Era uma vez, na longínqua cidade de Wirani, um rei
que governava os seus súditos com poder e sabedoria.
O povo o temia por seu poder e o amava por sua sabedoria.
No coração daquela cidade,
havia um poço de água fresca e cristalina.
Dela bebiam todos os seus habitantes e até mesmo o rei
e os seus cortesãos, pois era o único da localidade.
Certa noite, quando todos dormiam, uma bruxa entrou
na cidade e derramou sete gotas de um misterioso
líquido no poço, dizendo:
— A partir de agora, quem beber desta água ficará louco.
Na manhã seguinte, todos os habitantes do reino,
salvo o rei e o seu lorde camareiro, beberam do poço
e enlouqueceram, tal como a bruxa havia predito.
E, naquele dia, nas ruas estreitas e nas praças do mercado,
as pessoas não paravam de sussurrar entre si:
— O rei está louco! Nosso rei
e o lorde camareiro perderam a razão.
Certamente, não podemos ser governados por um rei louco.
Devemos destroná-lo.
Naquela noite, o rei mandou que enchessem
uma grande taça com a água do poço.
E quando a trouxeram, bebeu da água abundantemente
e entregou a copa ao lorde camareiro,
para que do líquido também bebesse.
E houve um grande regozijo na longínqua cidade de Wirani,
porque o seu rei e o lorde camareiro
haviam recobrado a razão.
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Khalil Gibran
“Contos breves”
2 comentários:
Não entendi bem. A água se descontaminou?
Não, pelo contrário, todos ficaram contaminados.
Assim, os súditos vendo o rei igual a eles,
o consideravam "curado"!
Retrata a humanidade, que não admite diferenças,
superior ou não: "Está louco!".
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