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segunda-feira, 26 de março de 2012

O TEMPLO DE SATÃ


Li "O templo de Satã", volume II, do ocultista francês Stanislas
de Guaíta (1861-1897), e não é um livro 'satanista' como se
poderia deduzir do título.


O primeiro volume (que não tenho) analisa cartas do tarot, de
modo que não trata de assunto de meu interesse. O segundo
volume contém um glossário nas 50 páginas iniciais, o que já
aumenta nossa cultura inútil. Mesmo nesse início, Guaíta dá
sua opinião equivocada sobre o Espiritismo. Adianto que é
uma publicação de 1891. Veja sua definição:


"ESPIRITISMO -
Espécie de religião fundada em meados deste século por
Allan Kardec. As práticas espíritas consistem, sobretudo na
evocação dos mortos amados. O cerimonial usado para esse
fim não tem os sinais de grandeza que salvam, aos olhos do
artista, os rituais mais sacrílegos da antiguidade sacerdotal.
Se nossos modernos necromantes fazem falar o oráculo do
túmulo, é através do ministério dos chapéus sibilinos, das
mesas que falam e que giram. Ver capítulo II onde tratamos
 dos médiuns e do Espiritismo".


Embora eu não saiba o que é "espécie de religião",
evidentemente este é um conceito equivocado. O Espiritismo
nasceu de um empreendimento do prof. Rivail, que depois
cognominou-se Allan Kardec, na investigação científica (apesar
de alegarem que não houve ciência nisso, observação rigorosa
e experimentação controlada fazem parte do método científico)
de fenômenos estranhos que estavam acontecendo. Esta
investigação constatou a presença de seres inteligentes, e
normalmente invisíveis, que nos legaram um sistema filosófico
de consequências morais e religiosas. Portanto, o aspecto
religioso é inegável.


Ainda que restringindo a prática espírita a um irresponsável
costume que se generalizou no século 19, o de evocar os
mortos, Guaíta evidencia a vacuidade de seus conceitos na
terceira frase: "O cerimonial usado para esse fim não tem os
sinais de grandeza...", dando a entender que sua preferência
é por pomposos rituais, cheios de 'trique-trique', mesmo que
seu conteúdo seja nulo. O Espiritismo pra ele, então, foi uma
completa decepção, pois é isento desses aparatos.


Mas o que denota a má vontade de Guaíta em relação ao
Espiritismo é dizer que "Se nossos modernos necromantes...".
Ora, o que menos tem relação com necromancia é justamnete
Espiritismo. Quem busca obter predições do futuro através de
consulta aos mortos, embarcou numa canoa furada. Apesar
da alta cultura demonstrada, Guaíta não leu "O livro dos
espíritos". O que foi uma pena. 


O motivo da rejeiçao de Guaíta ao Espiritismo fica explicitado
quando se lê o capítulo II, onde ele prometeu que iria tratar
desse assunto. Veja-se este parágrafo:


"Que é o Espiritismo, segundo as próprias definições de seus
seguidores? A evocação dos mortos, traduzo: retrocesso
temporário a um mundo inferior de existência, de almas em
vias de evoluir para um mundo mais perfeito".


Ou seja, não dá crédito ao que os espíritos dizem sobre a
continuidade da vida nas dimensões pós-morte, preferindo
visualizar um "céu" ("um mundo mais perfeito"), e o
encaminhamento automático dos espíritos para esse
destino. Qualquer interrupção nesse processo, seria "obra
nefasta", como ele diz adiante.


Sua prevenção também se origina da absorção dos conceitos
teosóficos disseminados eor Helena Blavatsky. Leiam este
trecho, como exemplo:


"Quanto ao Espiritismo, diremos que a pretensa evocação do
que chamam espíritos, deseja, em regra, tornar presentes ou
mesmo criar seres igualmente lemurianos e parasitários,
sempre inúteis, muitas vezes nocivos, algumas vezes
irremediavelmente funestos.


Madama Blavatsky via certo e longe quando predizia que a
consequência última da invasão espírita no Ocidente seria em
breve a perda segura e a ruína total de milhares de almas,
inconscientes vítimas de Allan Kardec e sua doutrina
subversiva".


Por que essas conclusões tão terríveis? Vejam essa definição
duas páginas depois:


"Se perguntassem em que consiste o médium, nós o
defiriríamos como o homem (ou mulher) doente de
incontinência vital e gastando-se para alimentar com sua
substância fluídica (excessivamente aberta e condescendente
aos empréstmos), uma multidão de larvas parasitas que
fervilham e se multiplicam em sua atmosfera astral, em seu
nimbo oculto".


Aí está o porquê das convicções de Guaíta: Embebeu-se da
doutrina teosófica, em que não é o espírito que se comunica
com os seres humanos encarnados, mas apenas seus
"cascões astrais",  que são ocupados por "larvas" e seres
elementais, cuja única função parece ser a de enganar os
"trouxas" humanos.


Para concluir e  levantando a questão de se saber se existe
má-fé por trás dessa disseminação de conceitos negativos,
vejamos as considerações de Guaíta sobre o hipnotismo,
ainda chamado de magnetismo, do qual Mesmer foi o
precursor da utilização clara.


"Seria Mesmer um intuitivo ou um iniciado? Toda a questão
está aí. No primeiro caso, apesar das lacunas e incoerências
do seu sistema, foi grande inventor: não se pode, com justiça,
torná-lo responsável pelos abusos que sua descoberta
acarretou. No outro caso foi criminoso, traidor e profano.
Para o magnetismo ser só benéfico seria preciso que
tivesse permanecido oculto".


Percebem a lógica da coisa? Conhecimento efetivo oculto,
nada para os 'profanos' a não ser efeitos miraculosos.
Continuem 'bons selvagens' seus ignorantes, nós,  'iniciados'
é que  podemos comandar!


O Espiritismo, que veio revelar o que estava oculto, portanto,
é um grande inimigo. É classificado neste livro como "magia
negra". E Espiritismo nada tem de magia, os efeitos que 
maravilhavam os europeus dessa época ocorriam de modo
espontâneo, quando muito, eram solicitados, não decorrentes
de ordens, como é costume da magia.


Apesar dessa ideologia parcial e injusta, pretendo sortear o
livro num sortesco próximo.


- Está ficando incoerente, tesco? Você se recusou a sortear
o livro de um filósofo francês, lembra?


Oh, sim, mas não há incoerência nisso. Este livro de que
falo não é de agora, é do século 19, faz parte da História
então. E eu não pretendo mudar a História, pelo contrário,
quero que seja conhecida de todos, para se evitar repetições
 indevidas. Além disso aquele, de filósofo só tem o diploma.
Não sabia que a França formava profissionais desse tipo.


- Você está falando demais, tesco.

Nada. A sorte dele é que meu blog não tem repercussão.
Risos.


Abraço do tesco.

Um comentário:

Anônimo disse...

Tesco, não dá para digitar do jeito que eu gosto. Vou deixar para a semana que vem quando voltar para casa.
Bjs