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segunda-feira, 27 de julho de 2009

ORIGENS DE SATANÁS


A leitora «Hiscla», que foi sorteada em março
passado, no Sortesco14, após a leitura do livro
“As origens de Satanás” elaborou uma ótima
resenha e fez a gentileza de me enviar.

Com sua autorização a estou publicando, não só
devido a qualidade da resenha, mas também
como um incentivo a quem queira comentar sua
leitura, principalmente, mas não exclusivamente,
dos livros recebidos por intermédio do Sortesco.


Claro, não será necessária a precisão e a
concisão do texto da Hiscla, que afinal, é
professora universitária e é do ramo (História),
mas uma opinião sincera e fundamentada será
bem vinda.

Com vocês, a

RESENHA

Pagels, Elaine. As origens de Satanás: um
estudo sobre o poder que as forças irracionais
exercem na sociedade moderna. 2ª ed., Rio de
Janeiro, 1996.

Elaine Pagels é doutorada por Harvard em
História das Religiões. É professora e mora em
Nova Jersey. Possui
outras produções do
mesmo tema.

O livro "As origens de Satanás" é um livro
para quem não esta habituado a leitura
bíblica. E, de forma tranquila, a autora
demonstra o fortalecimento de Satanás
a partir de Jesus Cristo e da
institucionalização da Igreja Católica.

Adentrando o livro, este nos faz associar a
outras pesquisas que pesquisam o poder de
permanência do povo judeu apesar de estar
sempre interagindo com outros povos e
ameaçado de dissolução noutras culturas.

Assim, para os patriarcas judeus, a religião
e o Deus único - que se metamorfoseia ao
longo da História - é um elemento essencial
para a unidade política e manutenção da
nação. Enfim, o Deus único é a razão da
unidade dos judeus.

Desse modo, a relação dos judeus com
outros povos se define por uma dualidade:
o judeu e o não judeu. O judeu, sendo
escolhido por Deus deve-lhe obediência
e reverência e o outro que não
obedece ou o reverencia de forma diferente
"não pode ser o escolhido", logo, estará
associado ao mal. Satanás.

Assim é o contexto (falho por ser demais
resumido) do nascimento de Jesus, homem
também judeu e de atuação política dentro
do grupo. Uma atuação que procura rever
antigos códigos de conduta desse povo e
remodelar aspectos da crença. Não
havemos de esquecer que neste período
os judeus estão sob a tutela dos romanos.

Jesus, ao discursar politicamente afronta a
liderança judia, passa a ser hostilizado e
passa a ser "delatado" aos governadores
romanos.

Tendo angariado adeptos - os apóstolos
(que são fonte e sujeito da pesquisa) -
passam esses a reconhecer na resistência
ao discurso de Jesus, a influência de
Satanás. Cabe lembrar que Satanás aqui
não era mesmo um ser com tantos poderes.
Era sim elemento maligno que influenciava
"os não judeus" ou aos que, mesmo sendo
judeus, faziam oposição aos patriarcas.

Esse "elemento maligno" foi construído no
contato com outras culturas e tinha como
objetivo garantir a "escolha" do povo judeu
por Deus,

Era o elemento que explicava a união, a
organização e a permanência do povo
em relação a outros povos.

Aqui, Satanás se fortalece na mesma
proporção em que o discurso de Jesus
ganha espaço e torna-se incômodo por
fracionar a unidade religiosa e política.

A forma encontrada pelos adeptos para
explicarem a oposição ferrenha dentro do
próprio grupo, é a "interferência de Satanás".
E a este é atribuída toda hostilidade que "a
renovação dos preceitos" provoca.

Os apóstolos relatam como Satanás agia:
"Queriam obrigar Jesus a fazer declarações
anti-romanas". E, nesse momento, a figura
do “mal" se fortalece e a intriga deixa de
ser política e entre homens e se torna "uma
guerra no céu", uma guerra entre o bem o
mal. Satanás agora já trava luta “contra o
bem, contra o deus único".

Assim, após a execução de Jesus, grupos
diferentes de cristãos se formam com as
mais variadas interpretações, com as mais
diferentes formas de culto, que muitas
vezes se mesclavam com cultos antigos.

Pouco depois, com institucionalização dos
bispos locais e que tinham como obrigação
cuidar para o "bom andamento" dos
ensinamentos de Jesus, evitar desvios dos
preceitos, continuam a atribuir a Satanás
aquilo que diverge de seus próprios
interesses e entendimento. Esse agora está
infiltrado dentre os cristãos e será "preciso"
erradicá-lo.

Então, mesmo espalhando as idéias cristãs, o
crente que não repetisse "os representantes
de Deus", estaria sob a influência do mal.

Pouco depois, a igreja se institucionaliza e
procura retirar dos "evangelhos" o que
"poderia servir para Satanás atuar" nas
mentes dos fiéis. Seleciona, fragmenta,
exclui e mantém apenas o que possa ser
entendido como obediência, resistência
a Satanás.

E, para firmar-se, todo aquele que diferisse,
que não obedecesse cegamente, era
considerado como quem sofreu "influencia
de Satanás".

Então, para concluir, não seria demais
afirmar que para institucionalizar Deus, foi
preciso também delegar poder e
institucionalizar Satanás.

Estes comentários são pobres diante da
riqueza de detalhes da autora.

Clarice Alves.


Beleza?

Abraço do tesco.

3 comentários:

Anônimo disse...

Achei os comentários interressantes, como você havia dito, mesmo que religião não seja de grande interesse para mim. Contudo, o maniqueísmo e o descompromisso com a conversão dos "infiéis" dos judeus seja importante na percepção de problemas geopolíticos de importância mundial.
Manoel Carlos

tesco disse...

Pois é, Manoel, se os religiosos apreendessem a verdadeira essência da religião, não haveria essa desproporção entre a emoção e a religiosidade. Esse maniqueísmo é básico, vem desde antes das origens do Cristianismo e os povos ainda não se libertaram dele. E pelo ritmo do trem, ainda vai demorar um bocado, essa libertção. _Abraço.

Inglês Rápido e Descomplicado disse...

Não, eu me limito a apreciar os comentários.... quem sou eu para fazer uma resenha.....