A falta de informação sobre o livro que está sendo sorteado,
me leva a tecer os comentários a seguir:
Normalmente, a ficção científica - excluídas as "space operas"
(por vezes estas também) - é uma crítica social que se exclui,
deliberadamente, do aqui e agora para melhor explanar os
problemas e poder expor uma solução, sem empecilhos.
É o caso de muitas obras clássicas como '1984', 'A máquina
do tempo', 'Admirável Mundo Novo', 'A ilha do Dr. Moreuau',
'Fahrenheit 451' e diversos outras.
É o caso também de "O método Cronos", de Alves Borges.
Publicado em 1981, não poderia, nem de longe, fazer uma
referência crítica ao regime estabelecido, a ditadura militar.
Então, situar a história em um futuro remoto e em nível
mundial, eximiia a obra de censura e tornava possível o tema
mesmo da obra: O patrocínio, pelos governos, da ignorância
total da população!
O artifício possibilitou a inserção de trechos como este, logo
na página 7:
"É claro que contestar o método Cronos é sinal de ignorância.
Afinal, é um método através do qual todos são ignorantes e,
por isso mesmo, felizes.
Mas, no mundo, basta uma sumidade dizer uma frase, por mais
genial que seja, que há sempre um imbecil para contradizê-la.
Por isso, à ideia de que a cultura só traz desvantagens e
prejuízos ao ser humano, antepõem-se os extravagantes e os ,
saudosistas, que ainda acreditam no homem culto.
Por incrível que pareça, um desses extravagantes sou eu e
essa é a razão porque escrevi este livro."
E prossegue exlicando a situação, nas páginas 14 e 15:
"Se por acaso havia um governo, esse governo não tinha a
mínima noção do que fosse governar. Cada um sabia o que
tinha que fazer - o futebolista exercitava-se, os passistas
dançavam, os juízes julgavam, a polícia política sentava o
pau, - mas ninguém tinha ideia por que fazia aquilo. Cada
um cumpria seu papel porque já estava programado,
preestabelecido."
[...] "Assim funcionava o sistema. Satisfazia o grande público.
Havia o momento de um time perder, havia o momento de
ganhar. O que não podia haver era o descontentamento
popular. Havia emoções a incentivar, mas nunca o desacordo
nas decisões."
E o protagonista é um jogador de futebol que é um garoto
rebelde. Diz seu treinador:
"O homem inconformdo já não existe mais; foi eliminado pelo
método. Esse rapaz já esteve por três vezes em centros de
recuperação e ainda continua protestando, brigando, criando
caso. É um desajustado social, sem a mínima possibilidade de
recuperação."
Em diálogo com uma bibliotecária clandestina, aprende uma
boa lição. Ele pergunta:
" - Como uma pessoa expressa, então, seu sentimento em
voz alta?
- Primeiro que tudo, você não é obrigado a expressar os seus
sentimentos em voz alta. Você tem direito a uma vida íntima.
Os seus pensamentos são seus. Você poderá externá-los ou
não se quiser ou quando quiser.
- Não será hipocrisia esconder os pensamentos?
- De modo algum. A palavra exige o pensamento burilado, a
ideia formada. Não será leviandade externar os pensamentos
sem que selam fruto de um raciocínio?"
O protagonista - que não tem nome, só número - iniciou sua
revolta com pichações nos muros dos estádios. Suas frases
preferidas eram:
"Onde a forlça vai bem, o ensino vai mal" e "Para dominar
não é necessário matar, basta acabar com a cultura".
Bastante coerentes, por sinal.
Repito aqui, que o livro é publicação de 1981, não pretende
retratar a sociedade atual, mas as semelhanças ñão são mera
coincidência:
Enquanto existirem brasileiros apenas nominais, sem o menor
apreço a seus compatriotas, a desgraça estará à espera!
Abraço do tesco.
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Um comentário:
Desgraça à espera mesmo!
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