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domingo, 11 de dezembro de 2016

MENTIRAS DE GUERRA

Chega a hora do recesso de fim de ano do sortesco. 
Neste ano, com interrupção para cirurgia, tivemos apenas 
23 sorteios, mas, pelo menos, foram sorteados 35 livros. 

Esperamos retornar ainda na primeira quinzena de janeiro. 
Vários livros aguardam,pacientemente, sua vez. 
Entre eles está "O observador e outras histórias", psicografado 
por Jáder dos Reis Sampaio, uma coletânea de relatos curtos 
de espíritos em diferentes situações no mundo espiritual. 

Um desses relatos me chamou a atenção pois é a história de 
um escravo preto que lutou na Revolução Farrooupilha sob 
promessa de libertação. Este era o aceno comum no período 
da escravidão negra, como a cenoura balançando à frente do 
jumento. Se chegaria a se concretizar, já é outra história. 
Leiamos o relato: 

MENTIRAS DE GUERRA

"Fui enganado pelos brancos. Eles me prometeram liberdade 

se eu lutasse em favor dos estancieiros. Eu era escravo numa 
fazenda do sul, trabalhava na produção de charque, vigiado 
de perto pelos empregados dos donos da estância. 

Não sei direito o que aconteceu. Os coronéis se reuniram contra 
o imperador. Alguns pessoalmente, outros enviaram emissários 
para nos convencer a lutar pela liberdade e por um novo país 
onde brancos e negros conviveriam livres. 

Eu tinha muito medo da guerra. Nasci no Brasil e acho que não 
herdei o sangue guerreiro dos meus antepassados, mas não 
queria que meus filhos vivessem a minha vida miserável de 
até então. 

O exército dos estancieiros não era tão igual quanto o país 
que eles diziam que construiriam

Fui conduzido ao regimento de lanceiros,não tinha botas nem 
aprendi a usar armas de fogo. Éramos negros e pobres nos 
lanceiros. Os coronéis nos colocavam à frente nos campos de 
batalha, seja em terras pantanosas ou em campo aberto, onde 
éramos alvos fáceis dos balaços que vinham das tropas do 
Império. 

Os feridos não tardavam a ter suas chagas marcadas pelo 
mau cheiro e pelo pus que apodrecia o corpo. 

Quando tínhamos sorte, éramos alvejados nos membros e 
podíamos ter o corpo parcialmente amputado mas não 
perdíamos a vida. 

Após algumas vitórias, vieram a fome e a morte nos campos 
de batalha. A sorte mudou e meus companheiros caíam 
como moscas. 

Finalmente chegou minha hora e meu orixá veio me retirar 
do corpo trucidado pelas baionetas dos soldados inimigos. 
Eu morri cheio de esperança, porque acreditei que meus 
filhos e minha família teriam melhor sorte, mas qual o quê! 

Veio o fim da guerra e os estancieiros assinaram um acordo 
com o imperador. Renderam-se, mas a grande maioria dos 
coronéis continuou rica, dona de posses e de recursos. 
Meus filhos cresceram e tiveram a mesma vida que eu tive. 

Senti ódio. Sacrifiquei a minha vida por mentiras! 
Fiquei meio louco, gritava de dor e uivava nos ouvidos dos 
que me sacrificaram em vão. 

Continuei a vagar nos pampas, como um negrinnho do 
pastoreio, como um boitatá assombrador de gaúchos, 
perturbando o sono dos piazinhos brancos e colocando 
ideias malvadas na cabeça das  mulheres. 

Prossegui depois da morte em uma batalha contra os 
mentirosos, até que as forças foram me faltando e meus 
antepassados vieram me buscar para retornar à vida. 

Hoje, mais uma vez liberto de algumas vidas de sofrimento e 
dor, vidas em que fui negro, branco, rico e pobre, volto à pátria 
dos antepassados com o coração cansado de sentir ódio, com 
as muitas experiências da dor que sofri e fiz sofrer. 

Hoje sei que não faz sentido agredir os que nos enganaram 
e que perdoar é a melhor forma de viver livre. 

Um escravo." 
(psicografia intuitiva em 11 de agosto de 2007, 
na Associação Espírita Célia Xavier)

   ***   ***   ***   

Há mais de 170 anos atrás, era muito fácil enganar os pobres, 
iletrados e sem comunicação. Hoje a situação está bastante 
diferente. Porém não é difícil iludir aqueles que querem ser 
enganados, classe que, surpreendentemente, parece ter 
crescido em número! 

Abraço do tesco. 

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