O CRUZAMENTO Vou rumando para o sul. Alegremente, não estou fugindo de nada. A não ser desta urucubaca que me persegue: Nada dá certo comigo. Também, a cidadezinha de onde parti, Millskon, se é que pode ser chamada de cidade, é pequena demais. Que coisas boas eu poderia conseguir por lá? Preciso me aventurar por esse mundo afora, encontrar uma cidade grande para demonstrar minhas habilidades e ganhar a vida. Nem precisa ser muito grande, afinal, qualquer coisa perto de Millskon já é grande. Opa, um cruzamento. E com placas. Vamos ver pra onde posso ir. Hummm. Na esquerda tem Moresti, mas daqui dá pra ver que não é grande coisa. Lugar igual a Millskon eu dispenso. Em frente tem Broliff a 120 km. Não conheço, talvez seja maiorzinha que estas. Nesse passo chego lá em quatro dias. Mas que é isso na quarta placa? X? Nunca ouvi falar! Terei que ir até Moresti, pedir informações. Peraí! Tem uma casa nessa colina. É, dá pra ver bem pra quem vem do sul, pra quem vem do norte, fica escondida pelas arvorezinhas. Hum, tem fruteiras, vou lá, pois meus suprimentos estão acabando.
O NOVO VELHO Subo a colina e chego na casa, mas não tem ninguém por lá. Mas não parece abandonada, tá tudo arrumado e limpinho, na certa o morador está andando pelo sítio. Ah, aí vem ele. - Bom dia, meu amigo! - Grito logo ao vê-lo, não quero que vejam erradamente minha presença. Embora todos que encontrei até agora tenham sido amigáveis e hospitaleiros, nunca se sabe o que vem pela frente. - Bom dia, meu jovem. - Responde ele, sem esperar se aproximar - Vem perguntar sobre o X? Já estava me esquecendo do X, pensando nas frutas que poderia colher aqui. Mas a pergunta veio em boa hora. - É. Quero saber quais são as cidades que tem praquele lado. - Naquele lado... - diz o velho, que não é tão velho, diga-se, apenas tem um aspecto cansado - Naquele lado não tem nada de bom! - Faz uma pausa enquanto se aproxima da varandinha, sua voz é regular e suave. Sobe o degrau e me estende a mão: - Bem vindo! Meu nome de batismo é Jerome, mas não me conhecem pelo nome, todos me chamam de "velho'. Sentou-se no comprido banco e me convidou a sentar. A seguir, continuou: - Naquele lado não tem cidade nenhuma, só desolação e tristeza. Depois do regato, praticamente acaba a vegetação, por trinta quilômetros nenhuma árvore grande. Os animais rejeitam aquela área, passarinho não voa por lá. - É? E por que isso? - Perguntei assombrado. - Não se sabe. Talvez porque os animais não apreciem o inferno. - disse o Velho, sorrindo - O morador anterior dizia que é o caminho do inferno e, pela experiência que eu tive, seguindo por ali, não tenho dúvidas de que é isso mesmo. - Sua experiência foi ruim, então? Indaguei, apesar de ser óbvio. - Foi pavorosa! Uma noite somente, mas não desejo repeti-la por nada neste mundo. Instalei-me debaixo da árvore grande e tentei dormir, consegui dormir por quatro horas, mas sempre interrompido por pesadelos. Ou melhor, por um pesadelo. - Só um ? - Sim, mas o mesmo pesadelo várias vezes: Os demônios querendo me aprisionar. Depois de cochilar e acordar, repetidamente, resolvi me aventurar pelo caminho, ainda de madrugada. - E então? - Então o pesadelo se tornou realidade e, efetivamente, os demônios tentaram me agarrar. Argh! Sempre que me lembro disso me dá calafrios! E realmente o Velho tremeu como se estivesse febril. Não devia mesmo ser algo bom de relembrar. Mas, sonhos de velhos não me comovem, parece até que os velhos são especialistas em sonhar, especialmente, com coisas ruins. - Mas, se você pretende seguir por ali, apesar de tudo, leve água suficiente, pois, depois do regato, são mais de trinta quilômetros secos. - Pretendo ir, sim, afinal foi para isso que saí de Millskon, para correr o mundo. E ficar preso no inferno ou ficar preso em Millskon, pra mim, dá no mesmo. Por falar nisso, será que eu posso pegar algumas frutas desse seu sítio? - Certamente. Pegue quanto quiser. Laranja é uma boa companhia nesse caminho, mas creio que você não vai precisar de muita comida, afinal você vai voltar correndo, como eu voltei. - Pode ser. De qualquer maneira, irei prevenido. Nunca se sabe, né? Perambulei um pouco pelo sítio, enchendo o saco com frutas diversas, logo após, estava me despedindo do Velho, agradecendo todo o apoio e esclarecimento. Parti então para o regato, onde me abasteci de água, fresquinha e límpida. Plenamente abastecido, me veio a ideia: Esperar o quê? Por que não partir agora? Ainda de manhã, cerca das dez horas, sol ameno, soprando uma suave brisa do leste. Então, pé na estrada!
PRIMEIRO TRECHO DA JORNADA O caminho serpenteia entre as colinas e, embora seja ascendente, não é cansativo em excesso. A caminhada segue tranquilamente, só é estranho a ausência do barulho dos pequenos animais e pássaros. Parei algumas vezes, procurando ouvir alguma coisa e nada consegui. Próximo ao meio-dia, quando o sol esquenta mais as coisas, me parece natural que todos procurem se abrigar e tudo fica mais silencioso. Porém, fiz testes de escuta às três da tarde e foi o mesmo silêncio. Sei lá, mistérios existem, né? O dia está claro e luminoso, mas, por volta das cinco da tarde, já começa a diminuir a luminosidade, e ainda faltam uns bons dez quilômetros para chegar até a 'árvore grande' que o Velho falou. Por isso, faço a parada noturna aqui mesmo.
Como não há nenhum abrigo à vista, procuro um lugar, o mais plano possível, e desdobro ali a lona sobre a qual eu durmo normalmente. Não farei a refeição agora, de vez em quando, chupava uma laranja pelo caminho, e não tenho fome. As laranjas do sítio do Velho são muito doces e muito sumarentas. Escurece rapidamente, pois o sol se escondeu por detrás das colinas à oeste. mas ainda falta um tantinho para a lua aparecer. Vai levantar cheia, hoje. Engraçado como eu nunca consegui enxergar qualquer imagem de São Jorge na lua, muito menos de dragão. Quando eu era pequeno, o Fent me dizia que distinguia até o estribo no pé de São Jorge. Grande mentiroso era o Fent! E eu acreditava. Ah! Lá está! É somente o cocoruto, mas já ilumina tudo Como sobe rápido! Vou esperar o nascimento completo, e depois é virar-me para o oeste e cair no sono. Amanhã vou partir bem antes do nascer do sol, com essa lua no céu, a trilha não ofere...
SEGUNDO TRECHO DA JORNADA Não vi a lua cheia plenamente nascida no horizonte, o que é sempre um espetáculo magnífico, nem cheguei a me virar pro lado oeste, como pretendia, peguei no sono bem antes. Dormi bem e devem ser duas da madrugada, mas tudo está perfeitamente delineado pela iluminação da lua. Levanto com fome e faço um grande estrago no estoque de bolachas. As laranjas também sofrem bastante. Agora, já "dormido e comido", posso prosseguir com o itinerário previsto. O caminho, apesar de suaves subidas e descidas, mostra-se relativamente plano, em vista do que foi percorrido até agora. Assim, posso até ir mais rápido. Cerca de cinco da manhã, já bastante escuro, pois a lua agora está escondida pelas colinas a oeste, finalmente chego até a 'árvore grande'. É realmente grande, vista do pé da colina, lá em cima não deve parecer tão alta. Como não tenho nada que fazer lá, sigo adiante. A trilha faz uma acentuada curva à esquerda, não de graça, um contraforte da colina se antepõe como um paredão. Alguns metros adiante, o contraforte sofre um declive forte, e a trilha retorna a seu rumo original. Mais uma pequena curva à direita e outra à esquerda, e me deparo com um cenário deslumbrante: Uma névoa, não muito densa, iluminada pelos últimos raios da lua. em frente e à direita tudo é plano. Na esquerda ainda predomina o relevo alto, mas já revestido com uma vegetação rasteira. A névoa brilha, mas permite ver o que se situa à frente por uns oito ou dez metros. Reflexos prateados no lado direito dão a entender que ali há uma massa de água, um lago, provavelmente, com as margens pantanosas. Tudo parado, mas talvez os peixes pululem por ali. E parece que, lá na frente, árvores tornam a aparecer: Vejo escuras colunas por lá. Escurece novamente, a lua se oculta no oeste e o sol, que se prepara pra nascer, ficará escondido por uma boa meia hora, pois agora as colinas estão por detrás de mim. Mas vou acostumando a vista e prossigo a caminhada. O caminho não é muito sinuoso, o que seria perfeitamente viável, seguindo-se a margem de um lago, mas parece que os viandantes anteriores não estavam interessados em pescar. Chego ao trecho em que as árvores dão sombra novamente, o sol surge, ouço o 'blub' de peixes pulando na água e, o que é mais entusiasmante, os passarinhos estão cantando! Parece que o trecho desolador já passou. Creio que quem alcançou estas paragens não teria motivos pra retornar. O lago começa a se afastar da trilha, ou melhor, a trilha se distancia do lago, este continua no mesmo lugar. A partir de certo momento, a trilha se torna descendente, a princípio suavemente, depois, de modo acentuado. Já há encostas íngremes e as árvores estão encimando morros. E a sinuosidade aumenta, tanto que não se vê trechos do caminho, nem muito à frente, nem muito atrás. então, algo inusitado, aparece na minha frente! NOVO CENÁRIO Cenário totalmente diferente: É uma cidade! Sim, é fácil perceber: Estradas pavimentadas, construções, delineamentos geométricos, carruagens sem cavalos nas estradas, devo estar entrando em outra dimensão. Nota-se logo a diminuição da luz natural, o sol, nascido há pouco, sumiu do céu, e a luz origina-se de postes com estranhos e potentes lampiões. Uns poucos passarinhos ainda pipilam, mas o silêncio é geral e arrepiante. Sente-se que a cidade não se encontra abandonada, mas o silêncio é de cemitério, nem latido de cachorro se ouve. Vou caminhando devagar, não sei que rumo tomar e sigo essa estrada. Até que chego num obelisco encimado por uma estátua, no meio de um tanque circular, quase trinta metros adiante de um templo. A paisagem é bonita, mas tudo me deixa intranquilo e apreensivo. Então acontece o inesperado! De repente um grito se eleva, não de uma pessoa, mas de uma multidão invisível. Um grande "ôôôôõô!" se alteia retumbante, vindo de todo lugar! Ao mesmo tempo o céu explode milhares de vezes, pensei que estivesse caindo sobre mim. Agora um novo grito, "êêêêê!", e a multidão aparece! Por certo são os demônios vindo reclamar minha alma. De todos os cantos eles surgem, e vêm pulando e urrando um grito de guerra: "éécsa! éécsa!", não sei se é o nome do demônio maior. E me alcançaram, e me abraçaram, e me fizeram pular também. Tudo com uma alegria tão feroz que também me vi contagiado, pulando alucinadamente e gritando "éécsa!", embora não tivesse ideia do que dizia. A multidão não estava estacionária no sentido horizontal, e terminamos cegando no que parecia ser uma taberna. Ali, um dos demônios gritou: "Chope pra todo mundo!", e canecas de cerveja começaram a surgir nas mãos deles, e uma foi posta na minha mão. Então não procurei mais raciocinar, entreguei-me ao calor do momento, como um náufrago ao sabor das ondas. Nisso, reparei que estava abraçado com uma "demônia", muito bonita e vestindo uma camisa amarela, como a maioria deles. Ela me olhava com um olhar cúpido, como o de todos os demônios, mas tinha um sorriso encantador. Daí pra frente não hesitei mais, amanhã pode ser o inferno, mas hoje é o paraíso e aqui ficarei. Meu lugar é aqui! Abraço do tesco.
HAGAR, O HORRÍVEL vol. 4 de DIK BROWNE Hagar não precisa apresentação, apesar de ser um herói de terras geladas, creio que é conhecido em todo o Brasil. E, sem dúvida, é o viking mais amado do planeta. Aqui, em edição L&PM, tem 140 páginas de humor.
INSCREVA-SE ASSIM: Escolha apenas UM grupo, de 1 a 20, com 5 dezenas já determinadas. Exemplos: Grupo 1 = dezenas 01, 02, 03, 04 e 05. Grupo 20 = dezenas 96, 97, 98, 99 e 00. Basta indicar esta sua escolha nos comentários. O vencedor será indicado pelo sorteio da Loteria Federal (link no ítem 2 do Regulamento), em 03/05/2014. Escolha um grupo AINDA DISPONÍVEL, ATÉ às 17 horas do dia do sorteio.
Não é poesia, nem é nada sério. Apenas, como exercício de criatividade, fazer brincadeiras de vez em quando é salutar.
HINO Você pode ter tido educação severa, não quer dizer que se chama Severino; Mesmo que seja filho de um Jacob, não é obrigado a ser um jacobino; Se seu pai foi navegador de cabotagem, não implica que você é agora um cabotino; E se descende de grandes políticos liberais, nem por isso tem que ser um libertino. Você pode até ser muito magro, mas isso não implica que é granfino. Também pode ser muito feliz, não é, necessariamente, um Felismino. Pode uma pessoa de pele preta, e por contraste ter o nome de Albino. Nem todo mundo que nasce lá em Creta, tem mentalidade de um cretino.
E só comia salada, esse sultão Saladino?
Por outro lado, pode ser predestinado: Digo-lhe o fado de um modo acertado, Até mesmo nesse tempo atribulado, Se nasceu homem, algum dia foi menino; Se por sorte já nasceu nesse Nordeste, querendo ou não, há de ser um nordestino; Sorte sim, como não ser? E se fosse um padecente palestino? Se não é grande e robusto, há de ser franzino e pequenino; É pra manter o figurino, Que por isso aqui termino. Abraço do tesco.
REGRESSO À VIDA de ROBERT SILVERBERG Igualmente a Orígenes Lessa, autor de "A desintegração da morte", de 1929, Silverberg não cita nenhuma teoria para dar suporte ao processo de reanimar os corpos recém falecidos. A trama enfoca apenas os aspectos legais e políticos dos casos, tanto que o protagonista da história é um advogado e ex-governador. O enredo é de 1977 e a ação se passa depois de 2032, pelo menos. Silverberg escreve ótima ficção científica, porém, essa ficção nada tem de científica. Tem 176 páginas. INSCREVA-SE ASSIM: Escolha apenas UM grupo, de 1 a 20, com 5 dezenas já determinadas. Exemplos: Grupo 1 = dezenas 01, 02, 03, 04 e 05. Grupo 20 = dezenas 96, 97, 98, 99 e 00. Basta indicar esta sua escolha nos comentários. O vencedor será indicado pelo sorteio da Loteria Federal (link no ítem 2 do Regulamento), em 30/04/2014. Escolha um grupo AINDA DISPONÍVEL, ATÉ às 17 horas do dia do sorteio.
Como pretendo publicar um conto que faz referência a este outro conto, publicado no extinto blog "Nós por Nós" em 2006, acho conveniente republicá-lo aqui, antes de mostrar o atual.
O XIS
Cheguei àquela cidadezinha à tarde, quase noite, o sol já não era visível, mas havia bastante claridade, suficiente para observar as pacas indicativas naquela encruzilhada. A estrada em que eu vinha, do sul, encurvava para noroeste, logo depois do cruzamento, desviando-se da suave colina, encimada por uma casinha rústica. A plaquinha indicava: Millskon - 70 km.
Ao meu lado, a placa mostrava a origem da minha cavalgada: Broliff - 120 km. À direita a estrada se estendia levemente para nordeste, e a plaquinha desvendava o nome da cidade, na verdade uma aldeia, que se via a pouco mais de um quilômetro adiante: Moresti.
Na esquerda a estrada segue reta para oeste, por uns cem metros, até cruzar um regato, o mesmo que eu havia atravessado quase dois quilômetros atrás. Depois a trilha começa a serpentear por entre as pequenas elevações, que vão se tornando mais altas e mais pedregosas, rocha viva sem vegetação. A diferença desse ramo da estrada é que a placa não diz o destino a que leva, nem a distância. Em vez disso ostenta um grande X.
Ora, apesar de não ter galopado e a estrada não ser poeirenta, eu estava deveras empoeirado, e ansiava por um banho quente, e nenhum x me atraía nessa ocasião. Portanto dirigi minha montaria para Moresti.
Após ter-me instalado na hospedaria e ter tomado um demorado banho, dirigi-me para o local do jantar. Apesar de simples e quase insípida, a comida me deixou revigorado e animado. Puxei conversa com o garçom, um sujeito atarracado, calvo e muito tagarela.
Em meio à conversa, lembrei-me da estranha placa na encruzilhada, e indaguei sobre o fato. Aí o garçom empacou, ficou reticente e indefinido. O que eu entendi do que ele disse, era que a estrada não levava a nenhum lugar conhecido.
- Como pode ser isso? Perguntei - Ninguém teve a curiosidade de seguir por essa estrada? - Oh, sim, muitos foram. - E então? - Não voltaram. - Não? Então devem ter encontrado o paraíso! - Acredito que não. Existe um que voltou - um só - pelo que ele conta, ali mais parece o caminho do inferno, Notou a casinha próxima ao cruzamento?: - Sim, é bem visível pra quem vem do sul. - Ali mora o Velho, ele seguiu o caminho quando era jovem. - Qual o nome dele? - Não sei. Acho que ninguém sabe. Os mais velhos da cidade sempre o chamaram de Velho. Ele tem mais de cem anos. - Irei falar com ele amanhã.
Assim terminou nossa conversa e fui para o meu quarto. Queria dormir cedo, pois cavalgara o dia todo e estava cansado.
O VELHO
Ao acordar, lembrei-me imediatamente do X da questão e da casa da colina, onde morava o Velho. Depois de um rápido café, parti em busca de uma conversa esclarecedora.
Quando cheguei na casa, o Velho estava sentado num banco comprido, para três ou quatro pessoas, numa pequena varanda. Para um centenário, estava bem conservado, não lhe daria mais que oitenta.
- Bom dia, meu Velho! - Bom dia, filho! Aconselho a não seguir com a empreitada. Todos os que tentaram, não lograram nenhum proveito.
Respondeu com voz pausada. Falava claramente e sem hesitação. Fiquei intrigado com sua fala. Estaria mesmo falando comigo?
- Que empreitada, Velho? - Ora, você tenciona seguir pelo caminho proibido. Ninguém vem aqui com outra intenção. Tenho a experiência de 90 anos neste posto. - Sim, tem razão. Fui atraído pela placa com o X. Por que não tiram a placa? - Se tirassem a placa, alguns poderiam seguir o caminho sem advertência de ninguém. Com a placa, sempre pedirão explicações e nós tentaremos impedir sua loucura. - É loucura seguir esse caminho? - Sim, é. Ninguém volta. Ficam presos no inferno. - Você voltou! - Voltei para servir de aviso. Nestes noventa anos desde que voltei, não houve outro retorno. - Mas, porque é o inferno? Se é inferno para você, pode não ser para os outros. - É um lugar de escuridão, sofrimento, medo, terror. Não pode ser bom pra ninguém. - Bem, eu não tenho nada, nada perderei tentando ver por mim mesmo. - Nada. A não ser a sanidade e a paz. - É pouco para se perder. A aventura me chama. Cavalgarei para lá amanhã. - Não. Tem que ir a pé. Os animais não seguem o caminho. - Como não seguem? - Eles se recusam. Não há como fazê-los ir adiante. - Tentarei. Recomenda alguma coisa, Velho? - Sim. Leve água suficiente, depois do riacho não há mais nenhuma fonte por mais de trinta quilômetros. - Trinta? E depois? - Não sei, não passei disso. Daí pra frente é a escuridão. É onde as forças do mal procuram nos aprisionar.
Havia sinceridade e convicção em sua voz. Mas isso não basta. Um homem pode se enganar.
- Velho, sem querer ofender, isso não poderia ser produto de sua imaginação? Uma pessoa sozinha pode criar ilusões e passar a acreditar nelas.
A resposta, que eu esperava defensiva, surpreendeu-me.
- Provavelmente é fruto da imaginação. Mas pode alguém andar sem a cabeça?
Bem, esse assunto é complexo. Desviei a conversa para coisas mais práticas.
- Então você chegou nesse ponto à noite? - Sim, sempre se chega à noite, não importa o ritmo em que se ande. Foi uma noite terrível, não consegui nem meia hora de sono. Instalei-me sob a grande árvore, mas os demônios não me deixaram dormir. Mesmo assim esperei o amanhecer. O sol clareou o caminho para o lado de cá, mas não se via nada para oeste. E a escuridão não a bandonou a intenção de me aprisionar. Não tinha mais escolha a não ser voltar. - Então há uma divisão física? Um muro? Uma linha divisória? - A separação é nítida. Mas não existe barreira sólida, só a escuridão. - Preciso ver isso. - Encerrei a conversa - Obrigado, Velho, partirei amanhã cedo.
Providenciei tudo naquela tarde e ainda fui verificar a apregoada recusa dos animais em seguir naquele caminho. E realmente foi o que aconteceu. Por mais que focasse e procurasse conduzir o cavalo, ele não transpunha o riacho. Naquela passagem, a água, límpida e lenta, não passava do tornozelo. Não entendi a resistência do cavalo. Voltei à cidade e, novamente, recolhi-me cedo.
A JORNADA
No dia seguinte, levantei-me antes do sol, e estava no cruzamento quando ele nasceu. Prossegui pelo caminho sem problemas, sob um sol brando, até ao meio-dia. O caminho, verdadeiramente tortuoso, se elevava aos pouquinhos, e não me cansou em excesso, mesmo em boa marcha. O dia transcorreu sem incidentes.
Por volta das cinco da tarde eu havia chegado a uma grande curva do caminho. Uma curva para a esquerda, à direita pequena colina era encimada por uma árvore de copa larga. A árvore não era grande, mas como era a única nas redondezas, parecia enorme. Escurecia rapidamente, pois o sol ficava escondido pelas elevações à oeste.
Rumei para a árvore, iria passar a noite sob ela. Ao chegar no topo da colina olhei para o caminho que teria pela frente.. Após a curva, a vereda fazia duas curvas para a direita, contornando o pequeno contraforte, e retomava o sentido para oeste. Mais nada se via além disso. Uma densa e escura neblina fechava à visão a seqüência do caminho. Resignei-me a isso e pus-me a a preparar o local para o repouso noturno.
Abri a mochila e retirei os pães e o queijo, ainda frescos. A carne-seca e as bolachas ficariam para dias seguintes. Não havia gravetos suficientes para se fazer uma fogueira, mas as noites não estavam frias, fazia um verão muito agradável e ameno, sem extremos. A lua nasceria em breve, estava quase cheia.
Feita a refeição, recostei-me na árvore, à espera do nascer da Lua. Não se ouvia nenhum som exterior. Aquele barulho típico do fim de tarde em qualquer lugar a céu aberto, não se ouviam por aqui. Grilos, cigarras, insetos diversos, mosquitos, roedores, aranhas (aranha faz barulho?), aves voltando para os ninhos... Não davam sinais de existência. Nem a brisa fazia com que as folhas farfalhassem. Era esquisito, apenas ouvia a minha respiração e minha digestão, e sem muito esforço, ouviria o sangue correndo nas veias.
Em pouco mais de uma hora nesta calma, a Lua surgia, muito grande, radiante e esplendorosa. Apesar de não ser ainda cheia - seria no dia seguinte ou no posterior - não se notava defeito na sua esfericidade. Dominava a paisagem, iluminando tudo à sua frente.
Quedei-me naquela quietude, e a lua foi-se elevando pouco a pouco, até diminuir de tamanho quase à metade. Com tal claridade nos olhos, não poderia conciliar o sono. Passei para o lado oposto a árvore e aproveitei para olhar o caminho no oeste, esperando ver a neblina refletindo o luar, como um mar de prata. Qual o quê? Naquela direção estava tudo escuro como uma noite sem lua e sem estrelas. Que neblna era aquela que absorvia toda a luz?
Desliguei-me dessa questão e deitei-me para dormir. Seriam quase oito da noite e eu poderia acordar cedo e bem refeito das canseiras daquele dia. Logo adormeci.
A NOITE DO TERROR
Acordei quando a Lua passara um bocado do meio do céu. A copa da árvore era larga, mas não espessa, e o luar se infiltrava por ela.Não foi, entretanto, a lua que me acordou. Tivera um sonho curioso.
Numa planície escura, embora o Sol estivesse no céu, um sacerdote ou feiticeiro, muito magro e de face ossuda, clamava para mim: "Venha para o mundo de agora, aqui é o seu lugar!". Esse "agora" não era ouvido nitidamente, parecia haver um eco quando era falado.
"Mundo de agora"? - Pensava eu, já acordado - Essa é boa! E onde é que estou agora? Não dei importância ao sonho, e como a noite continuava calma, logo voltei a dormir.
"Venha para o mundo de agora, aqui é o seu lugar!" O feiticeiro se aproximava, enquanto eu começava a ouvir o som que fazia fundo ao seu chamado. Era como se houvesse uma multidão ao longe, se lamentando e expressando uma agonia dolorosa. Quase um canto monótono, entrecortado por "uis" e "ais". Além dos gemidos havia gritos de "Pare!" e "Não!". Ouvi o feiticeiro mais perto, gritando seu bordão. Acordei novamente, desta vez mais impressionado: O sonho tinha continuado!
Meditei sobre isso, mas não havia muito o que questionar: Sonhos são sonhos! Apenas isso. Não podia me deixar influenciar por sonhos. Deixei a mente vaguear por experiências mais agradáveis. Lembrei-me de minha infância e de minha adolescência. Eu tinha onze anos e meu pai me levou à uma cidade grande. Lá ouvi um pianista tocando a "Pequena Serenata" de Mozart. Nunca me esqueci dela. Adormeci acompanhando aquela melodia: "Tan, tan tan, tan tan tan tan tan tan, tan..."
"Venha para o mundo de Hsgorath, aqui é o seu lugar!", o feiticeiro estava cada vez mais perto. E continuava com seu clamor imbecil. Agora eu ouvia melhor e o "agora" se transformara em "Hsgorath", sei lá o que era isso.
Os gemidos e lamentos não só continuavam, como ficavam mais altos. Aí apareceu um fato novo: Ouvi nitidamente o ruflar de asas. Mais forte. Corujas? Ouvia também rosnados, agressivos e furiosos. Comecei a ver, além do feiticeiro haviam formas fantasmagóricas, meio se esquivando, meio se arrastando. Acordei deveras assustado. Aquilo tinha continuidade demais para um sonho.
Levantei-me e tomei uma resolução. Continuaria a caminhar, mesmo à noite! Tinha dormido umas cinco horas, e estava relativamente descansado. Caminharia devagar e ao nascer o dia, já teria avançado um bom pedaço.
Coloquei a mochila nas costas e desci a colina. Ao contornar a grande curva do caminho, deparei-me com a neblina. Realmente não deixava ver muita coisa, mas o luar a penetrava suavemente, e cerca de metro e meio à frente, ou um pouco mais, podia ser vislumbrado. Daria para seguir assim mesmo. Avancei cerca de cem metros, devagar e sondando o terreno.
Mas eu não contava com o que se sucedeu. Um rumor igual ao dos sonhos, começava a se fazer ouvir! Aquele canto monótono, composto por gemidos e lamentos, alteava-se cada vez mais. Parei e fiquei à escuta. Ouvia ao longe os rosnados. Então o feiticeiro também se fez ouvir. Repetia o mesmo refrão: "Venha para o mundo de Hsgorath...". Sempre fui corajoso e não temia enfrentar aquilo, mas o que se seguiu foi demais para toda a minha coragem.
O "flap, flap" de asas fez-se presente. Raciocinei: "Por aqui não vi roedores nem pequenos animais, como é que agora aparecem corujas? Podem também ser morcegos, mas esse barulho de asas é muito alto para morcegos. Só se forem morcegos gigantescos". A perspectiva não me era agradável. Não podia vê-los, e nesse quesito eles tinham ampla vantagem sobre mim. Os rosnados também aumentaram. Não teria nenhuma margem para vitória se me defrontasse agora com predadores noturnos. Voltei-me e retornei sobre meus passos.
Gritos de "Fuja!" e "Vá embora!" começaram a ecoar e o gelo correu pela minha coluna vertebral. Soavam cada vez mais perto. Alcancei a grande curva, e ia quase caindo sobre o contraforte rochoso da colina. Agora tomava o caminho que estava livre de neblina. Gritos de "Vamos alcançá-lo!" surgiram. Aí desatei a correr. Não era covardia nem medo sem fundamento, era questão de sobrevivência.
Corri por toda a madrugada e os gritos e os ruídos não me abandonavam. Cheguei a observar vultos no ar e ouvi o barulho dos passos na perseguição. Desesperadamente eu corria. Devo ter percorrido aqueles trinta e tantos quilômetros em menos de duas horas. Quando já pensava em me estirar no chão e me entregar ao destino, divisei uma faixa escura atravessando o caminho. Pensei: "Aquele tronco não estava ali antes", mas não era tronco, era o regato!
"Meu Deus, estou salvo!", regozijei-me. Com redobrado vigor percorri aqueles cem metros, mas parecia que não ia alcançar o regato. Por fim, cruzei-o em grande velocidade, acho que nem molhei os pés. Só fui parar próximo à placa do X. Todos os ruídos exteriores cessaram. Só o latejar das minhas veias e o resfolegar da minha respiração eram ouvidos. Caí extenuado ao lado da placa e ali fiquei desmaiado por mais de duas horas.
O GUARDIÃO
Quando acordei, o Sol radiante já despontava no horizonte iluminando tudo. Senti um peso enorme nas costas. Era a mochila, que eu nem me lembrara de jogar fora. Afinal, eu corria para salvar a vida, não cabia transportar carga inútil. Mas já que ela estava ali, ótimo. Retirei a mochila e fui até o regato, para saciar a sede terrível e para lavar o rosto. Depois disso, ainda cansado daquela batalha travada com o desconhecido, dirigi-me à estrada do sul, que tinha algumas árvores ao longo dela, e deitei-me embaixo de uma. Dormi mais umas três horas.
Ao levantar, já às dez horas, levei o olhar para a colina da casinha do Velho. Vi ali movimento. Iria lá dizer ao Velho que ele tinha toda a razão: O caminho para oeste era o caminho do inferno. Chegando na casa, encontrei o delegado de Moresti.
- Bom dia. Ode está o Velho? - Bom dia. O Velho morreu nesta madrugada. O garoto que traz suas provisões semanais, o encontrou morto. - Oh! Lamento. - Já o levamos para a cidade, será enterrado à tarde. Assenti, sem nada a dizer.
- Você é o rapaz que ia seguir o caminho? Perguntou ele. - Sim, Segui, mas retornei. As coisas lá são como o Velho disse. Muito ruins. - E que vai fazer agora? - Não sei. - Respondi sinceramente, não sabia o que fazer daí pra frente. - Por que não fica aqui mesmo, na casa do Velho? Ele não tinha parentes, ninguém vai reclamar sua herança. Vim limpar a casa do material perecível e fechá-la. - Sim, pode ser. Não tenho pra onde ir. - Trazíamos provisão semanal para o Velho, podemos continuar a trazê-la para você. Aqui tem uma horta boa, muito produtiva. E o regato ali em baixo, é água limpa e boa. - Sim, é verdade. - Agora, sem o Velho, necessitamos de um novo... guardião. - Guardião... - É. Um guardião do.. caminho do inferno. Fiz uma pequena pausa para meditar e concordei.
- Sim. Ficarei. Serei o novo guardião do caminho do inferno. É o meu destino. Depois de passar pelo que passei, meu lugar é aqui!
O CORTIÇO de ALUÍSIO AZEVEDO A obra-prima de Aluíso Azevedo em edição do Círculo do Livro, capa dura e 230 páginas. Obra bem superior a "Casa de pensão", segundo minha opinião e a de Josué Montello, pois, tem "uma estupenda galeria de personagens", e estes "se movimentam na urdidura geral da narrativa, como se tivéssemos diante dos olhos, no Rio de Janeiro do século passado, em Botafogo, o próprio cortiço que é objeto do romance". Não esquecer que o "século passado" no caso é o 19, e quando a escravidão ainda era vigente. Pra quem ainda não leu, vale a pena. INSCREVA-SE ASSIM: Escolha apenas UM grupo, de 1 a 20, com 5 dezenas já determinadas. Exemplos: Grupo 1 = dezenas 01, 02, 03, 04 e 05. Grupo 20 = dezenas 96, 97, 98, 99 e 00. Basta indicar esta sua escolha nos comentários. O vencedor será indicado pelo sorteio da Loteria Federal (link no ítem 2 do Regulamento), em 26/04/2014. Escolha um grupo AINDA DISPONÍVEL, ATÉ às 17 horas do dia do sorteio.
Severino de Andrade Silva (1904-1965). Você nunca ouviu falar, né? Foi um alfaiate paraibano que ficou conhecido como poeta popular, o ZÉ DA LUZ.
Menos afamado que Patativa do Assaré, que teve poemas musicados, Zé da Luz também compunha seus poemas no linguajar sertanejo, aquele que não segue os padrões da língua culta e por isso é - erradamente - rotulado de 'errada'. Composições geniais é o que nos deixou o Zé da Luz, pois, além da métrica e rima perfeitas, exibem deliciosos voos imaginativos. Trago aqui um exemplo que, embora bem difundido, é sempre bom de reler. "AI! SE SÊSSE!… Zé da Luz
Se um dia nós se gostasse; Se um dia nós se queresse; Se nós dois se impariásse, Se juntim nós dois vivesse!
Se juntim nós dois morasse Se juntim nós dois drumisse ; Se juntim nós dois morresse! Se pro céu nós assubisse?
Mas porém, se acontecesse qui São Pêdo num abrisse as portas do céu e fosse, te dizê quarqué toulíce?
E se eu me arriminasse e tu cum eu insistisse, prá qui eu me arrezorvesse e a minha faca puxasse, e o buxo do céu furasse?…
Tarvez qui nós dois ficasse tarvez qui nós dois caísse e o céu furado arriasse e as virge tôdas fugisse!" * * *
Virge! As virge táo doida pra fugí do céu! É inté bão qui elas venha, né?
MANUAL DO BLEFADOR Tudo que você precisa saber sobre SEXO para nunca passar vergonha TIM WEBB e SARAH BREWER Nos anos 90, a Ediouro traduziu e publicou uma série de livrinhos com informação resumida sobre diversos assuntos. São informações coerentes, consistentes e curiosas, narradas em estilo bem humorado. Este volume tem 60 páginas.
PENSAMENTO VIVO DE GANDHI EDIOURO Em 110 páginas estão condensadas vida e obra de Mohandas Gandhi, um dos luminares do mundo, não só do século 20, mas de todas as épocas. Pois, se é certo que necessitamos de avanços nas ciências, carecemos muito mais de que as pessoas mostrem como se convive em paz. E, neste tempo em que qualquer "celebridade" tem sua vida divulgada em verso e prosa, nada melhor que ler sobre gente de verdade. INSCREVA-SE ASSIM: Escolha apenas UM grupo, de 1 a 20, com 5 dezenas já determinadas. Exemplos: Grupo 1 = dezenas 01, 02, 03, 04 e 05. Grupo 20 = dezenas 96, 97, 98, 99 e 00. Basta indicar esta sua escolha nos comentários. O vencedor será indicado pelo sorteio da Loteria Federal (link no ítem 2 do Regulamento), em 19/04/2014. Escolha um grupo AINDA DISPONÍVEL, ATÉ às 17 horas do dia do sorteio.
Agora vou mirar três composições que têm um tema em comum, e não é a boneca da infância das meninas, mas o termo eufemístico, utilizado nos anos 50, para designar as "meninas", jovens que 'caíam na vida', fazendo comércio do próprio corpo. Pelo menos as três músicas nos deixam essa impressão.
A primeira delas, cronologicamente, é "Boneca de pano", composta por Assis Valente e gravada, em 1950, pelo grupo Quatro Ases e um Coringa, posteriormente, também por Demônios da Garoa.
Verso curioso é o que diz: "E ela, sendo mulher, acreditou". Será que quer dizer que ser mulher é ser, necessariamente, crédula? Não em todos os campos, mas particularmente nesse, a vaidade feminina fala mais alto. A mulher parece não acreditar em decadência do corpo e em velhice, quer dizer, do SEU corpo e em SUA velhice. Portanto, ela acredita em tudo que vai ao encontro de suas ambições e de seus sonhos, mesmo os mais espatafúrdios.
Boneca de pano Gingando num cabaré Poderia ser bonequinha de louça Tão moça mas não é Poderia ser bonequinha de louça Tão moça mas não é
Um dia alguém a chamou de boneca E ela sendo mulher, acreditou O tempo foi se passando E ela se desmanchando E hoje quem olha pra ela não diz quem é Em vez de boneca de louça Hoje é boneca de pano De um sombrio cabaré. * * *
Pois é, "hoje quem olha pra ela...", não percebe os sonhos que lhe guiaram os passos, apenas vê as consequências. E estas chegam, quer queiramos, quer não...
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A segunda composição é de Adelino Moreira, gravada por Nélson Gonçalves em 1955, "Meu vício é você", conhecida popularmente como "Boneca de trapo"
Adelino entrevia nessas peças humanas o cerne individual que um dia fez suas escolhas, conscientemente ou não, e que agora arrastam seu fardo, muitas vezes de modo automático.
Em muitos casos, entidades invisíveis agem, ofuscando-lhe a visão com fantasias irrealizáveis, mas, a responsabilidade maior é sempre do indivíduo, que pode ceder ou não às influências. Quando o coração manda, não há satanás que impeça!
Clique no título abaixo, e empolgue-se com a interpretação do Nélson:
Boneca de trapo, pedaço da vida Que vive perdida no mundo a rolar. Farrapo de gente, que inconsciente Peca só por prazer; vive para pecar.
Boneca, eu te quero com todo o pecado, Com todos vicios; com tudo afinal. Eu quero esse corpo que a plebe deseja, Embora ele seja prenúncio do mal.
Boneca noturna que gosta da lua, Que é fã das estrelas, que adora o luar, Que sai pela noite, amanhece na rua E há muito não sabe o que é luz solar.
Boneca vadia, de manha e artificios, Eu quero pra mim seu amor só porque Aceito seus erros, pecados e vicios. Hoje na minha vida meu vicio é você * * *
Quantas marionetes voluntárias rolam pelo mundo e "pecam só por prazer, vivem para pecar"! Muitos argumentarão; - E daí? O problema é só dela! Se fosse somente isso, menos mal. A questão se agrava quando o "objeto" é, na verdade, um chamariz, uma isca, o "prenúncio do mal". Deus nos livre de servirmos de pedra de tropeço para algum irmão. Sejamos sempre o protótipo daquilo que desejamos ver no mundo.
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A terceira é uma composição de Euclides Rangel (Bolinha) e Sebastião Alves da Cunha (Biá), "Boneca cobiçada", gravada em 1956 pela duola sertaneja Palmeira e Biá, e depois por Carlos Galhardo e outros.
Esta música inaugura o que seria conhecido como 'bolero sertanejo', pois Bolinha, tendo escrito a letra, apresentou-a a Biá, para que a musicasse, esperando que resultasse alguma guarânia. Porém Biá, percebendo que o bolero estava no auge da moda, conferiu-lhe este ritmo.
A letra fala em uma "viciada no destempero" (ou, para muitos, 'no tempero'), que, mesmo conseguindo encontrar um companheiro que lhe dá segurança e carinho, prefere retornar à vida mundana, onde tem muitos "donos".
Isso poderia servir de base para quem defende a filosofia do "o pau que nasce torto, morre torto", mas essa é uma teoria ilusória. Viemos à essa existência para mudarmos a nós mesmos, e sempre estamos mudando. Até as pedras perdem as arestas. Nada é imutável.
Eu mesmo testemunhei o caso de uma ex-prostituta unindo- se a um respeitável cidadão evangélico (naqueles tempos, apenas "crente"), e assumindo a vida doméstica de uma comum dona de casa. Essa compartimentação das atitudes humanas só existe nas mentes preconceituosas.
Clique no título e ouça a música com Palmeira e Biá:
Quando eu te conheci Do amor desiludida Fiz tudo e consegui Dar vida a tua vida Dois meses de ventura O nosso amor viveu Dois meses com ternura Beijei os lábios teus.
Porém eu já sabia Que perto estava o fim Pois tu não conseguias Viver só para mim Eu poderei morrer Mas os meus versos não Minha voz hás de ouvir Ferindo o coração.
Boneca cobiçada Das noites de sereno Teu corpo não tem dono Teus lábios tem veneno Se queres que eu sofra É grande o teu engano Pois olha nos meus olhos Vê que não estou chorando. * * *
Note que esses cantores cantam o quinto verso como deve ser cantado: "dois meses de ventura...", e não "de aventura", (como canta Carlos Galhardo), que não faz sentido, a nao ser que a 'boneca' seja a mesma da música anterior. Rerré!
Pois bem, como já notaram, aprecio as letras de músicas mais antigas, mas não é um saudosismo à toa, é que elas contam uma história (qualquer que seja), não simplesmente dizem "Urrú, mamãe, olha eu aqui!", como é mais comum hoje.
CIVILIZAÇÕES FLUVIAIS EDITORA FOLIO O segundo volume da coleção Grande História Universal expõe o conhecimento sobre civilizações que se desenvolveram nas margens de grandes rios como Nilo, Tigre, Eufrates, Indo e Ganges. Apesar de uma suposta renovação descartando o eurocentrismo, não se menciona a China, preferindo-se enfocar Síria, Creta, Grécia e Mediterrâneo Ocidental. Mesmo assim, é obra interessante, com muita ilustração colorida. Tem capa dura, formato grande (25x29) e 118 páginas. INSCREVA-SE ASSIM: Escolha apenas UM grupo, de 1 a 20, com 5 dezenas já determinadas. Exemplos: Grupo 1 = dezenas 01, 02, 03, 04 e 05. Grupo 20 = dezenas 96, 97, 98, 99 e 00. Basta indicar esta sua escolha nos comentários. O vencedor será indicado pelo sorteio da Loteria Federal (link no ítem 2 do Regulamento), em 12/04/2014. Escolha um grupo AINDA DISPONÍVEL, ATÉ às 17 horas do dia do sorteio.
3. Se a dezena do 5º prêmio não tiver sido escolhida, será vencedor quem tiver escolhido a dezena imediatamente superior ou, na falta deste, a imediatamente inferior e assim, sucessivamente, até haver um vencedor.
4. Serão aceitas as inscrições de leitores que publiquem e-mail válido ou home-page, ou já sejam conhecidos do responsável pelo blog.
5. O vencedor enviará endereço (no Brasil) para recebimento do brinde, em e-mail para nossa caixa postal: gtesco@gmail.com
6. Casos omissos serão decididos pelo responsável pelo blog.