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domingo, 1 de janeiro de 2017

DEPOIMENTO

O livro "Instruções psicofônicas", de Chico Xavier, nao é 
psicografia, é sim, a transcrição de mensagens transmitidas 
pelo médium, oralmemte. 
Foi composto e publicado em 1955, e contém mensagens 
muito interessantes. 

Uma delas, que apresento a vocês agora, demonstra que, 
muitas vezes,  o "castigo divino" não nos é imposto por 
nenhuma autoridade, além da própria consciência do infrator. 
É o mecanismo descrito por Dostoiévski em sua novela
"
Crime e castigo". 

Mostra também que a consciência culpada, incapaz de 
moldar um organismo completamente sadio, se torna 
responsável por muitas das deficiências e limitações que o 
espírito tem que superar em sua imediata encarnação no 
nosso planeta. 

Conclamo a todos à leitura atenta.
Quem não acredita na comunicação dos espíritos ou - pior 
ainda - não acredita em espíritos (o que é um contra senso, 
pois todos nós somos espíritos), leia como peça de literatura: 
é um tema empolgante! 

Transcrevo o capítulo integralmente, para permitir o 
entendimento do caso pelo leitor: 

DEPOIMENTO

A mensagem de J. P., que designamos apenas por suas Iniciais, 
em virtude da comovente lição que nos traz, foi recebida na 
noite de 13 de maio de 1954, no encerramento de nossas tarefas. 
Para elucidar certas passagens desta comunicação psicofônica, 
é forçoso esclarecer que ele nos visitara anteriormente, sendo 
socorrido pela doutrinação evangélica. 

É curioso notar que uma de nossas irmãs, elemento efetivo de 
nosso Grupo e esposa de um dos nossos companheiros, meses 
antes da mensagem que aqui transcrevemos, revelava todos 
os sintomas de uma gravidez aparente e dolorosa, tendo sido 
tratada espontaneamente, em várias reuniões sucessivas, por 
um de nossos Benfeitores Espirituais que, carinhosamente, a 
libertou, através de passes magnéticos, das estranhas 
impressões de que se via possuida. 

Com grande surpresa para nós, viemos então a saber que o 
Espírito J. P. era o candidato ao renascimento que não chegou 
a positivar-se. 

Cremos sejam necessárias as presentes anotações, não 
só para  que a mensagem seja devidamente aclarada, como 
também para estudarmos importantes Incidentes que podem 
ocorrer, entre dois mundos, em nossa vida comum. 
Com a inflexão de quem chorava intimamente, o visitante 
assim se expressou, sensibilizando-nos  a todos: 
   ~~~  ~~~   ~~~  
13 de maio de 1954!... 
Há precisamente sessenta e seis anos eram declarados livres 
todos os escravos no território brasileiro. 
E talvez comemorando o acontecimento, determinam os 
instrutores desta casa vos fale algo de minha história, de 
minha escura história, porqüanto, em seus últimos lances,
ela 
se encontra de certo modo associada à obra espiritual
de vosso 
Grupo. 


J. P. foi o meu nome em Vassouras, a fidalga Vassouras do 
Segundo Império. 
Resumirei meu caso, tanto quanto possível, porque, como
é 
fácil perceberdes, não passo ainda de pobre viajante da 

sombra, em árduo serviço na própria regeneração. 

Em março de 1888 fui convidado a participar de expressiva 
reunião da Câmara Vassourense por meu velho amigo Doutor 
Correia e Castro. [O comunicante refere-se a pessoa de suas 
relações íntimas, em 1888. — Nota do organizador]. 
Cogitava-se da adoção de medidas compatíveis com a 
campanha abolicionista, então na culminância. 

Alguns conselheiros propuseram que todos os fazendeiros 
do Município instituíssem a liberdade espontânea, a favor do 
elemento cativo, com a obrigação de os escravos alforriados 
prosseguirem trabalhando, por mais cinco anos consecutivos, 
numa tentativa de preservação da economia regional. 

Discussões surgiram acaloradas. 
Diversos agricultores inclinavam-se à ponderação e à 
benevolência. 
Entretanto, eu era daqueles que pugnavam pela escravatura 
irrestrita. 
Encolerizado, ergui minha voz. 

Admitia que o negro havia nascido para o eito. 
Nada de concessões nem transações. 
O senhor era senhor com direito absoluto; o escravo era 
escravo com irremediável dependência. 

Aderi ao movimento contrário à proposta havida, e nós, os da 
violência e da crueldade, ganhamos a causa da intolerância 
porque, então, Vassouras prosseguiu esperando as surpresas 
governamentais, sem qualquer alteração. 

De volta ao lar, porém, vim a saber que a inspiração da 
providência sugerida partira inicialmente de um homem 
simples, de um homem escravizado... 

Esse homem era Ricardo, servo de minha casa, a quem 
presumia dedicar minha melhor afeição. 

Era meu companheiro, meu confidente, meu amigo... 
Inteligência invulgar, traduzia o francês com facilidade. 
Comentávamos juntos as notícias da Europa e as intrigas da 
Corte... Muitas vezes, era ele o escrivão predileto em meus 
documentários, 
orientador nos problemas graves e irmão nas horas difíceis... 
Minha amizade, contudo, não passava de egoísmo implacável. 
Admirava-lhe as qualidades inatas e aproveitava-lhe o concurso, 
como quem se reconhece dono de um animal raro e queria-o 
como se não passasse de mera propriedade minha. 
Enraivecido, propus-me castigá-lo. 

E, para escarmento das senzalas, na sombra da noite, 
determinei a imediata prisão de quem havia sido para mim 
todo um refúgio de respeito e carinho, qual se me fora filho 
ou pai. 
Ricardo não se irritou ante o desmando a que me entregava. 
Respondeu-me às perguntas com resignação e dignidade. 
Calmo, não se abateu diante de minhas exigências. Explicou-se, 
imperturbável e sereno, sem trair a humildade que lhe brilhava 
no espírito. 

Aquela superioridade moral atiçou-me a ira. 
Golpeado em meu orgulho, ordenei que a prisão no tronco 
fosse transformada em suplício. 
Gritei, desesperado. 
Assemelhava-me a fera a cair sobre a presa. 

Reuni minha gente e as pancadas — triste é recordá-las! — 
dilaceraram-lhe o dorso nu, sob meus olhos impassíveis. 
O sangue do companheiro jorrou, abundante. 
A vítima, contudo, longe de exasperar-se, entrara em 
lacrimoso silêncio. 

E, humilhado por minha vez, à face daquela resistência 
tranqüila, induzi o capataz a massacrar-lhe as mãos e os pés. 
A recomendação foi cumprida. 

Logo após, porque o sangue borbotasse sem peias, meu 
carrasco desatou-lhe os grilhões... 
Ricardo, na agonia, estava livre... 

Mas aquele homem, que parecia guardar no peito um coração 
diferente, ainda teve forças para arrastar-se, nas vascas da 
morte, e, endereçando-me inesquecível olhar, inclinou-se à 
maneira de um cão agonizante e beijou-me os pes... 

Não acredito estejais em condições de compreender o martírio 
de um Espírito que abandona a Terra, na posição em que a 
deixei... 

Um pelourinho de brasas que me retivesse por mil anos 
sucessivos talvez me fizesse sofrer menos, pois desde aquele 
instante a existência se me tornou insuportável e odiosa. 
A Lei Áurea não me ocupou o pensamento. 

E quando a morte me requisitou à verdade, não encontrei no 
imo do meu ser senão austero tribunal, como que instalado 
dentro de mim mesmo, funcionando em ativo julgamento que 
me parecia nunca terminar... 
Lutei infinitamente. 

Um homem perdido por séculos, em noite tenebrosa, creio eu 
padece menos que a alma culpada, assinalando a voz gritante 
da própria consciência. 

Perdi a noção do tempo, porque o tempo para quem sofre sem 
esperança se transforma numa eternidade de aflição. 
Sei apenas que, em dado instante, na treva em que me debatia, 
a voz de Ricardo se fez ouvir aos meus pés: 
— Meu filho!... meu filho!...  

Num prodígio de memória, em vago relâmpago que luziu na 
escuridão de minhalma, recordei cenas que haviam ficado a 
distância [Ao contacto do benfeitor espiritual, a entidade 
sofredora entrou a lembrar-se de existência anterior, em que 
a vítima lhe fora pai na experiência terrestre. — Nota do 
organizador], quadros que a carne da Terra havia conseguido 
transitoriamente apagar... 

Com emoção indizível, vi-me de novo nos braços de Ricardo, 
nele identificando meu próprio pai... meu próprio pai que eu 
algemara cruelmente ao poste de martírio e a cuja flagelação 
eu assistira, insensível, até ao fim... 

Não posso entender os sentimentos contraditórios que então 
me dominaram... 
Envergonhado, em vão tentei fugir de mim mesmo. 
Em desabalada carreira, desprendi-me dos braços carinhosos 
que me enlaçavam e busquei a sombra, qual o morcego que 
se compraz tão somente com a noite, a fim de chorar o remorso 
que meu pai, meu amigo, meu escravo e minha vítima não 
poderia compreender... 

No entanto, como se a Justiça, naquele momento, houvesse 
acabado de lavrar contra mim a merecida sentença 
condenatória, após tantos anos de inquietação, reconheci, 
assombrado, que meus pés e minhas mãos estavam retorcidos... 
Procurei levantar-me e não consegui. 
A Justiça vencera. 

Achava-me reduzido à condição de um lobo mutilado e urrei 
de dor... Mas, nessa dor, não encontrei senão aquelas mesmas 
criaturas que eu havia maltratado, velhos cativos que me 
haviam conhecido a truculência... E, por muitos deles, fui 
também submetido a processos pavorosos de dilaceração. (*)
(*) [Refere-se o comunicante a sofrimentos que experimentou 
nas regiões inferiores da vida espiritual, sob a vingança de 
muitas das suas antigas vítimas revoltadas. — Nota do 
organizador]. 
Passei, porém, a rejubilar-me com isso. 

Guardava, no fundo, a consolação do criminoso que se sente, 
de alguma sorte, reabilitado com a punição que lhe é imposta. 
A expiação era serviço que eu devia à minha própria alma. 
Se algum dia pudesse rever Ricardo — refletia —, que eu 
comparecesse diante dele como alguém que lhe havia 
experimentado as provações. 

Lutei muito, repito-vos!... 
Sofri terrivelmente, até que, certa noite, fui conduzido por 
invisíveis mãos ao lar de um companheiro em cuja simpatia 
recolhi algum descanso... 

Aí, de semana a semana, comecei a ouvir palavras diferentes, 
ensinamentos diversos, explanações renovadoras. (**) 
(**) [Refere-se o comunicante ao culto doméstico do Evangelho, 
existente no lar do nosso companheiro de quem se havia 
aproximado. — Nota do organizador]. 

Modificaram-se-me os pensamentos. 
Doce bálsamo alcançou-me o espírito dolorido. E, desse 
santuário de transformação, vim, certa feita, ao vosso Grupo. 
(***) [A entidade reporta-se à primeira visita que fez ao nosso 
Grupo, quando foi atendida por nossa casa, através da 
incorporação mediúnica, em 1952. — Nota do organizador]. 
Há quase dois anos, tive o conforto de desabafar-me convosco, 
de falar-vos de meus padecimentos e de receber-vos o óbolo de 
fraternidade e oração. 

Mas porque desejasse associar-me mais intimamente ao lar em 
que me reformava, atirei-me apaixonadamente aos braços dos 
amigos que me acolhiam, intentando consolidar mais 
amplamente a nossa afeição. 

Queria renascer, projetando-me em vosso ambiente... Para isso, 
busquei-vos como o sedento anseia pela fonte... E tudo fiz para 
exteriorizar-me; entretanto, eu não possuía forças para 
mentalizar as mãos e os pés! 

Se eu retomasse a carne, seria um monstro e se concretizasse 
meu sonho louco teria cometido tremendo abuso... 
Além disso, estaria na posição de um aleijado, simplesmente 
regressando do inferno que havia gerado para si mesmo. 
Nesse ínterim, contudo, os instrutores de vossa casa me 
socorreram... 
Auxiliaram-me, sem alarde, noite a noite, e, graças ao Senhor, 
meu propósito foi frustrado. 

Mas, se é verdade que não pude retratar-me de novo, no campo 
da densa matéria, para tentar o caminho de reencontro com 
Ricardo, recebi convosco, ao contacto da prece, o reajuste de 
minhas mãos e de meus pés. 

Orando em vossa companhia e mentalizando a minha 
renovação em Cristo, minha vida ressurge transformada. 
Agora, esperarei o dia de minha volta ao campo normal da 
experiência humana, a fim de, em me banhando na corrente 
da vida física, apagar o passado e limpar minhas culpas, 
através do trabalho, com a minha justa escravização ao dever, 
para, então, mais tarde, cogitar da suspirada ascensão. 

Mas, porque recompus minha forma, aqui estou convosco e 
vos digo: — Aleluia!... 

— Viva a liberdade! 
Louvo a liberdade que me permite agora pensar em receber 
o bem-aventurado cativeiro da prova, favorecendo-me por 
fim o galardão da cura! 

Amigos, eis que nos achamos em 13 de maio de 1954! 
Para minhalma, depois de 66 anos, raia um novo dia... 
Para mim, a luz não tarda!... a luz de renascer! E assim me 
expresso, porque somente na esfera de luta em que vos 
encontrais como privilegiados tarefeiros, por bondade de 
Nosso Senhor Jesus-Cristo, é que poderei encontrar o sol da 
redenção. 
Agradeço-vos a todos, recomendando-me feliz às preces de 
todos os companheiros, preces que constituem vibrações de 
amor que ainda me empenho em recolher, como sementes de 
renovação para o dia de amanhã que espero, em Jesus, seja 
enfim abençoado... 
Que o Senhor nos ampare. 
J. P.

   ***   ***   ***   
De qualquer modo, é uma leitura que vale a pena! 
Meditem no ensinamento e tenham um Feliz Ano Novo! 

Abraço do tesco. 

2 comentários:

Denise Carreiro disse...

Q ensinamento trás esse texto! Vou apontar um deles, a importância do Evangelho no Lar. Quantos espíritos são socorridos nesses momentos em que também higienizamos o nosso lar, através de alguns momentos de preces. Muita paz!

Clara Lúcia disse...

Olha, uma ótima leitura que nos faz pensar que a vida é imensa e que aqui é só um pedacinho dela. Tanto sofrimento naquela época, enfim... Por quantos anos terrenos andam nossas almas a reencarnar até que esteja tudo em paz? Depois de cumprir a missão na Terra, existe uma outra missão em um outro lugar? Há quantos bilhões de anos nossas almas existem?
Um excelente ano pra nós.
Beijo!