Chega a hora do recesso de fim de ano do sortesco.
Neste ano, com interrupção para cirurgia, tivemos apenas
23 sorteios, mas, pelo menos, foram sorteados 35 livros.
Esperamos retornar ainda na primeira quinzena de janeiro.
Vários livros aguardam,pacientemente, sua vez.
Entre eles está "O observador e outras histórias", psicografado
por Jáder dos Reis Sampaio, uma coletânea de relatos curtos
de espíritos em diferentes situações no mundo espiritual.
Um desses relatos me chamou a atenção pois é a história de
um escravo preto que lutou na Revolução Farrooupilha sob
promessa de libertação. Este era o aceno comum no período
da escravidão negra, como a cenoura balançando à frente do
jumento. Se chegaria a se concretizar, já é outra história.
Leiamos o relato:
MENTIRAS DE GUERRA
"Fui enganado pelos brancos. Eles me prometeram liberdade
se eu lutasse em favor dos estancieiros. Eu era escravo numa
fazenda do sul, trabalhava na produção de charque, vigiado
de perto pelos empregados dos donos da estância.
Não sei direito o que aconteceu. Os coronéis se reuniram contra
o imperador. Alguns pessoalmente, outros enviaram emissários
para nos convencer a lutar pela liberdade e por um novo país
onde brancos e negros conviveriam livres.
Eu tinha muito medo da guerra. Nasci no Brasil e acho que não
herdei o sangue guerreiro dos meus antepassados, mas não
queria que meus filhos vivessem a minha vida miserável de
até então.
O exército dos estancieiros não era tão igual quanto o país
que eles diziam que construiriam
Fui conduzido ao regimento de lanceiros,não tinha botas nem
aprendi a usar armas de fogo. Éramos negros e pobres nos
lanceiros. Os coronéis nos colocavam à frente nos campos de
batalha, seja em terras pantanosas ou em campo aberto, onde
éramos alvos fáceis dos balaços que vinham das tropas do
Império.
Os feridos não tardavam a ter suas chagas marcadas pelo
mau cheiro e pelo pus que apodrecia o corpo.
Quando tínhamos sorte, éramos alvejados nos membros e
podíamos ter o corpo parcialmente amputado mas não
perdíamos a vida.
Após algumas vitórias, vieram a fome e a morte nos campos
de batalha. A sorte mudou e meus companheiros caíam
como moscas.
Finalmente chegou minha hora e meu orixá veio me retirar
do corpo trucidado pelas baionetas dos soldados inimigos.
Eu morri cheio de esperança, porque acreditei que meus
filhos e minha família teriam melhor sorte, mas qual o quê!
Veio o fim da guerra e os estancieiros assinaram um acordo
com o imperador. Renderam-se, mas a grande maioria dos
coronéis continuou rica, dona de posses e de recursos.
Meus filhos cresceram e tiveram a mesma vida que eu tive.
Senti ódio. Sacrifiquei a minha vida por mentiras!
Fiquei meio louco, gritava de dor e uivava nos ouvidos dos
que me sacrificaram em vão.
Continuei a vagar nos pampas, como um negrinnho do
pastoreio, como um boitatá assombrador de gaúchos,
perturbando o sono dos piazinhos brancos e colocando
ideias malvadas na cabeça das mulheres.
Prossegui depois da morte em uma batalha contra os
mentirosos, até que as forças foram me faltando e meus
antepassados vieram me buscar para retornar à vida.
Hoje, mais uma vez liberto de algumas vidas de sofrimento e
dor, vidas em que fui negro, branco, rico e pobre, volto à pátria
dos antepassados com o coração cansado de sentir ódio, com
as muitas experiências da dor que sofri e fiz sofrer.
Hoje sei que não faz sentido agredir os que nos enganaram
e que perdoar é a melhor forma de viver livre.
Um escravo."
(psicografia intuitiva em 11 de agosto de 2007,
na Associação Espírita Célia Xavier)
*** *** ***
Há mais de 170 anos atrás, era muito fácil enganar os pobres,
iletrados e sem comunicação. Hoje a situação está bastante
diferente. Porém não é difícil iludir aqueles que querem ser
enganados, classe que, surpreendentemente, parece ter
crescido em número!
Abraço do tesco.
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