Eu já construí uma casa de bonecas.
Lembrei-me disso ao ler uma crônica de Rubem
Alves, “Da alegria sempre uma aprendiz...’.
Alí ele diz: “E bom mesmo não é o serrote, mas a
casinha de boneca que se faz com ele, e que faz os
olhos da menina brilharem. Felicidade são os olhos
da menina...” .
Lembrei porque não utilizei serrote: Era uma caixa
de papelão.
Foi um caso de simplicidade e rapidez. Uma caixa de
aproximadamente 40 x 40cm, na horizontal mesmo –
nada de 1º andar – onde coloquei as divisórias,
também de papelão, claro, disponibilizando sala,
dois quartos, cozinha e banheiro. E sem teto.
Nada de sofisticado, a única ‘riqueza’ eram as portas
nas divisórias, como numa casa comum.
Sem bonecas grandes, apenas “calungas” de cinco
centímetros poderiam ‘habitá-la.
Mesmo assim, foi grande a alegria das pivetes,
antigamente era mais fácil alegrar as crianças.
O brilho nos olhos valeu o esforço.
E eu também dormia tranqüilo, sem me preocupar
que rasgassem a “preciosidade”. Artigo barato
traz essa vantagem.
Claro que nessa época, 20 anos atrás, já existiam
os comerciais de Barbies, Suzys e outras “stars”,
mas era coisa mais fácil de contornar. Acredito que
hoje seja mais difícil, pois o cerco à criança, com
o incentivo desmesurado ao consumo infantil,
intensificou-se.
Mas isso demonstra, mais uma vez, que a felicidade,
mesmo que seja efêmera, não depende de artefatos
rebuscados. Questão de saber e querer cultivar
coisas simples: Pequenos gestos, umas poucas
palavras, umas flores num vaso.
Isso é sabido, cantado e decantado. Porém é
sempre oportuno lembrar. Porque a gente faz da
felicidade as meninas dos olhos, e muitas vezes,
ela está nos olhos das meninas.
domingo, 25 de julho de 2010
CASA DE BONECAS
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5 comentários:
Pois é, tesco! Vejo muito que nos dias de hoje é muito difícil contentar uma criança com coisas simples, mas geniais. O nível de exigência das crianças de hoje está muito alto. Às vezes elas até se encantam por um brinquedo de última geração, mas logo desistem dele. Às vezes o que encanta está na essência e não na beleza ou no valor monetário. Acho que precisamos ressignificar esses valores às nossas crianças.
Nossos infantes perderam a infantilidade. Dia desses, cheguei com uma "besteirinha" para uma sobrinha-postiça de 4 anos e ela disse: só isso? não trouxe mais nada não?? como disse Clenes, elas estão muito mais exigentes, e nisso, muitas vezes os pais, tios, avós têm culpa, pois se sentem culpados em trabalhar tanto e tentam suprir a falta de tempo gasto com os pequenos enchendo-os de presentes...
Ótima colocação!
As crianças não são mais as mesmas! Os brinquedos são descartáveis e não existe mais o prazer de "fazer o brinquedo".
Concordo com a colocação: ´"E preciso resignificar o (prazer infantil). Resgatar o lúdico, a simplicidade, os detalhes...
Nem acredito que um dia eu fiz "bruxinhas de pano" "bonequinhas de espiga de milho"...
E nem faz tanto tempo assim.
beijos
Maravilha de texto, Roberto. Tudo muito bom, mas o final, maravilhoso!
Veja, ouso discordar sobre o que está em jogo quanto às exigências infantis, a insatisfação diante da simplicidade.
Não é ser de papelão, de madeira, não ter botões para apertar, sons para escutar, uma barbie supersônica montada num conversível possante. Não. De fato, a infância de hoje não é mais a mesma (a propósito, tem um livro superinteressante: "o desaparecimento da infância", fora outro que esqueci agora, mas posso dizer depois, caso queira, sobre história da família). Este assunto é bem amplo e cheio de vertentes. Impossível falar aqui.
Mas o que acho muito legal e que toda criança adora é o participar dos pais. Que casa da barbie substituíria uma casinha feita junto com o pai? Impossível! Pois eu sei de crianças que dariam tudo por isto. O valor não está na coisa propriamente, mas na participação, no afeto, na relação. Quando se inverte isto, a criança também inverte (como refletiu Cynthia);porém não é o natural, daí o surgimento de problemas, as dificuldades cada vez mais presentes, a famosa inversão de valores, literalmente.
Assim, meu amigo, que os adultos abram os olhos, ouvidos, e consigam enxergar e ouvir o que querem e precisam esses pequenos de passos exultantes. Quem sabe assim, elas(crianças) consigam um dia educarem os adultos.
Beijos.
Magna
Tesco, perfeito. Sem mais palavras, apenas a emoção de ter lido uma maravilha.
Beijotescas
Yvonne
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