quarta-feira, 20 de junho de 2018
O ANJO CINZENTO
Para que o Homem adquirisse confiança em Sua Bondade
Infinita, determinou o Senhor que vários Anjos o
amparassem na Terra, amorosamente...
Em razão disso, quando mal saía do berço, aproximou-se
dele um Anjo Lirial que, aproveitando os lábios daquela
que se lhe constituíra em mãezinha adorável, lhe ensinou
a repetir:
- Deus... Pai do Céu... Papai do Céu...
Era o Anjo da Pureza.
Mais tarde, soletrando o alfabeto, entre as paredes da
escola, acercou-se dele um Anjo de Luz Verde que, por
intermédio da professora, o ajudou a pronunciar em voz
firme:
- Deus, Nosso Pai Celestial, é o Criador de todos os seres
e de todas as coisas...
Era o Anjo da Esperança.
Alongaram-se-lhe os dias, até que penetrou uma casa de
ensino superior, sob cujo teto venerável foi visitado por um
Anjo de Luz de Ouro que, através de educadores eméritos,
lhe falou acerca da glória e da magnificência do Eterno,
utilizando a linguagem da filosofia e da ciência.
Era o Anjo da Sabedoria.
O Homem compulsou livros e consultou autoridades,
desejando a comunhão mais direta com o Senhor e
fazendo-se caprichoso e exigente.
Olvidando o direito dos semelhantes, propunha-se
conquistar as atenções de Deus tão somente para si.
A Majestade Divina, a seu parecer, devia inclinar-se aos
petitórios, atendendo-lhe as desarrazoadas solicitações,
sem mais nem menos; e, porque o Criador não se revelasse
disposto a personalizar-se para satisfazê-lo, começou a
cultivar o espinheiro da negação e da dúvida.
Por mais insistisse o Anjo Dourado, rogando-lhe reverenciar
o Senhor, acatando-lhe as leis e os desígnios, mais se
mergulhava na hesitação e na indiferença.
Atormentado, procurou um templo religioso, onde um
Anjo Azul o socorreu, valendo-se de um sacerdote para
recomendar-lhe a prática do trabalho e da humildade, com
a retidão da consciência e com a perseverança no bem.
Era o Anjo da Fé.
O Homem registrou-lhe os avisos, mas, sentindo enorme
dificuldade para render-se aos exercícios da virtude,
clamava intimamente:
- “Deus? Mas existirá Deus realmente? Por que razão
não me oferece provas indiscutíveis do seu poder?”
Freqüentando o templo para não ferir as convenções
sociais, foi auxiliado por um Anjo Róseo que lhe conduziu
a inteligência à leitura de livros santos, comovendo-lhe o
coração e conduzindo-lhe o sentimento à prática do amor
e da renúncia, da benevolência e do sacrifício, de
maneira a abreviar o caminho para o Divino Encontro.
Era o Anjo da Caridade.
O teimoso estudante aprendeu que não lhe seria lícito
aguardar as alegrias do Céu, sem havê-las merecido
pela própria sublimação na Terra.
Ainda assim, monologava indisciplinado:
- “Se sou filho de deus e se Deus existe, não justifico
tanta formalidade para encontrá-lo...”
E prosseguia surdo aos orientadores angélicos.
Casou-se, constituiu família, amealhou dinheiro
e garantiu-se contra as vicissitudes da sorte;
entretanto, por mais se esforçassem os Anjos da Caridade
e da Sabedoria, da Esperança e da Fé, no sentido de
favorecer-lhe a comunhão com o Céu, mais repudiava os
generosos conselheiros, exclamando de si para consigo:
- “Deus? Mas existirá efetivamente Deus?”
Enrugando-se-lhe o rosto e encanecendo-se-lhe a cabeça
orgulhosa, reuniram-se os gênios amigos, suplicando a
compaixão do Senhor, a benefício do rebelde tutelado.
Foi quando desceu da Glória Celeste um Anjo Cinzento,
de semblante triste e discreto.
Não tomou instrumentos para comunicar-se.
Ele próprio abeirou-se do revoltado filho do Altíssimo,
abraçou-o e assoprou-lhe ao coração a mensagem que
trazia...
Sentindo-lhe a presença, o Homem cambaleou, deitou-se e
começou a reconhecer a precariedade dos bens do mundo...
Notou quão transitória era a posse dos patrimônios
terrestres, dos quais não passava de usufrutuário egoísta...
Observou que a sua felicidade passageira era simples
sombra a esvair-se no tempo...
E, assinalando sofrimento e desequilíbrio no âmago de si
mesmo, compreendeu que tudo que desfrutava na vida
era empréstimo divino da Eterna Bondade...
Meditou... Meditou... reconsiderando as atitudes que lhe
eram peculiares e, em lágrimas de sincera e profunda
compulsão, qual se fora tenro menino, dirigiu-se pela
primeira vez, com toda a alma, ao Todo Poderoso,
suplicando:
- Deus de Infinita Misericórdia, meu Criador e meu Pai,
compadece-te de mim!...
O Anjo Cinzento era o Anjo da Enfermidade.
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Irmão X (espírito Humberto de Campos)
(“Contos desta e doutra vida”, psicografia Chico Xavier)
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