terça-feira, 14 de outubro de 2014
HUMOR NO ESPAÇO
O leitor de ficção científica está acostumado a se deparar
com descrições de cenas de perigo, estranheza, bizarrice,
perplexidade, ódio, amor, sentimentos confusos, e muita
coisa mais. Entre estes 'mais' está o humor.
Sim, o humor está presente em numerosos textos da
ficção científica. Alguns autores, como Douglas Adams,
por exemplo, que escreveu a série do "Mochileiro das
Galáxias", extrapola em muito o senso comum das coisas,
e seu humor não me comove. Num estilo semelhante, veio
Marc Laidlaw com "A usina nuclear do papai". Não consegui
ver um bom argumento nessas obras. Os gostos variam,
não é mesmo?
Autores como Arthur C. Clarke, muito compenetrados do
entrelaçamento da ciência com a ficção, não dão muita
trela pra humorismo. Já Ray Bradbury tem sentimentos
mais leves, porém tende a derivar para a fantasia e para
a poesia. Isaac Asimov, porém, sempre deixava frestas
para escapadelas humorísticas. Costumava mesmo fazer
apresentações de seus contos com piadinhas.
Das séries televisivas, "Perdidos no espaço", tinha no
Dr. Smith, interpretado por Jonathan Harris, uma piada
permanente. E uma das séries mais amadas (e idolatradas)
no mundo, "Star trek", tem momentos de humor, com seu
trio central: Kirk, McCoy e Spock.
Desta série, não na clássica, mas em "A nova geração",
trago uma mostra do que rola nestas tramas. Não sei se
se trata de um episódio exibido, apenas leio como outra
qualquer obra de FC. É um trecho do capítulo oito de
“Cemitério espacial”, escrito por A. C. Crispin, para "Star
Trek, A nova geração".
Nesta cena, a vulcana Selar conversa com a Drª Beverly
no consultório dela, sobre um problema particular com
sua família vulcana:
"— É porque minha família me considera uma... — Ela
pensou um momento. — Acho que na sua língua vocês
dizem uma 'cabra negra'.
— Ovelha — corrigiu Beverly, esforçando-se para não
sorrir.
— Obrigada. Eu não me casei com o homem que foi
escolhido para mim, e minha família não ficou muito
satisfeita com isso. Eles nunca esquecerão minha
transgressão, minha quebra da tradição. Toda semana
recebo uma comunicação deles, e quase nunca deixam de
lembrar-me de minha desgraça e de quão bem sucedido
meu ex-prometido se tornou.
Ela suspirou. — Foi um imenso alívio para mim quando
Sukat finalmente se casou, pois pelo menos não tive mais
que ouvi-los dizer que talvez ainda não fosse tarde, se eu
apenas voltasse para Vulcano e me humilhasse diante dele,
quem sabe ele me faria a imensa honra de aceitar-me de
volta.
Beverly sacudiu a cabeça, compreensiva. — Posso imaginar.
Famílias... — fez uma careta. — Eu tenho... tive um tio que
tinha uma língua muito ferina, e a pior coisa que... — ela
interrompeu a frase e sacudiu a cabeça. — Bem, é uma
longa história, mas sei o que quer dizer. Podemos escolher
os amigos, mas os parentes... estamos presos a eles.
— É verdade — disse Selar, com igual ironia. — Já é ruim o
bastante receber essas indiretas a parsecs de distância,
mas como seria morar no mesmo planeta que meus
parentes?
— Parece-me que você terá que dizer-lhes que a deixem
em paz — disse Beverly. — Se você deixar bem claro que
não deseja ouvir... indiretas, talvez eles acabem parando
com isso. Pois afinal de contas, você não é mais uma
garotinha que acabou de sair da escola. Estará voltando
como uma profissional reconhecida em seu campo.
Selar assentiu com a cabeça, como se não tivesse pensado
nisso naqueles termos. — Eu poderia deixar bem claro que
somente me casaria com alguém de minha escolha — disse
ela.
— É claro! Se fizerem escândalo a esse respeito, peça-lhes
que escrevam suas reclamações num papel, dobre-o e
mande que o enfiem num lugar que nunca toma sol —
sugeriu a médica chefe, com um brilho nos olhos.
— Um lugar que nunca toma sol... — Selar deixou a frase
no ar, quando compreendeu a metáfora. — É um excelente
conselho, doutora — disse ela, impassível.
— Não vou cobrar nada por ele — disse Crusher,
imitando-lhe a seriedade."
* * *
É esse o humor que aprecio nas minhas leituras, não tem
que ser nada espalhafatoso, nada mórbido, nada icorreto.
Esses pequenos detalhes nos dão ânimo renovado para a
continuidade da leitura. E assim chegamos ao final da
aventura. Final feliz, sem ter que enfiar nada, num lugar
que nunca toma sol.
Abraço do tesco.
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2 comentários:
Hehehe...Não encontrou, tesco, um desfecho mais bonito e romântico para a sua crônica?...
Bem, não gosto muito de ficção, mas, foi bom ler o seu texto.
Beijos!
é tesco...vamos ao final? srsrsr
hiscla
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