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domingo, 26 de janeiro de 2014

ANALISANDO LETRAS-9

CIDADÃO 

Essa composição de Lucio Barbosa foi gravada em1979 por 
Zé Geraldo, e não carece de explicações, sua mensagem é 
bem explícita: Um migrante nordestino, pedreiro / ajudante 
de obras, que encara as desilusões do selvagem mundo 
capitalista. 

No entanto, algumas observações podem ser feitas, tanto no 
aspecto externo - como a letra está formatada - quanto no 
aspecto intrínseco - o que a letra diz. 

Nesse aspecto formal, vendo que se trata do desabafo de um 
migrante de baixa condição econômica, é razoável supor 
que a gramática não seja levada em alta conta. Não pelo 
compositor, evidentemente, mas pelo personagem. 
Assim, as palavras que contém o dígrafo 'lh' são devidamente 
reduzidas para a forma popular, como 'oiar', ' trabaiei' e 'fia'. 

Já no sentido da letra, podemos ver o equívoco em que o 
trabalhador incorre quando acredita que, por ter colaborado 
na obra, tem direito aos seus benefícios. Não está dito, mas 
podemos inferir que o 'colégio' em que ele trabalhou na sua 
edificação, é uma escola da iniciativa privada, não tendo que 
conceder bolsas aos operários. Com certeza não é obra de 
governo. 

No mesmo caso 'aquele edifício', pode ser um prédio de 
apartamentos, nenhum direito lhe assiste de circular pela 
área interna. Somente olhar, tudo bem, mas o segurança 
comete um "excesso de zelo", e o afasta: "Sabe como é, 
tempos bicudos, não se pode dar mole pra esse pessoal!". 
O preconceito aqui vigora com extrema intensidade. 

Obviamente, não é o caso da igreja, o sacerdote não pode 
cobrar antes que o pessoal entre e se instale, isso ainda 
não é compatível com o lado comercial das igrejas. 
(Se fosse... Não sei não!). 

Curioso é notar que o 'cidadão' do título não se ajusta ao 
trabalhador, pelo menos pra ele mesmo. Nas duas vezes em 
que o termo aparece no interior da letra se refere a outras 
pessoas. Quer dizer, ele é um excluído, até de seu próprio 
ponto de vista. 

Finalmente, na última estrofe, vemos a concepção induzida 
pela Igreja Católica, de que o Cristo é o próprio Deus, tese 
firmada no "Mistério da Divina Trindade", fazendo o Cristo 
afirmar: 
"Fui eu quem criou a Terra 
Enchi o rio fiz a serra 
Não deixei nada faltar". 
O que, na linguagem bíbica, é obra do próprio Javé. 

Entretanto, Deus age através de suas criaturas, nós somos 
seus braços, e Jesus, o Cristo, segundo as informações dos 
espíritos superiores, realmente, presidiu e administrou toda 
a formação e formatação do planeta, pelo qual é ele o 
responsável. Assim, 'no popular', confundir bugalhos com 
alhos tem o mesmo efeito. 

Você pode ouvir a música no You Tube, clicando no título, aí 
embaixo. Não optei por uma apresentação ao vivo, porque 
prefiro remeter à gravação original, mas, pra outros vídeos, 
não faltarão indicações no site. 

CIDADÃO 
(Lúcio Barbosa) 
Zé Geraldo 

Tá vendo aquele edifício moço?
Ajudei a levantar
Foi um tempo de aflição
Era quatro condução
Duas pra ir, duas pra voltar

Hoje depois dele pronto
Óio pra cima e fico tonto
Mas me chega um cidadão
E me diz desconfiado, 
- Tu tá aí admirado
Ou tá querendo roubar?

Meu domingo tá perdido
Vou pra casa entristecido
Dá vontade de beber
E pra aumentar o meu tédio
Eu nem posso oiar pro prédio
Que eu ajudei a fazer

Tá vendo aquele colégio moço?
Eu também trabaiei lá
Lá eu quase me arrebento
Pus a massa fiz cimento
Ajudei a rebocar

Minha fia inocente
Vem pra mim toda contente
Pai vou me matricular
Mas me diz um cidadão
Criança de pé no chão
Aqui não pode estudar

Esta dor doeu mais forte
Por que que eu deixei o norte
Eu me pus a me dizer
Lá a seca castigava 
mas o pouco que eu plantava
Tinha direito a comer

Tá vendo aquela igreja moço?
Onde o padre diz amém
Pus o sino e o badalo
Enchi minha mão de calo
Lá eu trabaiei também

Lá sim valeu a pena
Tem quermesse, tem novena
E o padre me deixa entrar
Foi lá que Cristo me disse
Rapaz deixe de tolice
Não se deixe amedrontar

Fui eu quem criou a terra
Enchi o rio fiz a serra
Não deixei nada faltar
Hoje o homem criou asas
E na maioria das casas
Eu também não posso entrar

Fui eu quem criou a terra
Enchi o rio fiz a serra
Não deixei nada faltar
Hoje o homem criou asas
E na maioria das casas
Eu também não posso entrar
   *   *   *   

É uma letra bem construída e de conteúdo relevante, coisa, 
infelizmente, cada vez mais rara na atualidade. 
Enquanto não surgem coisas boas, mergulhe nas coisas 
antigas mesmo. O coração bate mais satisfeito! 

Abraço do tesco. 

6 comentários:

Shirley Brunelli disse...

Letra de enorme conteúdo. Que mais posso dizer, tesco, se você já disse tudo? Assim não vale...
Quanto ao dogma citado, para mim, é de uma incoerência profunda... Eles dizem que "Deus é só um. Porém, Jesus também é Deus e o Espírito Santo também é". Ora, então são três? "Não.Um só". Eita...
Mas, todos nós somos deuses em evolução, porque somos feitos da mesma energia divina.
Beijos, tesco!

Shirley Brunelli disse...

Quero ver aquele poema-comentário, publicado aqui, tesco. Achei maravilhoso, minha alma sorriu!
Beijo e bom dia!!!

Anônimo disse...

Oi tesco
Já gostei muito dessas musica, mas de tanto trabalhar exclusão/inclusão com ela, saturei. Cansei de ouvir. Porém, para que escuta esporadicamente é bela "ainda"...rsrsr
hiscla

Shirley Brunelli disse...

Cadê o poema?...

tesco disse...

Carma! A carma é essenciar pra arma!
(Que moça apressada!).
Beijos.

Anônimo disse...

Gostei muito, a letra é maravilhosa.
Beijotescas