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domingo, 3 de outubro de 2010

COTIDIANO DA GUERRA


Nova incursão pelo passado, com essa crônica publicada
em setembro de 2005, no blog Nós por Nós, hospedado
no Weblogger.

COTIDIANO DA GUERRA

Muitos relatos, em livros e filmes diversos, retratam o
dia-a-dia da guerra como algo com que a gente pode
se acostumar.
E é verdade.

O ser humano é extremamente adaptável e acostuma-se
com tudo. Lembra-me até aquela crônica da Marina
Colasanti (e que circula na internet atribuída por vezes
a Clarice Lispector), "Eu sei, mas não devia", em que
ela escreveu:
"Eu sei que a gente se acostuma, mas não devia".

Pois é, não devíamos nos acostumar com a guerra.
Nem com as notícias sobre ela.


Quando eu prestava o serviço militar no Exército, ouvi
contar sobre um capitão que, tendo feito treinamento
de guerra na selva, após três meses de terminado o
curso, já tranqüilo em casa, acordava-se sobressaltado
com qualquer ruído e estendia a mão ao lado da cama,
procurando por um fuzil que, naturalmente (graças a
Deus, os militares não levam o fuzil pra casa!), não
encontrava.

Contava-se também que, antes de enviar os soldados
pra guerra (na época, era no Vietnam), o exército
americano promovia um treinamento de "brutalização",
verdadeiro curso de desumanização.

Este treinamento é tema do penúltimo filme de Kubrick,
"Nascido para matar" (Full metal jacket - 1987). O diretor
já havia incursionado pelo absurdo humano em "Laranja
mecânica" (A clockwork orange - 1971) e "Glória feita de
sangue" (Paths of glory - 1957).

Com efeito, pra se deixar de visualizar qualquer outro
ser humano, como um igual, não é preciso muito
esforço, os preconceitos arraigados na nossa mente
facilitam isso tremendamente.
Mas pra somente visualizá-lo como inimigo que deve
ser exterminado, é preciso uma ajuda extra.

O homem tem, neste caso, que esquecer todos os
resquícios de civilização, e apelar para os instintos
predatórios remanescentes em si, e voltar a ser um
animal predador, do qual, de acordo com as teorias
biológicas predominantes, proveio. É o processo de
bestialização, a verdadeira licantropia, tornando
realidade a fantasia do lobisomem.
O homem tornando-se o lobo do homem.

Alguns dizem que o homem tem apenas um verniz
de civilização e, por qualquer bobagem, esse verniz
descasca, mostrando-se então seu verdadeiro ego.
Não concordo com esse pensamento.

Existem os Fernando Beira-mar e os Pedro Dom
(Nota atualizada: Este último foi esquecido pela mídia
depois que foi morto em setembro de 2005, mas
notabilizou-se pela crueldade), isto não quer dizer
que todos tenham um sujeito desses embaixo da pele.

Penso, pelo contrário, que o homem tem uma vocação
pacífica e, com o tempo, esses casos de regressão
ficarão cada vez menos freqüentes.

Torçam para que eu esteja com a opinião correta.

Abraço do tesco.

7 comentários:

Anônimo disse...

Tesco, não sei não, mas acho que temos um verniz mesmo. Nem todos nós temos um carrasco nazista em nossas almas, mas para sobreviver somos capazes de fazer qualquer coisa.

Quer um exemplo que nada tem a ver com a guerra? Ponha um chefe bem cruel no seu ambiente de trabalho. Em menos de uma semana aparecerão dois tipos: o baba-ovo e o delator.

O delator pode ser uma pessoa que era bem próxima a você, mas ante a possibilidade de ser prejudicado, pensa que "farinha pouca, o meu pirão primeiro".

Nada como um ambiente de adversidades para conhecermos quem realmente presta.

Beijotescas

Yvonne

Anônimo disse...

Tesco, meu caro, você é muito otimista em relação a natureza humana.Tenho cá minhas duvidas desde que percebi que as tentativas humanas de melhorar a natureza deram errado. Socialismo deu errado, Freud transfere culpas, governos usam e abusam ...causas endogenas, influencias exogenas... sei não!
Nessas coisas sou meio Thomas Hobbes e você me parece mais com voltaire de tão candido!
Não leve a mal, nem tome como critica, pois no fundo de mim pode haver uma inveja dessa crença infinita que você tem na humanidade.
Se a natureza nossa é paz, essa foi desvirtuada tempos atrás!
Poder e força sempre foram usados pra subjugar e explorar. A diferença é que uns o fazem com a caneta e outros com as armas; uns são ocultos na multidão e outros aparecem.
Posso dizer que ainda estamos nos tornando homens, esse quarto reino da natureza ainda não se fez!
beijos
hiscla

winner disse...

Like your blog'S style!! Please keep on working hard. ^^

tesco disse...

Obrigado, querida Yvonne, por apoiar meus pensamentos! Sim, mesmo aparentemente contradizendo, os está apoiando, pois cita principalmente, exceções. Não somente exceções de pessoas como exceções de situações.
Posso falar com base em minha experiência de trabalho: Em trinta anos de serviço, mesmo em plena ditadura (1976-77) não encontrei delatores. Baba-ovos, sim, aos montes, mas estes não são opositores da civilização, estão avançando com ela. E você fala em termos de extremidades em gráficos estatísticos. Num escritórioo, com uma 'população' de 10 indivíduos, você não terá cinco baba-ovos e cinco delatores. Se você faz parte desse conjunto, naturalmente você se exclui desses grupos e, normalmente tem colegas que podem ser listados como amigos fieis e gente honesta. Se tivermos um 'delator' e dois 'baba-ovos', esses três não representam o grupo inteiro, correto? São apenas excrecências. O grosso do escritório é, portanto, constituído por gente 'do bem'.
Assim, a humanidade também.
_Beijos.

tesco disse...

Querida hiscla, de modo algum levo a mal seus comentários, e a crítica é bem vinda.
Porém, ouso deduzir, você está tomando a história do mundo como algo terminado! Não, "Estamos em construção" seria a plaquinha a ser pendurada como adavertência neste planeta. Passos e mais passos seguem-se uns aos outros, na tentativa de se chegar a uma situação mais confortável.
Lembre-se sempre de Thomas Edison, ele não fracassou mil vezes, tentando obter a lâmpada elétroca, seguiu um roteiro com mil passos!
UMA experiência socialista fracassou, não quer dizer que todo o socialismo fracassou, já houve ôportunidades em que deu certo, como a comunidade dos seguidores de Jesus, após sua crucificação na Palestina, nos anos 30-60 dC.
Houve outras comunidades socialistas exitosas também. Tá certo, não perduraram, mas é isso que estou dizendo, são passos para a melhoria. Obter tudo de imediato, fica mais difícil. Sejamos idealistas, não necessariamente, imediatistas.
A psicologia também está em evolução, Freud foi um pioneiro, esboçou os conceitos dessa ciência, e não, deu a última palavra.
A evolução tecnológica é inegável, desde o domínio do fogo e utilização da roda até o implante de marca-passos e o voo espacial, há muito caminho avançado.
Do mesmo modo, a evolução moral existe, é mais difícil de visualizar devido ao constante lançamento de poeira em nossos olhos pela mídia, mas, lembre que o pai de uma família durante o império Romano, podia assassinar friamente qualquer um dos seus filhos sem a mínima contestação do 'seu direito' por quem quer que fosse. Hoje, até a palmada nos filhos já é questionada.
Negar a evolução humana, seja em que domínio for, é desconhecer a História, e não é esse o seu caso. Entendo que "De tanto ver triunfar as nulidades", "desanimemos da virtude, e tenhamos vergonha de sermos honestos", mas, tudo é passageiro.
_Beijos.

Anônimo disse...

Concordamos num ponto: esse reino ainda esta em construção, não estamos terminados, graças a Deus!
beijos

Daniel Savio disse...

Menino, até concordo que haja algo mais agressivo em nossa natureza, mas isto só é acessado quando é exigido.

Mas ser fossemos totalmente assim, acabariamos com todo o conceito de civilização que há na humanidade, pois ai não teria comperação entre qualquer elemento da nossa sociedade e com isto sofreriamos um retrocesso na evolução a tal ponto de no máximo vivermos com os homens da caverna.

Fique com Deus, menino Tesco.
Um abraço.