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quinta-feira, 3 de setembro de 2015

CONTRACANTO: MISERERE

Inversamente ao "Natimorto", publicado em julho do ano 
passado, este soneto foi construído visando expressamente
aborto criminoso.  

Note-se que é uma produção do mesmo ano, 1977, elaborado 
sete meses depois. Provavelmente não fiquei satisfeito em 
não ter sido efetivamente explícito no poema anterior. 

Nessa altura, o jornalzinho em que colaborávamos já havia 
se extinguido, seu mentor tinha sido transferido. Mas não foi 
nada de perseguição política não: Ele era advogado e passara 
num concurso para procurador, também do INPS (INSS). 
Assim, o poema continua inédito até agora. 

O soneto encara o fato como nós, espíritas, o entendemos: 
O nascituro é um espírito que, como todos nós, tem planos, 
sonhos e perspectivas várias para a futura reencarnação. 
E tudo se esboroa devido à decisão dos ex-futuros pais. 

Algumas vezes (muitas vezes?) a decisão é tomada por causa 
de um 'excesso de zelo', em que os pais pensam em poupar 
aquele ser de uma vida de agruras e sofrimentos, mormente, 
devido à precária situação econômica desses mesmos pais. 

Isso pode se comparar, para melhor visualização, a passar 
toda a vida escolar se preparando, e não passar naquela prova 
que lhe facultaria a profissão sonhada ou o emprego desejado! 
Frustração sem tamanho, não! 
Vejam o que falei sobre esse drama:  

MISERERE 
tesco
(1977.08.25)

Não lhe trouxeram as flores prometidas; 
Não lhe deram as chaves da liberdade; 
Não colheu os frutos da fraternidade,  
Porque não o deram às águas da vida. 

Não o deixaram optar pela ferida.  
Nem sofrer açoites de enfermidade.  
Não saberia o que é uma maldade,  
E foi embora levando alma dorida. 

Por pensar no infortúnio de viver.  
E para não deixá-lo entristecer, 
O fizeram mais triste e magoado.  

Sem contar com um sonho esfarrapado,  
Lhe traçaram um destino desgraçado, 
Uma amarga desventura: Não nascer! 

   ***   ***   ***   

Acresce ainda que nada na espiritualidade é feito ao acaso, 
tudo é medido, pesado e planejado. Os corpos físicos são feitos 
'sob medida' para os espíritos, tudo é adequado de acordo 
com as experiências que estes devem passar. 

O aborto faz desperdiçar toda essa preparação que é feita com 
todo carinho e toda a precisão. O atraso não é somente do ser 
que deveria reencarnar, mas de todos os envolvidos. 

Por isso, esse título "Miserere' não é adeqado somente para um, 
mas para vários espíritos: Senhor, tende misericórdia de nós! 

Abraço do tesco. 

4 comentários:

Shirley Brunelli disse...

Soneto maravilhoso, tesco, perfeito,
você disse o que precisava dizer. Foi tirada a oportunidade que esse espírito tinha, de evoluir, fosse através de sofrimentos ou nem tanto.
É reencarnando, durante milênios, que se limpa a "túnica nupcial" para
participar do "Festim de Bodas"...
Kisojn, fratino!

Dorli Ramos disse...

Oi tesco,
Eu já fui em algumas sessões espíritas, e num segundo estavam todos no chão e como a cidade é pequena nos conhecemos. São na sua maioria as piores pessoas, uma delas era uma mulher que estava de "casinho" com meu filho que disse que não moraria do lado da minha casa, pois é outra que tenho. Acabei com o namoro. Sabe que disse ao tontão culto do meu filho? Se quiser casar com essa mulher vou vender a casa, aí você vai ter que ralar para tratar da v.......
Me explique, nem me conhecia direito.
Quer mordomia ? Vai trabalhar. Eu fiz 15 concursos públicos e nunca fui reprovada, mas não ficava andando de moto com o bundão arrebitado.
Estudava até de madrugada e no outro dia correr para levar meu filho à escola e ir trabalhar e nunca perdi um dia de serviço que ao todo foram 39 anos.
Beijos
Dorli

tesco disse...

Querida Dorli, o Espiritismo é uma DOUTRINA e, como tal
tem que ser estudada (principalmente em livros) para ser
devidamente entendida. Não é uma 'sessão' que vai ensinar
integralmente o que é Espiritismo.
Além disso, sessões ditas espíritas existem em todo lugar,
o que não significa que é realmente uma sessão espírita.
Torna-se necessário que seja uma reunião de pessoas idôneas
(os dirigentes da sessão) e dotadas de boa vontade.
"Nem tudo que reluz é ouro", já ensina o provérbio.
Beijos.

Denise Carreiro disse...

Esta é uma visão materialista: não deixar nascer para não passar por necessidades materiais. Quando compreendermos que somos espíritos eternos, necessitados de experiências na carne, esta triste realidade não mais existirá. Muita paz!