quinta-feira, 16 de outubro de 2014
CONTRACANTO: LASCIATI
Em 2002 pensei em incluir o famoso verso de Dante, que
aparece no canto III, de "La Divina Commedia", em um
poema de autoria minha. Como naquela época eu somente
compunha (embora esparsamente) sonetos, seria em um
soneto que o incluiria.
Na obra original, o verso é a frase de advertência que se
encontra escrita acima do portão do inferno:
"Lasciati ogni speranza voi ch'entrate!". para incitar os
novos 'hóspedes' a largarem toda esperança de sair dali,
ou mesmo, de terem seus sofrimentos minorados.
Trata-se de uma frase supérflua, pois somente ali se entra
compulsoriamente. Os que procuram, voluntariamente,
ingresso no inferno, são apenas os personagens de piadas.
Na minha idealização, uma vez que minha mentalidade de
espírita não se coaduna com sofrimentos eternos, a vida
terrestre pode igualar-se à concepção do inferno clássico,
mas sendo provisória como é, torna-se, na verdade, um
purgatório.
Embora inferno seja, em essência, questão consciencial,
não, necessariamente, cessando com a morte do corpo
físico, o estado da mente pode ser alterado de maneira
substancial, a depender das ações exercidas na existência
que então findou.
O soneto assim foi elaborado:
LASCIATI
yesco (2002.24.07)
"Que salvação tem valor se não me segues?
Qual a evolução se não me alcanças?
Como vou viver então sem esperanças
Que migalhas de amor tu não me negues?
Se o mesmo ideal tu não persegues,
Se passares esta vida qual crianças
Enredando-se sempre em negras tranças,
E se te alçar à luz tu não consegues.
Embora não se aquilate seu valor,
Sem o ideal de paz e amor eternos,
É inútil e é vão todo combate.
Nesta vida de agruras, sem amor,
Neste mundo de horror, penas, infernos,
“Lasciati ogni speranza voi ch'entrate!"."
* * *
Pode-se dizer que é um soneto extremamente pessimista.
Mas não. Não se está comparando a vida a um inferno, esta
equiparação está condicionada ao fator "sem amor", que
foi posto ali no 12º verso. As palavras não foram até ali
apenas para rimar, estão dizendo que sem esse elemento,
o amor, pode-se tirar o cavalinho da chuva, pois a vida
será uma...negação!
Mesmo sendo consideração de autor, o soneto não foi mau
construído, e o verso do grande florentino não está "solto
na buraqueira", coroa um pensamento coerente.
Já a beleza e a poesia de um poema são sensações muito
subjetivas e, talvez por isso, este soneto não obteve a
mínima referência no concurso interno da Petrobrás, para
poesia, contos e outras modalidades de arte, o "Prata da
Casa", em 2005, quando o inscrevi.
Fazer o quê? Resignar-se, claro. Se não se pode fazer os
outros pensarem como nós, muito menos, sentirem como
nós. O respeito ao pensamento e sentimento alheios é
fundamental!
Abraço do tesco.
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3 comentários:
Nunca me esqueço que, há uns vinte anos, esteve aqui no Organismo Afiliado Rosacruz-AMORC, um palestrante de Brasília. Fez uma palestra no Teatro Municipal da cidade, sobre A Divina Comédia. Foi muito esclarecedora, maravilhosa, empolgante...
Mas, não achei pessimista o seu soneto, tesco, e sim, bastante profundo.
Quanto ao fato de não ser classificado no concurso, há muito percebi, que os de pior qualidade é que ganham sempre, não sei porquê.
Beijos!
A vida sem amor não tem sentido, afinal, Jesus veio ao mundo para nos ensinar a amar. E o amor não significa endereçá-lo ao companheiro, e sim, o amor universal.
Quanto ao concurso, as vezes a cabeça do juiz não alcança a profundidade da do compositor. Se é que isso te serve de consolo! Muita paz!
Tesco...
lindinho demais...
mas será que quem esta vivendo isso tem mesmo "paz", "deleite"?
hiscla
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