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domingo, 23 de junho de 2013

BOBAGENS LINGUÍSTICAS-16

DESORDEM?

O temor, expressado por leitores, como Yvonne e Hiscla,
de que uma flexibilização maior das regras da linguagem
levem à desordem e à bagunça geral (comentários em
Bobagens linguísticas-7 e Bobagens linguísticas-8 ),
fazem-me lembrar da Pedagogia do oprimido, de Paulo Freire:

Na introdução, que tem por título "Primeiras palavras",
ele diz:
"Não são raras as vezes em que participantes destes
cursos  numa atitude em que manifestam o seu “medo
da liberdade” se referem ao que chamam de “perigo da
consciência crítica (dizem:)  é anárquica” Ao que outros
acrescentam:
‘Não poderá a consciência critica conduzir à desordem?"

Pois é. É uma reação natural. Não gostamos e tememos
qualquer alteração na ordem já estabelecida e à qual nos
acostumamos. Mas devemos nos lembrar que essa era
também a reação dos escravocratas que não queriam, de
nenhum modo, a abolição da escravatura; e a dos homens
que não admitiam que mulher pudesse votar; e também a
reação do clero católico que, ainda hoje, não admite que
mulher possa, como eles, "intermediar" o encontro da
humanidade com Deus. 

Nós, quando conservadores, antes de qualquer mudança,
já advertimos logo:
- Isso vai bagunçar tudo, não é viável!

Creio que não deve ser assim. Temos de flexibilizar,
mesmo não gostando dos resultados, quando a massa
dos favoráveis se torna grande.

Não incluo aqui todos os 'dilemas' ético-morais.
Algumas posições não admitem flexibilização.
Como exemplo, posso falar do aborto, argumentem
quanto quiserem, que "a mulher é dona do seu corpo",
que uma "gravidez indesejada acarreta traumas
psicológicos para todos, inclusive as crianças", creio
que sempre considerarei o aborto como um crime.

Mas, quanto a linguagem: "Qualé, ô mané?
Tás de bobeira!"

Ademais, as mudanças terão o efeito do 'slogan'
do Tiririca: "Pior do que tá, não fica!".


PLEONASMO DE NOVO

Fico muito intrigado com isso que é denominado
'pleonasmo' pelos gramáticos. Já falei disso noutros posts,
mas não me conformo, e torno a falar.

Por que somente os pleonasmos impostos pelos
gramáticos podem passear incólumes no cenário das
letras nacionais?

Por que pronomes e formas verbais exclusivas para as
pessoas podem e devem conviver na mesma frase?

Por que os plurais devem ser enunciados mais de
uma vez?

Por que a tal da 'concordância' só não concorda com
o povo? 

Esta ditadura um dia tem que acabar!

Não sei exatamente a procedência, mas normalmente
creditam a maioria das orientações que circulam pela
internet, ao Pasquale de Cipro Neto.

Por exemplo, que não se deve dizer ou escrever coisas
como: 
- acabamento final
- certeza absoluta
- quantia exata
- expressamente proibido
- de sua livre escolha
- exceder em muito .
- multidão de pessoas


Pelo meu modesto ponto de vista (sim, sou um gênio,
mas não precisa espalhar), não existe pleonasmo
nesses termos:

- Nem todo acabamento é o final de alguma coisa.
Como exemplo temos a "vernissage", exposição de
telas de um artista, onde ele pode dar uns retoques
nas telas, teoricamente concluídas, portanto, já
com "acabamento";

- A certeza que tem uma pessoa, pode vacilar com
os primeiros questionamentos:
- Você tem certeza absoluta disto?
- Bem, certeza eu tenho, mas certeza, certeza
mesmo, certeza absoluta, aí...

- Segundo o Aulete, quantia é uma "importância,
soma", o que não implica uma quantidade fixa,
tanto que existe a expressão "determinada quantia".
Se não é fixa, obviamente, pode coincidir com uma
quantidade pré-fixada, um preço, digamos, aí então
passa a ser uma quantia exata. Cadê o pleonasmo?

- Proibidas são muitas coisas (e "demais da conta"
na verdade), mas isso não quer dizer que todas as
proibições sejam obedecidas. Apenas porque seja
proibido não significa nada pra muita gente, agora,
sendo "expressamente proibido", já coibe mais, faz
meditar sobre uma possível punição mais rigorosa.

- Nem toda escolha é livre, ela pode ser restrita por
muitos fatores:
- pode-se escolher "por livre e espontânea pressão",
mormente os que forem empregados;
- o sistema de assistência médica da Petrobrás tem
as opções de "Livre Escolha" e "Escolha Dirigida";
- o Presidente da República escolhe um juiz para o
STF, desde que esteja na lista tríplice, que lhe é
apresentada;
- nós, eleitores, escolhemos, à vontade, o candidato
em quem votar, mas os partdos já escolheram antes
que candidatos se apresentam.
Sendo a maioria de nossas escolhas restritas, não
se pode ver pleonasmo em "livre escolha".

 - se excedeu, fica claro que passou da conta, mas
por quanto foi isso, não está explícito em "exceder".
Pode ser por 0,01 % ou por 90%, e isso é
relevante em termos de previsão eleitoral, por
exemplo. Não há nem resquício de pleonasmo aí. 

- a primeira acepção de 'multidão' no Aulete é:
Grande quantidade de pessoas, animais ou coisas.
Automaticamente, portanto, excluindo 'multidão de
pessoas" de qualquer lista de pleonasmos.

Não seria ótimo que esses que fazem questão de
corrigir o próximo, se não querem se adequar à
atualidade, pelo menos fizessem uma visitinha ao
dicionário mais próximo?


DIÁLOGO

- Você é de Cingapura?
- Não.
- De Anarajapura?
- Não.
- De Majpura?
- Também não.
- De onde é, então?
- Belezapura!
- Ah, você é viajado!

Abraço do tesco.

2 comentários:

Anônimo disse...

Tesco, você é um gênio mesmo. Gostei e não tenho nada a criticar.
Beijotescas

Anônimo disse...

Pois Tesco, quanto mais estudo o estruturalismo de Foucault mais me encanto com os mistérios escondidos na linguagem e nos discursos. A capacidade humana é fantástica!

Veja: tenho tido problemas com a editora Abril que desde fevereiro não entregam Piauí. A editora as revistas de fevereiro a junho no final, no vencimento da assinatura.
Porém, ao enviarem um email descrevendo o acordo, a aditora disse:

"que estaria em compensando no final da assinatura" e, além disse escreviam de forma que quem lesse entenderia que eu havia proposto isso à editora. Pedi revisão da escrita:
- É ressarcimento e não compensação
- É uma proposta que partiu da editora para resolver or problema da entrega e não o contrário (como induzem).
-
Tesco, esses cuidados e eu não tive com a tv claro quando aceitei uma promoção para HBO, e agora me enviaram uma fatura de 75,00 onde eu pagava apenas 45,00. Reclamei enviaram a gravação onde eu aceitava a promoção.Tenho agora que pagar uma multa de 200,00 para a claro ou pagar 12x75.
Tudo isso pq nao tive os cuidados com as palavras, com o discurso de indução e captura de cliente.

Essas coisas, que também acontecem na vida privada, e que fazem uma interface com a semiótica é que me deixam "encantada" (nesse caso endividada com a claro e abril).



A capacidade de articular a língua a nosso favor ou não é mesmo um dom!É o discurso.

hiscla