gramaticaos; 
• agrupamento de palavras em blocos conceituais; 
• identificação de palavras-chave; 
• seleção e hierarquização de idéias; 
• associação com informações anteriores; 
• antecipação de informações; 
• elaboração de hipóteses; 
• construção de inferências; 
• compreensão de pressupostos; 
• controle de velocidade; 
• focalização da atenção; 
• avaliação do processo realizado; 
• reorientação dos próprios procedimentos mentais." 

Sacanagem! Com essa sistemática toda, para se ler uma
crônica 
do Veríssimo, duas opções se apresentam: 

1. Estuda-se, com afinco, para adquirir estas 14 habilidades; 
ou 
2. Chuta-se esta lista para o mato e continua-se a ler
Veríssimo, 
como sempre se fez. 

Já fiz minha opção. 

Nota bene: A crônica é apresentada no livro, apenas como
um 
exemplo. A professora não dá a entender que tem
alguma 
prevenção contra Veríssimo. 

Abraço do tesco. 

5 comentários:

Clara Lúcia disse...

Tbm fiz minha escolha.
Ler por ler e gostar... simples.

Denise Carreiro disse...

Por que tem gente que complica tanto as coisas? Para mim, ler é tão prazeiroso, que não consigo pensar em um só item da lista da autora. Muita paz!

Anônimo disse...

Pois..deve ser pedagoga, não é?
hiscla

Anônimo disse...

Dantinhas, ler Veríssimo geralmente é ótimo e nos faz rir, mas seus comentários também não são menos agradáveis, e olhe você não é canditado a Academia que efeh pertençe. Abraço , Chico

Unknown disse...

qual a palavra chave desse texto?