TRADUTOR

English French German Spain Italian Dutch Russian Portuguese Japanese Korean Arabic Chinese Simplified

quinta-feira, 6 de março de 2014

ANALISANDO LETRAS-10

DODÓ E ZEZÉ 

As letras de Tom Zé são sempre muito instigantes, por vezes 

inovadoras, por vezes com significações mais profundas. 
E não deixam de se inserirem em melodias agradáveis. 

Esse diálogo entre "Dodó e Zezé" que apresento hoje, foi 
incluída no álbum "Todos os olhos", produzido em 1973, e 
pode parecer apenas muito jocoso. É uma letra jocosa sim, 
mas não somente isto, cada resposta (e cada pergunta) é 
capaz de gerar animadas sessões de debates sociológicos. 

Antes de comentar qualque verso da letra, apresento-a aí 
embaixo e, quem quiser relembrar a melodia, pode clicar 
no título da música que o link leva direto ao You Tube (que 
não tem animação, mostra apenas a capa do álbum). 
Quem interpreta o Dodó é Odair Cabeça de Poeta. 

DODÓ E ZE
Tom Zé 

- E por que é que a gente tem que ser marginal ou cidadão? 
Diga, Zezé! - É pra ter a ilusão de que pode escolher, viu, Dodó? 
- E por que é que a gente tem de ter um medo danado 
de tudo na vida? diga, Zezé! 
- É pra aprender que o medo é o nosso melhor conselheiro, 
viu, Dodó? 
- Sorrisos, creme dental e tudo... 
E por que é que a felicidade anda me bombardeando? 
Diga, Zezé! 
- Anda o que, Dodó? 
- Anda me bombardeando. 
- Ah! É pra provar que ninguém mais tem o direito de ser 
infeliz, viu, Dodó? 
- E por que é que um Zé qualquer, de vez em quando, 
tem que dar sete sopapo na mulher? Diga, Zezé! 
- Ah, isso é pra no outro dia, de manhã cedinho, vender 
muito jornal, viu, Dodó? 
- E por que é? E por que é? E por que é? E por que é? 
- É porque porque, porque porque,
porque porque, porque porque, 

viu, Dodó? 
É porque a e porcá, é porque é e porqué, 
é porque i e porqui, é porque ó e porcó... 
É porque a e porcá, é porque é e porqué, 
é porque i e porqui, é porque ó e porcó... 
... 
   *   *   *   

Termina bem animadinha, né?  
Agora, vejamos os primeiros versos. 
A gente tem que ser marginal ou cidadão? 
Sim, é a resposta lógica. Se há um traço no chão, ou você 
está dum lado ou do outro. Isso significa que, normalmente, 
você cruza a linha se quiser. Então poderia escolher, e não 
tem "a ilusão de que pode escolher", como diz Tom Zé. 

Mas essa é uma visão simplista, há muitas variantes e, às 
vezes, pode-se ser forçado a cruzar a linha, tornando-se um 
marginal. Além do que, estas linhas são as leis humanas, e 
as leis humanas variam conforme o lugar ou a época. 
Além de tudo a classificação é humana. 

A Lei, imutável e coerente é a Lei Divina, e esta é uma linha 
que só é ultrapassada por escolha própria, pois a Lei está 
impressa na consciência de todos. Aí, portanto, somente se 
torna um marginal quem escolhe ser um marginal. 

Como Tom Zé se refere ao fato social, ele tem razão, muitas 
vezes se tem "a ilusão de que pode escolher". 

Em seguida acontece a reflexão sobre o medo. É "o nosso 
melhor conselheiro", diz o Tom. E é desse modo, o medo 
nos leva a ponderar sobre todos os eventos em nossa vida, 
quem faz as coisas sem refletir, geralmente se arrepende. 
Aqui, vale destacar, não se fala das fobias, medo exagerado 
de coisas, às vezes, triviais, nem se referencia, muito menos, 
à covardia. Há ocasiões em que se deve enfrentar os riscos, 
ou mesmo a certeza de prejuízo, sobrepujando o medo. 
Como disse Gandhi: "O medo tem serventia, a covardia não".  

Chega a vez de uma pergunta intrigante: 
Por que a felicidade anda bombardeando o Dodó? 
Temos agora três interpretações dessa 'felicidade'. 

A primeira é a felicidade dos bens materiais, essa que tem 
como símbolo ganhar na loteria ou, em tempos mais pra 
trás, receber uma herança de vulto. Aqui se encaixa também 
achar um tesouro no quintal (pensava que essa época tinha 
acabado). Mas, como tudo na vida é passageiro, essa 
'felicidade' um dia também acaba. 

A segunda interpretação de felicidade é a maneira de ver a 
vida, se o ponto de vista é o de que a felicidade real é poder 
ser útil, para o mundo e para as pessoas, então pode-se 
transmutar qualquer 'desgraça' em eventos felizes, assim, a 
felicidade se torna duradoura. 

O terceiro tipo é a felicidade imposta pela mídia. Aqui você 
não tem mais o direito de ser infeliz, afinal você bebe o 
refrigerante X, acompanhando o salgadinho Y, e se lhe vier 
qualquer indisposição, você toma um ou dois comprimidos 
de "Felicitex" e pronto, fica tudo maravilhoso outra vez. 
Além disso, para casos mais persistentes, você será muito 
bem atendido no Hospital Saudex, pois você tem o Plano 
de Saúde "Cobretudo". Melhor do que isso, nem em Krypton! 
O que isso tem a ver com felicidade?
Não sei, mas isso "anda lhe 
bombardeando" o tempo todo. 

Ainda relacionado à mídia é a quarta situação. 

- Oi, e o dujeito dá uns 'sopapo' na mulher por causa da 
mídia? 

Não, não 'por causa', mas a mídia retrata a realidade sempre 
do jeito mais escandaloso possível, e seleciona o que tem de 
mais escabroso no momento. Consequentemente, você não 
vê o mundo real, mas o mundo que a mídia quer que você 
veja.  

Assim, um Zé qualquer bate na mulher de acordo com o 
volume de 'novidades' que o jornal, a emissora, o site, tem 
em estoque. É o 'gato de Schrödinger', aparece morto ou 
vivo, a depender do momento midiático. 

Então, como vemos, é uma letra que dá pano pra manga! 

- Ei, ainda tem uma pergunta... 

Tem? 

 - Sim, o Dodó pergunta: "E por que é? E por que é?... " 

Ah, sim. É a pergunta que simboliza todas as perguntas. 

- Ah, é? 

Sim, e a resposta é que para qualquer pergunta sempre há 
uma resposta, mesmo que não convença ninguém. Mas, 
geralmente existe muita gente que se satisfaz com qualquer 
resposta. Viu, Dodó? 

- Ei, eu não sou Dodó não! 

Bem, agora é tarde! 

Abraço do tesco. 

3 comentários:

Anônimo disse...


Tesco, essa eu não conhecia não..
mas ouvi no youtube.
E seus comentários são pertinentes só não se sabe porque "essa musica".

você acredita mesmo que podemos escolher as coisas? Até onde escolhemos?
O que vc diz da mídia é mais que correto e acertado! eita povinho manipulardor!
Dos parâmetros da felicidade, gostei bem, e penso que ser feliz hoje é levar essa vidinha pequenina que levo, ´poder olhar pra e ver tudo que se foi e tudo que foi levado e saber que se deu errado, a gente tb errou, mas fizemos que estava ao nosso alcance.
hiscla

FOXX disse...

Bela análise mesmo! Parabéns!

Denise Carreiro disse...

Tesco, muito legal vc ter utilizado a letra de uma música para colocar conceitos espíritas. Para muitas pessoas a religião é tão distante e fazendo o paralelo com uma coisa de nosso dia a dia, parece que fica mais próxima.
Outro ponto é a forma que vc aponta a mídia, "pintando o quadro" conforme lhe interessa. Muito profundo. Muita paz!