TRADUTOR

English French German Spain Italian Dutch Russian Portuguese Japanese Korean Arabic Chinese Simplified

segunda-feira, 6 de outubro de 2014

DICCIONARIO DE JOÃO FERNANDES


Revendo verbetes extraídos do "Diccionário de João 
Fernandes" (sei lá quem era esse gajo),  de Francisco Gomes 
de Amorim, publicado em 1878, vejo conceitos que estão 
espantosamente (ou não? A humanidade continua a mesma 
pasmaceira!) atuais. Não todos os verbetes, óbviamente, 
para uma obra que se pretende humorística o tempo é 
inexorável. 

Desse primeiro verbete puxei apenas um trechinho, que 
deve ter como causa primária a implantação da educação 
obrigatória para crianças em Portugal. 

"ANALPHABETO 
O mais feliz dos entes. Perdôem os partidistas da instrucção 
a todo o transe. Antes de se pensar na escola seria util dar 
pão aos que se pretendem obrigar a frequental-a. Crear-lhes, 
em vez disso, necessidades que traz a educação, sem lhes 
proporcionar os meios de as satisfazer, não é beneficial-os, 
é pervertel-os." 

O conceito é pertinente, porque é muito comum se usar o 
velho ditado de que "não se deve dar o peixe, mas ensinar 
a pescar", quando o primordial é satisfazer as necessidades 
básicas da pessoa. A instrução pode vir depois, "primeiro o 
primeiro". 

"ATHEU 
Innovador da peior especie. Crê que as machinas precisam 
de  que alguem lhes dê impulso para poderem andar, e 
duvida de que o universo tenha um regulador supremo! 
Senhor, Senhor! Para quem creaste a palha?!" 

Raciocínio simples e que me deixa com a mesma dúvida do 
"diccionarista". 

"BENEFICIO (RECEBIDO) 
Serviço de que nos esquecemos para não humilhar quem 
nol-o fez. 
Oh! humanidade... Quem não te conhecer que te compre, 
e verá a prenda que leva!" 

Belo motivo, não? "Para não humilhar". E tem gente que 
parece pensar assim mesmo. 

"CACETADA
Um dos modos de exprimir o pensamento." 

É, não deixa de ser. Tem muita gente que só sabe pensar 
desse modo. Algumas crianças crescem, outras não. 

"CURA 
(DE ENFERMIDADE) 
-Não accusem os medicos, que estão innocentes. 
Foi sem elles quererem. 
(DE ALMAS) 
-Pastor. Alguns não desgostam de comer a sua ovelha; 
outros contentam-se em cardal-as." 

Ambas as acepções muito acertadas. Os médicos, de modo 
algum, querem que morram suas "galinhas dos ovos de 
ouro", mas acontece, fazer o quê? E os pastores... Ah, os 
pastores! E Amorim nem conhecia os pastores atuais. 

"DINHEIRO 
-O povo diz que quem furta pouco é ladrão, 
e que a quem furta muito o fazem barão." 

Bem, não é de hoje. O povo sabe o que diz. 

"DIREITO 
Um revolver puxado a tempo." 

Não é, mas está bem posto. 

"ORTHOGRAPHIA (PORTUGUEZA) 
-Reminiscencia da torre de Babel." 

Volta e meia os "Doutos" dão uma saculejadazinha pra 
bagunçar mais nosso coreto. Quando começamos a os 
acostumar com algum modo de escrever... 

"RIQUEZA 
-Rico piano em casa de pessoas que não sabem tocar!" 

Verdade retumbante, infelizmente. Os ricos que sabem 
administrar bem os recursos que a Providência lhes põe 
nas mãos são muito raros. Normalmente pensam que 
"garantir o futuro" é o melhor que podem fazer, e sempre 
se esquecem dos menos favorecidos. Nem se lembram da 
parábola do rico insensato, com que Jesus nos instruiu 
(Lucas 12:20-21): 
"Mas Deus lhe disse: Louco! esta noite te pedirão a tua 
alma; e o que tens preparado, para quem será? 
Assim é aquele que para si ajunta tesouros, e não é rico 
para com Deus." 

"RUMINANTE 
-Animal que remoe muitas vezes a mesma comida. 
Exemplos: o boi, o romancista, o compositor de musica, 
etc.." 

E entre estes os músicos baianos parecem ruminar mais. 

"TENTAÇÕES 
-Para o china, opio; 
para o indiano, betel; 
para o turco, café; 
para o japonez, rasgar a barriga; 
para o inglez, vinho do Porto; 
para o francez, cancan; 
para o italiano, macaroni; 
para o hespanhol, touros; 
para o allemão, cerveja; 
para o arabe, cavallos; 
para o norte-americano, excentricidade; 
para o brazileiro, Paris; 
para o portuguez, Brazil." 

Aqui o desgaste do tempo foi maior, pois o verbete ainda 
reflete a época em que os ingleses faziam descarregar a 
produção de ópio da Índia, então sua colônia, na 
maltratada China. Mas o hábito de mascar noz de areca 
misturada com folhas de bétele e tabaco parece ter 
continuidade na Índia. A noz de areca contém alcalóides 
de efeitos comparáveis às da nicotina e são nocivos à 
saúde. Legítima tentação. 

O café, praticamente, não tem mais relação com os turcos, 
tendo se tornado hábito (muitas vezes vício) mundial. Mas 
a tentação de rasgar a própria barriga continua "coisa de 
japonês", embora muito atenuada. Talvez os japoneses 
tenham  aderido ao habito mundial de rasgar a barriga 
dos outros. 

Não tenho a menor ideia do consumo de vinho do porto 
pelos "inglezes" e não acredito que o cancan exerça o 
antigo fascínio sobre os franceses, que já exportaram 
o "menage a trois" e já devem estar extenuados com o 
"menage a quatre" ou coisas desse tipo. Porém, sobre o 
macaroni tenho certeza que continua engordando os 
italianos e avança engordando os brasileiros. 

Os "hespanhois" largaram os touros e estão se dedicando 
a assistir argentinos, brasileiros e portugueses em seus 
campos de futebol. As arenas estão menos sangrentas. 
E o alemão continua bebendo sua cerveja. 

Não sei mais qual é a relação dos árabes com os cavalos, 
pois eles tem petróleo e podem comprar muitos cavalos 
nos motores de picapes e automóveis caros. Agora, bons 
tempos em que os norte-americanos tinham excentricidade 
como tentação! Hoje não podem ouvir falar em guerra, ou 
saber de algum lugar em que haja violência. Estão mais 
ávidos que urubus vendo carniça! 

E o "brazileiro" mudou seu foco, a depender da situação 
econômico-social, claro, mas parece que o fulcro da 
tentação hoje é Miami! Quanto aos portuguses ficarem 
tentados a se mudar para o Brasil, creio que a tentação 
vestiu roupas novas após a crise de 2008 e aparece 
charmosa novamente. Tudo se recicla. 

   *   *   *   

Não necessariamente é obrigatório ler e ver coisas novas 
para ficar atualizadoo. Mais de 130 anos se passaram e o 
panorama não mudou em muita coisa. É por isso que digo 
e cada vez me convenço mais: Os velhos têm seu valor! 
Rerrerrerré!  

Abraço do tesco. 

2 comentários:

Denise Carreiro disse...

É interessante perceber o pouco que avançamos. Nos impressionamos com as invenções atuais, mas relendo essas definições de muitos anos atrás, vemos que não caminhamos nada. Para evoluir é preciso trabalho, coisa que não estamos dispostos a fazer. Muita paz!

Shirley Brunelli disse...

Então..."Não há nada de novo abaixo do sol, depois de Platão tudo é mera citação".
A gente aprende, lendo você.
Beijo!