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segunda-feira, 15 de setembro de 2014

BOBAGENS LINGUÍSTICAS-23


"QUEM NÃO TEM CÃO CAÇA COM GATO"

Continuando a leitura do TCC de Carlos Almeida de Jesus, em
2008, "Etimologia - Especulação e Mau Uso",  encontramos a
seguinte verberação contra os 'falsos etimologistas':

"Incansáveis que são, tratam de corrigir o passado também:
o velho ditado “Quem não tem cão caça com gato” estaria
errado, o correto seria “caça como gato”, sozinho, por si
mesmo, fazendo alusão à possível caça solitária do gato em
busca de suas presas, o que contraria até o grande escritor
Machado de Assis, que já fez uso de “com gato”;".


Já faz tempo que tomei conhecimento dessa teoria, mas essa
hipótese nunca se agregou à minha mente. Pra mim é a forma
original que permanece até hoje. Pois o proverbio indica que
se deve improvisar, dar-se um jeito, e não deixar de executar
a tarefa a que se propôs, mesmo sem contar com a ferramenta
adequada, 

A origem proposta para o provérbio faz sentido, mas SOMENTE
numa situação de caça! Se não estivermos caçando, sua
aplicação não será adequada. E os provérbios não são gerados
com apenas um objetivo específico, são metáforas que podem
ser aplicadas a variadas situações.

Como já escrevi aqui, no "Bobagens... 13" , comentando sobre
a ideia de Pasquale Cipro Neto de que Chico Buarque deveria
ter escrito "Quem a viu, quem a vê" em sua música, alterando
o provérbio, que está perfeito na forma em que foi usado.

"Ora, isso parece ser o desconhecimento do costume nacional
(e, creio que, de outros povos também): Citar o provérbio
como ele é transmitido, o que é, frequentemente, uma citação
abstrata, não se referindo a esta ou aquela pessoa."


E destacava a impessoalidade dos provérbos, citando como
exemplo:
"Mais vale um pássaro na mão, que dois voando";
"De grão em grão a galinha enche o papo";
"Casa de ferreiro, espeto de pau";
"Cada macaco em seu galho";
"Tal pai, tal filho";
"Quem ama o feio, bonito lhe parece".


Penso que seria impraticável, procurar o ferreiro que utiliza
espetos de pau, e tentar convencê-lo das 'vantagens da nova
tecnologia'.

O inconveniente dessa "erudição" espantosa, e disseminada
pela internet, é que muita gente crê piamente, sem se dar ao
trabalho de algumas pesquisas, pelo menos, e espalham sua
'sabedoria' sem nenhuma preocupação.

Porém, acho muito apropriado o que escreveu a professora
Lidia Maria de Melo, ao comentar num conto postado nn blog
"A Origem dos Provérbios", em 2006:

"Qual é a base científica para se dizer que o ditado
"Quem não tem cão caça com gato" está errado?
Alguém encontrou algum registro de séculos atrás
com o ditado modificado? Então, isso não passa de
especulação que se disseminou pela internet.
O ditado está correto. Vale até que se prove o contrário."


Sim, porque os pseudo filólogos não apresentam nenhuma
documentação probatória nesse assunto, é tudo "vale o que
eu digo" e mais nada.

Interessante também o entendimento de Iramaia Loiola, que,
ao nos trazer um provérbio inglês com a mesma intenção do
nosso, interpreta exatamente o que eu escrevi lá no terceiro
parágrafo. Vejam se não coincide:

"Já ouviram aquela expressão "quem não tem cão caça com
gato"? Aliás esse provérbio em inglês fica assim "Make do
with what you have".
Usamos nas situações onde se não temos o que é preciso
naquele determinado momento, damos aquele "jeitinho" e
nos viramos com qualquer outra coisa que sirva, ou seja,
improvisamos."


Mostro agora algo que me trouxe justamente este provérbio
à memória. É o início do post do Dr. Áureo Augusto no dia 03
deste mês, intitulado "FESTANÇA DOS TEMPOS ANTIGOS":

"O trabalho com as idosas na semana passada foi mais
divertido ainda do que o comum dos dias. Após a ginástica,
desafiei-as a me contar coisas da festa do padroeiro, São
Sebastião, nos tempos antigos. Elas se entusiasmaram!

Contaram que quando chegava perto da festa, em janeiro,
elas, as mulheres – pois era uma atividade feminina –
pegavam aquele cabo onde, no cacho de banana ficam
presas as pencas. Então cortavam um pedaço, depois batiam
com um macete ou martelo até criar um pincel. Então iam
atrás de tabatinga (que chamam aqui de tubatinga) em um
buraco perto do Riacho do Ouro. Ali colhiam pedaços e
depois pilavam até fazer pó que misturavam com água.
Então pintavam as paredes das casas. Assim ficava tudo
bonito, com cara de novo."


Isso é ou não "caçar com gato"?
Caçem bem!

Abraço do tesco.


4 comentários:

Anônimo disse...

Tesco, tenho muita vontade de estudar a origem de muitas frases. Li um livro do Charles Berlitz em que ele conta que vários ditos populares são comuns em vários idiomas e culturas. É fascinante.
Beijotescas

Shirley Brunelli disse...

Esses ditados são objetivos, eloquentes, contundentes, isto é, dispensam comentários, todos entendem prontamente o sentido deles.
(Nossa!!! Estarei no próximo voo pra Aracaju rsrs. Belíssimo poema).
Beijos tesco!

Denise Carreiro disse...

Amo os ditados populares, pois trazem sabedoria. E concordo com vc na explicação do caça com gato. Achei incrível a forma de pintar casas. De fato, quando se quer, se arruma um jeito. Muita paz!

Anônimo disse...


Muito interessante! e melhor ainda são os profissionais da língua se colocarem! Pois, como em todas as áreas, há aqueles que deduzem algo e passam a divulgar aquilo como verdade e não como simples hipótese! Gosto muito desse assunto, dos provérbios.
Seus comentários, Tesco, sempre nos enriquece,não é?
hiscla