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segunda-feira, 15 de julho de 2013

BRASILEIRO LÊ POUCO?


Em 2006, o "portal aprendiz", da UOL, divulgava: 

"Brasil tem menos livrarias que Buenos Aires
10/03/06
Embora o Brasil tenha grandes escritores e muitos
reconhecidos 
internacionalmente, o país tem menos
livrarias do que a cidade 
de Buenos Aires, capital da
Argentina."
 


E complementava: 
"Segundo a Associação Internacional de Leitura Conselho
Brasil 
Sul, enquanto o brasileiro lê em média um livro por ano,
os 
chilenos, uruguaios e argentinos lêem quatro. "

Não tive conhecimento dessa "notícia" na época, soube dessa 
"preciosa" estatística um dia desses, ao ler uma crônica da
Yvonne, 
em "O Boletim". Apesar de ter vindo da Yvonne, não
acreditei na 
história:
"Deve ser fanfarronice de argentino!", pensei.  


Muito esquisita a informação, pois, segundo a Wikipédia, o
Brasil 
tem 5570 municípios, e nem todos têm livraria,
obviamente, mas 
estimei que metade deles tivesse (também
não têm), só aí seriam 
mais de 2700 livrarias que a capital
argentina teria que ter, para 
superar toda a municipalidade
brasileira. 


Ora, Buenos Aires tem 48 bairros, portanto, deveria ter mais
de 
50 livrarias por bairro, o que, para um só bairro já é difícil, 
imagine-se para todos os bairros de uma cidade (mesmo
argentina!). Não tem 
comércio que suporte isso. 

Pesquisndo agora, veja que o Blog da Estante Virtual, em
setembro 
de 2009, já desmentia a balela: 

"A Argentina tem mais livrarias que o Brasil? Que nada. 
O mais recente censo realizado pela Associação Nacional
de 
Livrarias (ANL) (e divulgado pela PublishNews) calculou
que 
existem 2.680 livrarias em território nacional – o dobro
do 
nosso vizinho sulamericano." 

Hum... O velho complexo-de-vira-lata atacando de novo! 

Já na Globo News, em maio do ano passado, lê-se: 

"Buenos Aires é uma cidade que respira cultura. Os
portenhos 
leem a qualquer momento e circunstância do
dia. Deve ser por 
isso que a cidade tem 600 livrarias –
muito mais do que países 
inteiros da região." 

Uma reportagem de Opera Mundiem dezembro de 2011,
fala 
em 370, de qualquer maneira, um bom número. Mas,
não adianta 
ter milhares de livrarias disponíveis, se não
existem leitores para 
comprar o produto. 

Aí é que vem o tema do título do post. Já é tradição dizer-
se que 
o brasileiro lê pouco, e daí se deduz que o dito
cujo é ignorante, 
ou, pelo menos, menos culto que os
habitantes de outras nações. 
Intrinsincamente se
confunde leitura com cultura! 


- Ora, tesco, e não dá no mesmo? 

Não! Respondo eu, enfaticamente. Para o termo 'cultura'
o estudo 
de Kroeber e Kluckhohn, em 1952, encontrou
cerca de 167 
definições diferentes, das quais as principais
são as vertentes 
agrícola e sócio-antropológica. A agrícola
é a acepção original do 
termo, referindo-se "ao cultivo da
terra para produção de espécies 
vegetais úteis ao
consumo do homem". (Wikipédia). 
A sócio-antropológica
refere-se ao "complexo que inclui o 
conhecimento, as
crenças, a arte, a moral, a lei, os costumes" 
(Wikipedia) de
uma sociedade. 


A acepção vulgarmente utilizada, decorre de "ter sido
associada 
ao conceito de civilização no século 18", que é,
basicamente, o 
comportamento de elite, e que, na verdade,
pode se chamar de 
erudição. 
Portanto, o hábito da leitura leva à erudição, e não, 
necessariamente, à cultura. 

 - Ah! Parece-me que você é um grande erudito! 

Qualé? Vai gozar com a minha cara, é? Mas é isso mesmo. 
Olhe que não sei nadar, não sei montar a cavalo, não sei
tocar 
viola, não sei tirar leite de uma vaca, nem mesmo sei
plantar 
batatas! Se eu disser que sou culto e que um jovem
camponês, 
que sabe fazer tudo isto, mesmo que seja
analfabeto, é um 
ignorante, isso não tem nada a ver com
cultura, mas com 
presunção! 

Agora, que o brasileiro lê pouco é um fato. A maioria das 
respostas, quando se indaga o porquê disso, é
peremptória: 
"Porque o livro é caro!". 

Na verdade, este é um dos fatores, mas não é o principal. 
Imagine um jovem trabalhador do comércio - pode ser até 
balconista de livraria - que chega em casa depois de um
dia 
estafante de trabalho, e com sua dose de transporte
coletivo - 
que ele não é milionãrio pra ficar transitando de
táxi. Após o 
banho e o jantar, eis que chega o momento
do descanso. 
Ele pega "Os Lusíadas" e vai decifrar
Camões, com um 
linguajar de quase 500 anos atrás?
"Claro que não! 
Principalmente hoje, que passa um filme
muito bom na TV". 


Certo. Mas, e amanhã? "Também não vai dar, tem Flamengo 
contra São Pulo, um jogão! Não posso perder, né?" 
(Não por mim, podem perder os dois e eu nem xingo o juiz). 

 E assim vai, os focos para desviar a atenção de livros são 
inúmeros. Não se pode tirar um jovem dum forró, para que
ele 
fique conjecturando se Capitu traiu Bentinho no século
19! 
"Ora essa! Se ela deu pra outro, o corno que dê seu jeito, 
mulher é que não falta!" 

Além de tudo, a "cultura-erudição" apregoada, o que é? 
Passei 60 anos sem ler nada de Mallarmé, estarei perdendo 
muito? Se li algo de Keats, de Yeats ou Verlaine, nem lembro. 
E não me parece fazer falta. O Kundera que li não gostei. E os 
de Dostoiévski também não. Ora, então ler pouco não é um 
defeito tão grande quanto a mídia faz parecer. E não é apenas 
lendo que se aprende a votar e/ou exigir seus direitos. 
Sofrimento na própria pele também é um professor muito 
eficaz. 

Não estou, de modo algum, pregando a não leitura. Nada disso. 
Principalmente editando um blog que promove sorteio de livros. 
Até agora, neste ano, li mais de 60 livros (65 pra ser exato), e 
devo manter a média até o final do ano. Portanto, sou adepto 
da leitura. E até parece que estou lendo pelos que não leem. 
Risos. 

Mas temos que apreciar tudo "com  moderação", não somente 
a cerveja. Quem não gosta de ler, não leia, ora. Eu nunca fui 
ver corrida de cavalos! 

Abraço do tesco. 

4 comentários:

Clara Lúcia disse...

Eu concordo com o que vc disse.
Ler somente por ler não leva tanta cultura assim como muitos pregam.
E olhe que eu nem deveria estar concordando porque meu próximo passo é escrever e editar um livro.
Mas concordo que quem lê, fala melhor, interpreta melhor e viaja melhor na imaginação.

Abraços!

Eduardo de Souza Caxa disse...

Concordo plenamente com suas reflexões, Tesquinho! É bem aquilo: a gente (ser humano) é pródigo em estreitar o discurso quando queremos ofender outrem!

Anônimo disse...

Tenho que concordar, desta vez você acertou em tudo.
hiscla

Anônimo disse...

Tesco, excelente texto. Deveria ter pensado como você ao escrever essa inverdade.
Beijotescas