domingo, 19 de fevereiro de 2017
BARBÁRIE TEMERISTA
No livro "Mais diários de uma sala de aula", onde é enfocado
o dia a dia no sistema de ensino português, a professora
Maria Queirós relata seu desãnimo em relação aos currículos,
e às restrições impostas pelas autoridades do Governo:
29 de junho de 2012
DESÂNIMO
[...]
"Penso muitas vezes que ainda havemos de pagar caro a
displicência com que se tratam as Humanidades e a submissão
às Ciências Exatas. Lembro-me sempre de uma das cenas do
filme de Steven Spielberg, A Lista de Schindler: quando os
soldados nazis separam os habitantes do gueto de Varsóvia
em duas categorias – trabalhadores úteis e trabalhadores
dispensáveis (leia-se destinados aos campos de morte) –
consideram inútil um professor de Literatura e de Filosofia
e encaminham-no para a fila destinada ao extermínio.
Como se o ensino nobilíssimo das ideias e das letras fosse
sem serventia e até subversivo.
Felizmente que a barbárie nazi faz parte da história, mas
olhando com mais atenção para o nosso mundo apercebemo-
nos de que os princípios humanistas estão, cada vez mais,
relegados para segundo plano. Que lugar têm as Humanidades
no nosso tempo?
Que importância na vida do país? Que relevo nas nossas
escolas? E nas Humanidades, onde fica a História? Onde fica
concretamente a História de Portugal? Como se podem criar
memória e identidade nas gerações mais jovens se não se lhes
mostra o passado para que possam compreender o presente?
Será que quem pensa superiormente estas coisas já percebeu
que um país sem história é um país sem identidade? E que a
História é uma ciência social com uma dimensão tão global
e tão abrangente que não exclui nada do que é humano?
E que quando ensino História estou a promover valores como
a tolerância, a abertura de espírito face a outras visões da
realidade, a percecionar a relatividade de todas as coisas,
a desenvolver a capacidade de olhar os factos e os
acontecimentos segundo uma perspetiva crítica, a ajudar a
pensar historicamente?
Não quero parecer corporativista. Recordo a minha mãe que
morreu há quatro anos com Alzheimer e conforme as memórias
se iam apagando da sua cabeça vi-a deixar de ser um ser
humano para passar a ser apenas um corpo. E, se já não o
soubesse, percebo que a nossa vida é feita da nossa história
porque o presente é breve e o futuro a Deus pertence."
*** *** ***
"Felizmente que a barbárie nazi faz parte da história", escreve
Maria, mas os governos se sucedem e as autoridades postas
(ou auto-impostas) neles, nem sempre (quase nunca) têm ideais
dirigidos ao progresso de seus povos.
Em 2012 Maria Queirós não sabia que, apenas quatro anos
depois, seria desfechado um golpe político no Brasil,
destituindo um governo legítimo e de boas intenções para
com seu povo, instalando-se em seu lugar, uma corja imbuída
exatamentedos ideais nazistas que ela abomina: Levar
insegurança e terror à população e levá-la a esquecer sua
própria história!
É a barbárie que ainda não faz parte da história:
A barbárie Temerista!
Abraço do tesco.
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Um comentário:
Acho que em tempos de odio e guerra muito da humanidade- face humana esta sendo renegado... Veja em que tempos estamos...
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