escola, é frase atribuída a Heródoto, embora alguns digam que
foi Hecateu de Mileto seu autor. O que, provavelmente, não se
ouviu, é que isso não é uma verdade absoluta, e sim apenas
uma opinião preconceituosa!
O pessoal tinha uma trabalheira danada pra tirar proveito das
enchentes do Nilo, e isso eu já havia lido no livrinho de Ciro
Flamarion Cardoso, "O Egito antigo" (este que fez parte do
sortesco 265), mas que a frase era resultado do despeito dos
gregos em relação aos egípcios, eu não fazia a menor ideia.
E é isso que afirma o professor Jaime Pinsky neste livro "As
primeiras civilizações", que estou colocando no sortesco 267.
É a 2ª edição, de 2003, da Editora Contexto e, entre as
páginas 87 e 90, ele escreveu:
"A frase atravessou séculos e é repetida acriticamente por
todos os manuais de história que falam do Egito. Fica, para
muitos, a impressão que Heródoto efetivamente quis passar,
ou seja, que mais importante do que a ação do homem, é o
dom da natureza.
Etnocêntricos e pretensiosos, os gregos tinham um despeito
enorme do Egito, sabidamente já uma grande civilização,
quando eles mesmos ainda viviam em aldeias isoladas.
Considerando-se superiores, não podiam aceitar esse fato a
não ser atribuindo-o a razões sobrenaturais ou, simplesmente,
a razões geográficas.
Que os gregos subestimassem os egípcios é, pois,
compreensível. O que não é aceitável, contudo, é a repetição
do mesmo preconceito, livro após livro. Como já vimos em
capítulos anteriores, não há um milagre egípcio, ele tem bases
muito concretas. O rio, em si, oferece condições potenciais,
que foram aproveitadas pela força de trabalho dos
camponeses egípcios - os felás - organizados por um poder
central, no período faraônico.
Trabalho e organização foram, pois, os ingredientes principais
da civilização egípcia. O rio, em si, como pode ser visto em
ilustrações, ao mesmo tempo que fertilizava, inundava.
A cheia atingia de modo violento as regiões mais ribeirinhas
e parcamente as mais distantes. Era necessário organizar a
distribuição da água de forma mais ampla, para se poderem
evitar alagados ou pantanos em algumas áreas e terrenos
secos em outras. A solução foi o trabalho coletivo e solidário,
intenso e organizado.
É verdade que a civilização egípcia começou a ser montada
com o trabalho organizado a partir de condições geográficas
favoráveis. Mas a civilização não é uma dádiva dessas
condições geográficas, do Nilo, uma vez que surge quando
o homem atua, modificando e domando a natureza.
Uma truta que chega a um riacho límpido, de água corrente
e fria, dotado de vegetação que lhe sirva de alimento, recebe
uma dádiva da natureza: isso é história natural.
Um grupo humano que se organiza através do trabalho para
explorar as condições favoráveis de uma determinada região,
alterando-a no processo de extração de sua substância, é algo
muito diferente: é a história social."
Nisso, pelo menos, o professor parece ter razão, e nós, que
não questionamos até coisas mais duvidosas que nos ensinam
nas escolas, não tínhamos motivo pra questionar afirmação
como esta: Quem ousaria duvidar dos antigos gregos?
Conceitos semelhantes são difundidos por tanta gente, que
nós, muito frequentemente, acabamos por assumí-los como
"verdades nuas e cruas". Tal era a conceituação, para mim,
da afirmação "científica" de que o homem "só usa 10% de
seu cérebro", coisa que não tem nada de científico, pois
essa é uma medição impossível de ser realizada.
Mesmo afirmações reputadas como "a teoria mais aceita
pelos cientistas", têm que ser olhadas com muita reserva.
É o caso da teoria do "Big Bang", ou da crença que toda
a espécie humana se originou na África.
Devemos sempre estar vigilantes quanto a afirmações que,
embora muito repetidas, e mesmo que partam de gente
autorizada, nos deixem com "uma pulga atrás da orelha".
Pois assim foram divulgadas e aceitas as alegações de que
"negro é inferior", "homossexual é promíscuo", "cigano é
ladrão", "baiano é preguiçoso", e até afirmações atuais,
como "o PT é o partido mais corrupto". Lembre-se sempre
que questionar é a lei.
Abraço do tesco.
5 comentários:
Perfeito. Muito do que julgamos como científico não passa de ideias preconcebidas.
Beijotescas
Antes de seu escrito, registro aqui o pesar dos historiadores com a morte de Ciro Flamarion, Junho deste ano. Antes dele perdemos também o homem que viveu as duas grandes guerras mundiais, Hobsbawn.
São historiadores que não ficam presos aos fatos, apesar da importância desses.
Pensando na analise desses historiadores so digo uma coisa: a historia ficou muito chata depois que a gente teve que agir com o que chamam de "politicamente correto". Muito chato isso.
Gostei so seu comentário!
hiscla
Saudações Roberto Dantas,
deveras interessante seu texto, realmente devemos estar atentos.
Cordial abraço, saúde e paz.
Você viveu num ambiente mais evoluído do que o meu, pois me diziam que usamos apenas 3% de nosso cérebro.
Além de não haver como medir, esta afirmativa é contrária à Teoria da evolução que Wallace e Darwin tão bem fundamentaram.
As verdades são verdadeiras em determinados contextos e podem deixar de ser verdadeiras noutro, por exemplo: na oposição o PT era um exemplo de probidade, ética e amor à coisa pública. No governo, deixou de ser probo e ético e seu amor à coisa pública intensificou-se tanto que os lulistas se apoderaram do que era público e transformaram em patritônio individual. :)
Manoel Carlos
Manoel, não é verdade que o transporte público, a saúde pública, as empresas estatais, a segurança pública, o Banco Central, o BNDES, e outras instituições públicas, sejam agora patrimônio individual de qualquer petista. Informaram-no equivocadamente.
Se os cargos diretivos destas instituições estão ocupados por petistas, é algo natural e transitório.
Ou você esperaria que o PT alcançasse os cargos eletivos máximos para dar emprego a partdários do PSDB ou DEM?
Abraço.
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