ACHO TRISTE - 2

Estava lendo "Eurico, o presbítero" de Alexandre
Herculano, em que ele narra peripécias da península
ibérica, do século 8, quando fiquei estarrecido com
o trecho seguinte:

"Unicamente o povo conservava ainda alguma
virtude, a qual, semelhante ao líquido
transvazado por cendal delgado e gasto, escoara
inteiramente através das classes superiores.

Oprimido, todavia, por muitos gêneros de
violências, esmagado debaixo dos pés dos grandes
que lutavam, descrera por fim da pátria, tornando
-se indiferente e covarde, prestes a sacrificar a sua
existência coletiva à paz individual e doméstica.

A força moral da nação tinha, portanto,
desaparecido".

Fiquei imaginando, confundido:
- Ué? Ele fala do Brasil do século 21?

Pois é, ainda que duvidem o Brasil de hoje
se encontra assim.

Quem acredita mais em Poder Legislativo ?
E no Judiciário, que era a última trincheira dos
otimistas?

O Executivo sempre foi objeto de muita
desconfiança e polêmica, hoje, entre os mais
esclarecidos, não resta muita dúvida.

Vota-se porque se é obrigado, não se tem muita
esperança. De quem demonstra entusiasmo
nesse período, desconfia-se que está sendo
bem remunerado. Ou mal remunerado, que é a
regra.

Acreditar nos empresários? Não me conte
piadas nessa hora. Se não dá lucro, não tem
empreendimento.

As forças policiais estão cumprindo seu papel
regulamentar. É? Os fatos se acumulam
diariamente, infelizmente destacando a ação de
policiais se unindo contra a população.

No início de março deste ano, em São Paulo , a
polícia parou um táxi e deu dois tiros nas pernas
de um passageiro.

Se duvida, ou se quer ver a notícia da BANDNEWS,
siga o link: http://terratv.terra.com.br/
e, na janela de busca coloque o número 225413.

A explicação policial:
“Confundimos com um ladrão”.
A explicação que parece ser a verdadeira:
“Era noite e o passageiro era negro! E,
logicamente, um negro dentro de um táxi à noite,
é um ladrão”.

O racismo parece estar em pleno vigor no
território Nacional, e o Governo Federal ainda
procura reforçar o preconceito com o sistema de
cotas, afirmando sem palavras, que o afro-
descendente é cidadão de segunda classe e não
consegue entrar na universidade sem esse
auxílio governamental.

- Peraí, tesco, você está sugerindo revolução,
subversão, guerrilha?

Calma, calma! Não é nada disso! (E não falei nas
Forças Armadas nem vou falar).

É que, parodiando o Cirilo, da novela mexicana
Carrossel (lembram disso?), “Eu só queria dizer!”.

Abraço do tesco.