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domingo, 7 de setembro de 2014

BOBAGENS LINGUÍSTICAS - 22

ENXOMBRADO

Minha avó usava esse termo e minha mãe não aprendeu outro.
Por muito tempo tive-o por ortodoxo, até que um dia me saltou
à vista a singularidade da palavra. Pensei "Deve ser corruptela
de 'ensombrado', pois sempre era usada em relação a roupas
colocadas pra secar ao sol e que não estavam completamente
enxutas".

A origem deve ser esta mesmo, mas não é uma variação  tão
'marginalizada' como eu havia pensado, pois a forma variante
'enxambrar' já estava registrada nos dicionários portugueses.
A verdade é que as aparências enganam!


MAU USO DA ETIMOLOGIA

Leitura curiosa me apareceu na forma de um TCC (Trabalho
de Conclusão de Curso), efetuado por Carlos Almeida de Jesus,
para conclusão do Curso de Letras da Faculdade Anchieta, de
São Bernardo do Campo (SP), em 2008, e que tem por título:
"Etimologia - Especulação e Mau Uso".

Pode parecer intrigante que uma disciplina - Etimologia - que
é, aparentemente, tão inócua, possa gerar mau uso. Pois gera,
e por causa, justamente, da especulação.

O pesquisador vê-se incomodado com o atual "fenômeno  da
especulação
" muito utilizado "pelos oportunistas que se
aproveitam do grande interesse popular sobre o assunto para
impor suas descobertas fantásticas como regimento do uso
“correto” das palavras"
.

Cita inclusive a suposta genealogia de 'forró' provindo de
"for all", o que já foi enfocado aqui, no
"Bobagens... 6".


CECÊ

Muito interessante a etimologia de 'cecê', que ele conta desse
modo:

"Especula-se, também, que o termo cecê – usado para designar
o mau cheiro das axilas – teria uma origem indígena, assim
como: inhaca e chulé, ou teria sido formado como aquelas
palavras que se usam em família, típica da linguagem usada
para interagir com crianças – caracterizada pela repetição de
sílabas: popô, xixi, tetê, naná e outras. No entanto, trata-se de
uma espécie de um empréstimo lingüístico.

Havia nos Estados Unidos uma marca de sabonete, campeã de
vendas por lá, chamada Life-buoy, a qual, em seu slogan, se
dizia insuperável na capacidade de eliminar o mau cheiro do
corpo, o B.O. (sigla para body odor). Com a fama, o produto
foi lançado no Brasil e os produtores mantiveram a mesma
estratégia de publicidade, traduzindo, então B.O. (body odor)
para C.C. (cheiro do corpo). A sigla ganhou popularidade e
não demorou muito para entrar no léxico da língua
portuguesa – cecê está devidamente dicionarizada, com
essa mesma grafia."


Como vemos, uma explicação inteiramente racional e com
documentação probatória, ao contrário das especulações.


HISTERIA

O caso de 'histeria' é inverso, a etimologia é invocada para
restringir o uso do termo. Observem o que diz o Carlos:
 
"Esses indoutos são capazes de dizer que só as mulheres
poderiam ser histéricas e que seria coisa de outro mundo
falar em “homem histérico”. A base, de novo para tal, é
etimológica: histeria, derivação de hyster = útero (do Grego),
portanto, anatomicamente relacionada às pessoas do sexo
feminino; uma doença nervosa que, supostamente, se
originava no útero, caracterizada por convulsões.

Todavia, o termo desvinculou-se da esfera biológica e passou
a designar um comportamento caracterizado por excessiva
emotividade ou por um terror pânico que se exprime por
manifestações de ordem corporal. Sendo assim, tratou-se
de atribuir o termo também ao homem em estado sintomático
semelhante, mesmo que tendo causas muito diferentes das
da mulher."



MONSTRENGO

Já 'monstrengo', que já é uma demonstração, pela própria 
origem do termo, é lembrado para mostrar o que acontece
no embate entre as variantes eleitas pelos gramáticos e as
acolhidas pelo povo. Em geral o povo é quem determina a
forma que sobrevive. O autor faz uso de um trecho do livro
"Fábulas e Histórias Diversas", de Monteiro Lobato: 

"- Mostrengo ou monstrengo, vovó? Quis saber Pedrinho. -
Vejo esta palavra escrita de dois jeitos. 


- Os gramáticos querem que seja mostrengo – coisa de
mostrar; mas o povo acha melhor monstrengo – coisa
monstruosa, e vai mudando. Por mais que os gramáticos
insistam na forma mostrengo, o povo diz monstrengo.
 

- E quem vai ganhar esta corrida, vovó?
 

- Está claro que o povo, meu filho. Os gramáticos acabarão
se cansando de insistir no mostrengo e se resignarão ao
monstrengo.
 

- Pois eu vou adotar o monstrengo, resolveu Pedrinho.
Acho mais expressivo."


A verdade é que todos, eruditos ou não, têm que se curvar à
vontade popular, pelo menos em matéria linguística, pois,
quem faz a língua é o povo.

Pinçarei outros exemplos desse TCC e os trarei em posts
futuros.

Abraço do tesco.

6 comentários:

Clara Lúcia disse...

Tesco também é cultura... das boas!
Eu recomendo!
Monstrengo eu disse muito, brincando com meus filhos.
Boa semana, beijos!

Denise Carreiro disse...

A linguística é muito interessante. Quanto a esse trecho do livro de Monteiro Lobato, me lembro bem. Quando li, ficava impressionada com a sabedoria de D. Benta. Muita paz!

Helena disse...

Li a postagem sobre ENXOMBRADO e fiquei procurando o lugar de comentar, e como não encontrei fui lendo mais postagens, já preocupada em não poder deixar a minha impressão sobre o blog. Foi quando descobri que postavas sobre diversos tópicos para então permitir que a postagem fosse comentada.
Apreciei muito o teu espaço, a tua forma didática de nos trazer o conhecimento através de tão variada leitura.
Gostei de tudo que li dentro do tempo de que dispunha (posso voltar para ler mais?), mas quero destacar a postagem CONTRACANTO: LIA.
Fica indelicado eu dizer que ri muito da forma como foi conduzida a tua explicação? Se ficar, não digo!
Também sou fissurada em leitura. No meu apartamento tenho livros espalhados por todo ele: salas, banheiros, escritório, quartos, sempre um a altura da mão. Por isso gostei muito da tua apresentação.
Já conversei demais, desculpe invadir assim o teu espaço, mas nem sei dizer como cheguei aqui, mas sei que, se permitires, vou voltar sempre!
Deixo-te sorrisos e estrelas e os votos de muito (mais ainda) sucesso em tua vida.
Helena

tesco disse...


Querida Helena, não tenhas dúvidas em retornar, aqui é como
coração de mãe, acolhe todos de bom grado.
E podes comentar á vontade, instala-te e aconchega-te,
dispõe os móveis do modo que queiras e toma
conta do teu espaço.
Indelicado aqui é apenas falar mal de outros
visitantes, mesmo falar mal de mim (e rir
não se enquadra nisso)é permitido sem problemas.
Em breve comentarei no "Apenas lembranças...",
que é muito simpático.
Beijos.

Anônimo disse...

Não há etimologia que me salve, pois tenho minhas cismas e palavras como jinjibirra eu tenho que me conter para não escrever gengibirra.
Manoel Carlos

Shirley Brunelli disse...

Ih! tesco, você é um mOStrengo, perspicaz, inteligente, estudioso...quer mais?rs