Eis um trecho do livro A verdade vencerá", que é uma
entrevista dada por Lula, em março de 2018, aos
entrevistadores Ivana Jinkings, Juca Kfouri, Maria Inês
Nassif e Gilberto Maringoni, e publicada em livro pela
Boitempo Editorial, sob coordenação da Ivana Jinkings,
diretora da Boitempo.
É uma pequena amostra da entrevista (não pedi licença
à Editora), para que avaliem o tipo de homem que estamos
(o Brasil está!) mantendo encarcerado, sem nenhum crime
especificado, apenas por motivos políticos!
Recomendo a aquisição deste livro e sua leitura imediata.
É a melhor descrição dos tempos históricos vividos até a
data da entrevista.
Lula diz:
"É chata pra cacete a tal liturgia.
Na verdade, tentei quebrar isso.
Por exemplo, quando o Bush foi ao Torto almoçar.
A liturgia dos dois lados, a segurança dizendo não isso,
não aquilo.
E tinha a famosa churrasqueira do Guinness Book, do
Figueiredo, de uns 12 metros de comprimento, você
colocava uma fazenda inteira lá dentro [risos] assando
e todo mundo que ia lá, Fidel, Chávez, a todos eles eu
ofereci churrasco, que é comida nossa, gostosa.
Então, o Bush foi lá, um esquema de segurança da porra.
Quando fomos juntos a Guarulhos, fecharam a marginal do
Tietê, um absurdo; é tudo feito pra valorizar o esquema de
segurança. Se alguém queria matá-lo no Iraque, tudo bem,
mas aqui no Brasil era capaz de ele passar num bar pra
tomar cachaça e não ser reconhecido.
É que, como a imprensa brasileira puxa o saco com esse
complexo de vira-lata, ele aparece mais na televisão do
que os presidentes da região, então talvez ele fosse
reconhecido, vá lá...
Voltando ao churrasco: a segurança vem e diz que não
podia ter faca. Mas agora me diz: como é possível ter
churrasco sem faca? [risos]. A primeira coisa que o Bush
fez, na hora que ele entrou com a esposa dele (eu estava
lá esperando com a Marisa), foi dizer: “Me empresta essa
faca aí que eu quero um pedaço dessa carne”. Ele pegou
a faca, partiu a carne e devolveu para o churrasqueiro.
Aí fica todo mundo com cara de bunda [risos].
A mulher do Hu Jintao foi jantar em casa. Era pra você
mostrar uma deferência, um carinho, e o Hu Jintao era
um cara todo formal; pra falar “bom dia”, ele lia [risos].
E o Celso Amorim ficava incomodado porque eu não sei
falar com as pessoas sem tocar [nelas], não sei conversar
sem tocar, é meu jeito. E a mulher do Hu Jintao é toda
doentinha, tem muito cuidado com a comida... Chega lá,
um feijão-tropeiro, uma carne assada enorme: aquela
mulher sarou de tanto que comeu! [Risos.] E tem a
recompensa. Quando fui à China [em 2009], ele me
colocou numa casa dentro de um parque...
Nem em filme da Disney eles conseguiriam inventar uma
casa maravilhosa como aquela. E fomos jantar os dois
casais.
Então, tem as compensações. E assim fui tratando as
pessoas, fazendo amizade. Eu não tinha preconceito se
o cara era de direita ou de esquerda. Pra mim, o cara era
chefe de Estado, de outro país, está no Brasil, tenho de
tratá-lo com dignidade, quero tratá-lo com muito cuidado
para ser tratado por ele como eu o tratei quando nos
encontrarmos no país dele. Trabalhei isso com muita
paixão, com muito carinho, às vezes cuidava como se
fosse meu filho.
Eu era presidente, e o Evo Morales estava lá, concorrendo,
era o “cocalero”. E ele [com entonação espanhola]:
“Presidente Lula, hermano mayor – ele me chamava de
hermano mayor –, como trato meus adversários?”.
E eu dizia:
“Trate como você quer ser tratado.
Você quer ser respeitado? Então respeite”.
Porque a política não exige grosseria.
Você tem que ser duro, mas com finesse.
Porque você não precisa ficar chamando o outro de
canalha, ladrão, bandido."
~~~~~ ~~~
Aí, amigos, uma pálida imagem do que é Lula.
Representa muito, muitíssimo para o Brasil.
Até quando deixaremos prosseguir uma injustiça
tão flagrante?
Parece o conto de Kafka sendo materializado:
Seremos todos uns Gregor Samsa?
Na espera que esse pesadelo termine,
abraço do tesco.
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