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segunda-feira, 3 de março de 2014

CRENÇAS ANTIGAS-2

Como vimos no primeiro post sobre crenças antigas, como 
informado por Fustel de Coulanges, os povos criam que a 
pessoa, depois da morte, continuava a viver normalmente, 
como vivia na superfície, mas agora sob a terra, no túmulo. 
Diz Coulanges:  

“Dessa crença primitiva derivou-se a necessidade do 
sepultamento. Para que a alma se mantivesse nessa 
morada subterrânea, necessária para sua segunda vida, 
era preciso que o corpo, ao qual permanecia ligada, fosse 
coberto de terra. A alma que não possuía sepultura não 
possuía morada, e ficava errante!". 

Vê-se aqui, uma ininteligível mistura entre a percepção da 
existência de uma dimensão além da matéria e o total 
desconhecimento das características dessa mesma 
dimensão. Cria-se na necessidade de um 'abrigo' para as 
almas, como temos casas durante nossa vida na terra. 
Para suportar as intempéries, talvez. 
Coulanges continua informando: 

"Em vão aspirava ao repouso, que deveria desejar depois 
das agitações e trabalhos desta vida; e era obrigada a errar 
sempre, sob a forma de larva ou de fantasma, sem se deter 
jamais, e sem receber nunca as ofertas e alimentos de que 
necessitava. Como era infeliz, logo se tornava perversa. 
Atormentava os vivos, provocava-lhes doenças, destruía 
colheitas, assustava-os com aparições lúgubres, a fim de 
fazer com que dessem sepultura a seu corpo e a si mesma. 
Daí se originou a crença nas almas do outro mundo”.  

Creio que temos aí a origem do pensamento moderno, 
felizmente, nao mais relacionado à sepultamento, de que 
o espírito torna-se errante caso não complete sua "missão" 
(na verdade, expiação) sobre a terra. Deixou algo 'pendente', 
portanto, não consegue chegar a 'seu destino'. 

Mas, essa 'necessidade' de sepultura gerou um pensamento 
estranho entre os homens e, mais estranho ainda, um 
comportamento excludente: 

"Nas cidades antigas a lei punia os grandes criminosos com 
um castigo considerado terrível, a privação da sepultura. 
Punia-se desse modo a própria alma, condenando-a a 
suplício quase eterno.". 

Uma deturpação evidente de um conceito que deveria ser 
predominante, mesmo nas épocas mais antigas: "Cada um 
é responsável por si mesmo". Infelizmente, não era isso que 
predominava, mas uma absurda delegação de poderes 
sobre a própria alma. 

Por muito tempo a Igreja Católica, dominante em toda a 
Idade Média, negou sepultamento em "Campo Santo", como 
eram denominados os cemitérios oficiais, aos suicidas, por 
exemplo, como nos informa o Cônego José Luiz Villac, em 
"Catolicismo - Revista de Cultura e Atualidades", pois: 

"O suicídio é um pecado escandaloso, que atenta contra 
os direitos de Deus... É um pecado gravíssimo que precipita 
a alma diretamente no inferno.", e 
"Por esta razão, as leis da Santa Igreja (cânones 1184/5) 
vedam conceder exéquias eclesiásticas aos “pecadores 
manifestos” — como é o caso dos suicidas — “a não ser 
que antes da morte tivessem dado algum sinal de 
arrependimento”. 

Estas normas, atualmente, estão muito mais abrandadas, e 
já se admite até "que sejam celebradas as missas de corpo 
presente" em diversos casos. 

Prossigamos, no entanto, com as explanações de Coulanges: 

“Notemos bem que não bastava confiar o corpo à terra. Era 
necessário ainda obedecer a ritos tradicionais, e pronunciar 
determinadas fórmulas. Sem os ritos e fórmulas da cerimônia
fúnebre as almas tornavam-se errantes e apareciam aos 
vivos, era evidente que tais ritos fixavam-nas e encerravam-
nas dentro dos túmulos."

Pronto! Era tudo que os sacerdotes queriam: Necessidade de 
rituais! Nesse campo eles entram de sola. Mesmo que estes 
procedimentos, originalmente, fossem responsabilidade do 
chefe da família, pouco a pouco (ou muito a muito, que não 
sei qual foi o ritmo), eles apossaram-se da administração e 
execução destes processos. 

Essas ideias estavam tão impregnadas nas mentes desse 
pessoal, que a morte não os intimidava, desde que fossem 
cumpridos os ritos: 

“Vê-se claramente, pelos escritores antigos, como o homem 
era atormentado pelo medo de que, depois de sua morte, 
não fossem observados os devidos ritos. Essa era uma fonte 
de inquietudes pungentes. Temia-se menos a morte que a 
privação da sepultura, pois desta última dependia o repouso 
e felicidade eterna"

Seria cômico, se a mentalidade na humanidade hoje fosse 
bem esclarecida e diferente de antigamente. Mas isso não 
se dá. Muitas das ideias errôneas que dominavam os tempos 
antigos, ainda hoje se entremeiam no ideário comum. 

Testemunho disso são costumes que se perpetuam no nosso 
ambiente, como dizer, por exemplo, "Que a terra lhe seja 
leve!", ou gravar numa lápide "Aqui repousa...", para se 
referir tão somente aos restos mortais. 

Urge nos informarmos sobre as realidades dessa dimensão, 
tão misteriosa antigamente, e hoje aclarada pelas boas 
novas fornecidas pelos próprios espíritos que cruzaram esse 
portal antes de nós. Agora temos um 'guia turístico' tão certo 
e seguro quanto os modernos guias de cidades. Ele se chama 
"O livro dos espíritos", só fica perdido "como cego em meio 
a um tiroteio" quem quiser! 

Abraço do tesco. 

3 comentários:

Anônimo disse...


Tesco, é interessante como a historia tem suas permanências, muito mais permanências que mudanças, veja isso:

Em 25/04/2010, véspera de Pentecostes, um “re-enterro” interessante ocorreu na catedral de Frombork, na Polônia. Um antigo cônego da catedral, que ganhou fama mundial muito depois de sua morte, teve seus restos mortais encontrados depois de um trabalho de pesquisa ordenado pelo bispo local e agora ganha um novo local de descanso. O cônego era Nicolau Copérnico, cuja morte completa hoje 467 anos, e a cerimônia de sábado foi liderada pelo arcebispo de Gniezno e primaz da Polônia, Józef Kowalczyk.
Trago só a foto porque simplesmente todos os textos que li a respeito contêm algum erro grosseiro sobre o próprio Copérnico ou sobre a recepção da Igreja à teoria heliocêntrica. Uns diziam que ele foi enterrado quase no anominato porque suas ideias incomodaram a Igreja. Mentira dupla, porque Copérnico não teve problema nenhum com a Igreja, e porque ele foi enterrado da mesmíssima maneira como se enterravam todos os outros cônegos da catedral de Frombork. Outras reportagens alegavam que a Igreja condenou o heliocentrismo como herético, o que também é mentira.
A descoberta dos restos de Copérnico é uma história fascinante. A busca começou em 2004, por ordem de Jacek Jezierski, bispo auxiliar de Warmia (a diocese que inclui Frombork). Quando se encontrou um crânio cujas características eram semelhantes às de um auto-retrato do astrônomo, um teste de DNA revelou que o crânio e fios de cabelo achados em um exemplar da primeira edição do De Revolutionibus (a obra em que Copérnico explica seu sistema) eram da mesma pessoa.
Na ocasião do novo enterro, o bispo Jezierski reafirmou que ciência e religião devem andar juntas. Esta homenagem, justa, a Copérnico é mais um gesto nessa direção.

http://www.gazetadopovo.com.br/blogs/tubo-de-ensaio/o-segundo-enterro-de-copernico/

Denise Carreiro disse...

Necessário é nos prepararmos para a morte e termos consciência que morrer não é descansar e sim trabalhar. É através do trabalho que progredimos e o progresso é uma lei de Deus. Muita paz!

Anônimo disse...

Querido, mais uma aula para nós simples mortais.
Beijotescas